Assim como este Blog avisou, durante anos, que um golpe sobreviria para interromper ascensão social dos brasileiros e assim como avisou que as “jornadas de junho” teriam consequências desastrosas, agora está avisando que uma rebelião resultará do golpe e não ocorrerá por vingança dos que estão sendo apeados ilegalmente do poder, mas porque o povo não vai aceitar retrocessos.
“Alea jacta est” (A sorte está lançada)
Por Eduardo Guimarães
Em 49 Antes de Cristo (ac), o ditador romano Caio Júlio César
atravessou o rio Rubicão, uma fronteira natural que separava a Gália
Cisalpina da Itália. O Senado Romano proibira que o exército do Império
transpusesse a fronteira. Ao transgredir a ordem, Júlio César violou a
lei e declarou guerra ao Senado. No instante em que atravessou o
Rubicão, exclamou frase em dialeto local traduzida em latim popular como
“Alea jacta est” (A sorte está lançada).
Ao cruzar o rio Rubicão com suas legiões, entrando armado na Itália,
Caio Júlio César precipitou uma violenta guerra civil. Por essa razão, a
expressão “atravessar o Rubicão” tornou-se sinônimo de tomada de
decisão cujos resultados podem ser imprevisíveis, ou melhor, cujos
resultados são previsivelmente perigosos, desconhecendo-se, porém, até
que ponto.
Ao longo de meses a fio, foram feitos incontáveis alertas ao grupo
político que está conduzindo a derrubada do governo Dilma Rousseff com o
objetivo óbvio e primordial de fazer cessar a Operação Lava Jato, que,
apesar de vitimar o PT, está levando consigo gente de praticamente todos
os partidos da base aliada.
Apesar de partidos de oposição como PSDB e DEM estarem sendo
preservados pela Lava Jato e pelo Ministério Público, a investida da
Lava Jato contra partidos aliados do governo Dilma Rousseff atingiu o
que parece ser o único objetivo da Operação: derrubar a presidente da
República.
A Lava Jato e os setores do MP que trabalham pela ruptura
institucional decorrente da derrubada da presidente ao oferecerem
factoides aos golpistas, com seus vazamentos seletivos, sabem
perfeitamente que o governo que resultará do impeachment terá como
primeira medida desmontar a Operação. Afinal, o presidente de facto e
seu vice seriam, ambos, investigados pela Operação.
O mundo inteiro já sabe que o Legislativo brasileiro está para tirar
do poder uma presidente contra quem não pesa uma única acusação de crime
para colocar um presidente e um vice acusados e investigados por
corrupção, inclusive com provas materiais.
A incerteza jurídica que se abaterá sobre um país que tira uma
governante honesta e coloca dois picaretas investigados e processados em
seu lugar terá repercussões imensas na vida econômica do país. Vá lá
que os golpistas e seus apoiadores estejam pouco se lixando para a
democracia, mas quem apoia o golpe ingenuamente irá descobrir que país
sem democracia não é atraente para os negócios.
Se o golpe vingar, portanto, sobrevirá uma era de incertezas e de choques violentos na sociedade.
Claro que o Brasil não deixará de existir após uma eventual derrubada
do governo. E que ninguém vai querer ver o país afundar só para se
vingar dos golpistas. Não haveria sentido. Eu e você podemos não querer o
golpe, mas tampouco haveremos de querer que o país afunde porque
vivemos nele e o que nele ocorrer nos afetará a todos.
Porém, o que iria convulsionar o país e afundá-lo econômica e
institucionalmente seria a forma como os golpistas iriam governá-lo se o
golpe passasse. O desmonte de políticas públicas que tanto melhoraram a
distribuição de renda e o nível de pobreza é um dos objetivos dos
golpistas. E esse desmonte irá ocorrer.
De início, o desmonte do Estado de Bem Estar social edificado ao
longo da era petista será levado a cabo timidamente. Com o passar do
tempo, o ritmo será acelerado.
Privatizações serão retomadas, pré-sal e Petrobrás à frente.
Políticas públicas como cotas étnicas nas universidades, por exemplo,
serão extintas rapidamente. Outras como Fies, Bolsa Família e Minha
Casa, Minha Vida irão sendo desidratadas mais lentamente, mas a ideia
central do golpe, além de suspender a ameaça à corrupção, é fazer o país
parar de gastar dinheiro com pobre.
Tudo isso irá gerar um conflito social imenso, de proporções e
intensidade imprevisíveis. Após mais de uma década melhorando de vida
ano a ano,a maioria pobre dos brasileiros descobrirá que cometeu um erro
imenso ao condescender com o golpe.
Não existe hipótese de o país não voltar a melhorar ano a ano como
ocorreu durante 11 dos 13 anos de governos petistas e o país se
conformar.
Assim como este Blog avisou, durante anos, que um golpe sobreviria
para interromper ascensão social dos brasileiros e assim como avisou que
as “jornadas de junho” teriam consequências desastrosas, agora está
avisando que uma rebelião resultará do golpe e não ocorrerá por vingança
dos que estão sendo apeados ilegalmente do poder, mas porque o povo não
vai aceitar retrocessos.
Os programas sociais nunca mais serão os mesmos, se houver golpe. A
direita dirá ao povo que não há mais melhora acentuada do social porque
os programas petistas eram “inviáveis” e levaram o país à bancarrota,
mas, aos poucos, o povo irá despertar da embriaguez em que foi atirado e
se dará conta de que dos 13 anos de PT, durante 11 o país melhorou.
Nem precisa dizer mais nada.
A interrupção do governo Dilma, de certa forma, favoreceria Lula. A
convulsão social que se instalaria no país um minuto após o golpe faria o
Brasil chegar a 2018 em situação igual ou pior que a de hoje. E as
pessoas começarão a lembrar que só melhoraram de vida enquanto Lula
esteve no poder.
Claro que tentarão prender o ex-presidente para evitar que se
candidate, mas se o fizerem vão desencadear uma guerra civil neste país.
Estamos falando de um ato ditatorial. É impensável que prendam o maior
líder político brasileiro (vide a última pesquisa Datafolha) e todos se
conformem.
Eis por que a comparação com a transposição do rio Rubicão é
perfeita. Se a Câmara dos Deputados entoar seu “Alea jacta est” e cruzar
essa linha invisível, estará colocando o país em uma aventura cujas
consequências nefastas só não são totalmente previsíveis porque serão
muitas.
A oposição tem todas as chances de chegar a 2018 e vencer
legitimamente a eleição presidencial. Seria o melhor caminho para o
Brasil.
Dificilmente haverá plena recuperação da economia nos próximos dois
anos e meio, então a eleição de 2018 será bastante renhida, com certa
dose de favoritismo para os opositores de Dilma Rousseff e do PT. Que a
direita opte pela democracia e aposte no próprio taco. Se não o fizer,
não haverá volta no caminho que terá começado a trilhar. Ninguém sabe
quem ganhará e quem perderá em um país em guerra civil.
Fonte Blog da Cidadania
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