Não há como fugir da constatação de que nossas instituições são uma droga. Não fossem, não estaríamos assistindo agora a um assalto à luz do sol de mais de 54 milhões de votos.
Por Paulo Nogueira
Uma das descobertas mais doídas desta crise: as instituições brasileiras são uma droga.
Marcelo Rubens Paiva usou uma palavra mais precisa: uma “merda”. Isso
depois que o eminente juiz Dias Toffoli, numa das sentenças mais
estúpidas destes tempos, afirmou que falar em golpe era “ofender” as
instituições nacionais.
Como qualquer coisa, instituições não são algo abstrato. Elas são a
soma de pessoas. Em meus dias de jornalismo de negócios, jamais esqueci
uma frase de um mestre em administração. “As empresas não são mais e nem
menos do que a soma das pessoas que as compõem.”
Isso quer dizer: uma empresa é inovadora se as pessoas que trabalham
nela são inovadoras. Uma empresa é íntegra e transparente se as pessoas
que trabalham nelas são íntegras e transparentes. E uma empresa é
corrupta se as pessoas que trabalham nela são corruptas.
A mesma regra se aplica à perfeição para as instituições. Elas não
são nem mais e nem menos do que a soma das pessoas que as compõem.
Examinemos as instituições brasileiras. Tivemos a chance de conhecê-las em profundidade, por conta da presente crise.
Comecemos pela Câmara. A melhor expressão dela se deu na tragicômica
sessão em que os deputados federais aprovaram o impeachment, sob o
comando de Eduardo Cunha.
Droga é uma palavra amena para descrever a Câmara. O Brasil
virou piada mundial graças aos deputados. “Pela primeira vez na vida
senti vergonha de ser brasileiro”, disse Dráusio Varella.
Passemos agora ao Senado. É onde você encontra, ou deveria encontrar,
figuras como Aécio e Zezé Perrella. Aécio é aquele homem que construiu
uma pista particular com dinheiro público em Minas. É também a
personagem central no esquema de propinas de Furnas. É ainda um homem
tão sem caráter que não hesitou, quando governador, em carrear dinheiro
público em anúncios para as rádios da família.
Perrella é o dono do helicóptero em que foi encontrada meia tonelada
de base de cocaína. A ficha de Perrella, amigo do peito e de time de
Aécio, já era suja por negócios obscuros relativas a vendas de jogadores
quando era presidente do Cruzeiro.
Perrella, numa prova incontestável da fragilidade das instituições, escapou impune do caso do helicoca.
A mesma Polícia Federal que fez tanto barulho em torno de pedalinhos se
reduziu a um silêncio colossal diante de doses industriais de cocaína.
Também a Polícia Federal não passa no teste das instituições, portanto.
Vamos agora aos pomposos senhores de capa que se homiziam na Suprema
Corte. É impossível respeitar uma corte em que esteja alguém como Gilmar
Mendes, um juiz dedicado a fazer política e não Justiça.
O bom juiz é aquele que você não sabe como vai votar. Imparcial, ele decide pelos melhores argumentos que avalia a cada caso.
Gilmar é o oposto. Você sabe exatamente como ele vai votar. A
plutocracia tem nele um aliado de todas as horas e de todas as causas.
Os progressistas sabem que Gilmar sempre estará contra eles.
Consideremos, agora, Teori, uma figura chave no golpe que se iniciou
quando Eduardo Cunha aceitou um pedido de impeachment para se vingar do
PT, que não lhe deu a cobertura cobrada para evitar o risco de cassação
por múltiplos atos de corrupção.
Teori recebeu de Janot um pedido para que afastasse Cunha no dia 15
de dezembro de 2015. Só foi se mexer mais de quatro meses depois, quando
Cunha já pudera fazer tudo que seu extraordinário arsenal de trapaças
permite.
Teori alegou tempo. O pedido chegou, lembrou ele, às vésperas do
recesso judiciário. Segundo a lógica de Teori, os juízes não poderiam,
portanto, suspender suas importantíssimas férias diante de um caso que
trata da deposição de uma presidente da República.
O STF, como tudo, não é também nem mais nem menos do que a soma das
pessoas que o compõem. De Toffoli a Gilmar, de Celso de Mello a Fucs,
para não falar em Teori, o panorama é desolador.
Resta, ainda, a imprensa, no capítulo das instituições. Bem, as famílias Marinho, Civita e Frias falam por si sós.
Tudo isso posto, não há como fugir da constatação de que nossas
instituições são uma droga. Não fossem, não estaríamos assistindo agora a
um assalto à luz do sol de mais de 54 milhões de votos.
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