O
ex-governador José Roberto Arruda (PR-DF)
Por Bruna Borges
Do UOL, em Brasília
Do UOL, em Brasília
Políticos considerados "ficha-suja", ou seja, que já
foram condenados por tribunais superiores e não poderiam tentar se
eleger por causa da Lei da Ficha Limpa, continuam em campanha mesmo após
terem as candidaturas barradas pela Justiça e podem até tomar posse,
caso sejam eleitos.
Se enquadram nesta situação deputados federais como Paulo Maluf (PP-SP) e Jaqueline Roriz (PMN-DF), que tentam a reeleição. Um dos candidatos, o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda (PR), que tenta voltar ao governo, teve um dos recursos negado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) na tarde desta terça-feira (9).
O imbróglio acontece porque políticos que tiveram o registro de
candidatura negado pelos TREs (Tribunais Regionais Eleitorais) podem
manter a campanha enquanto estiverem recorrendo ao TSE (Tribunal
Superior Eleitoral) para tentar reverter a cassação.
O impasse
em torno dessas candidaturas pode ser resolvido apenas depois das
eleições e, dependendo, do entendimento do TSE ou do STF (Supremo
Tribunal Federal), novas eleições podem ser convocadas ou políticos
derrotados nas urnas podem garantir uma vaga no tapetão.
Veja, passo a passo, quais os procedimentos até que um candidato se torne totalmente inelegível:
Pela legislação eleitoral, não há prazo máximo para que o TSE julgue os
recursos -- daí o "limbo" jurídico que se forma. A ordem de julgamentos
é definida pelo presidente da Corte, ministro Dias Toffoli.
Para o advogado Luciano Santos, especialista em direito eleitoral e
membro do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral) -- um dos
formuladores da Lei da Ficha Limpa --, a norma está sendo aplicada
corretamente e "tem funcionado muito bem".
"Quando um candidato
'ficha-suja' mantém sua campanha e seu recurso é indeferido, ele faz
isso por sua conta e risco. Se ele vai até o final, prejudica o partido,
o processo político e a própria eleição", afirmou Santos.
O
advogado explica que o direito a recorrer é garantido pela legislação
brasileira, que permite que o candidato tente reverter as decisões de
cassação em instâncias superiores. Esses recursos já valiam para outros
casos de inegibilidade mesmo antes da aprovação da Lei da Ficha Limpa.
"É importante ressaltar o que essas impugnações provocam no eleitor,
pois levanta-se o debate sobre a necessidade de se ter a ficha limpa. É
um processo que não ocorre de um dia para o outro, mas vem melhorando",
defendeu Santos.
O TSE ainda não fez um balanço sobre quantos
recursos de cassação de registro com base na Ficha Limpa chegaram até o
tribunal. Também não confirmou se irá apresentar o número de recursos e
decisões julgadas até o final das eleições.
Os TREs têm até o
dia 21 deste mês para concluir os julgamentos de registro de
candidatura, então, novos casos de recursos ainda podem chegar ao TSE.
No final de agosto, o Ministério Público Eleitoral divulgou um balanço
parcial com os pedidos de impugnações com base na lei. Foram 497 ações,
sendo a rejeição das contas do candidato o motivo de maior incidência,
com 254 questionamentos de registros.
Os candidatos que estão
ameaçados de perder a candidatura, mas que aguardam recursos, podem
renunciar até 15 de setembro. Se o candidato for substituído, os dados e
a foto da urna serão atualizados a tempo do primeiro turno das
eleições, no dia 5 de outubro, conforme o TSE.
Também de acordo
com o TSE, não há restrições para que cônjuges assumam as candidaturas
de "fichas-sujas" que renunciaram. Neste caso, a mulher ou o marido do
candidato ou candidata "ficha-suja" precisa ser filiada ao partido que
tem direito à vaga e ser elegível, ou seja, não ser enquadrada nos
mecanismos barrados pela Lei da Ficha Limpa, por exemplo.
O
mecanismo já foi utilizado em eleições passadas. Em 2010, o
ex-governador do DF Joaquim Roriz (PRTB), que é "ficha-suja", colocou
sua mulher, Weslian Roriz (PRTB), no seu lugar da candidatura ao governo
do DF a nove dias do pleito. Apesar de experiência nenhuma com a
política e o pouco tempo de campanha, Weslian chegou ao segundo turno,
mas perdeu para o petista Agnelo Queiroz (PT).