O povo derrotou o golpe midiático e deu a vitória a Dilma. Agora o povo quer a democratização dos meios de comunicação, tarefa prioritária para o próximo governo. Até porque duvido muito que as forças progressistas vençam em 2018 se continuarem perdendo a batalha da comunicação.
Por Marcelo Salles (*)
Essas eleições entram para a História do Brasil como o momento mais
nítido em que as corporações de mídia tentaram impor sua vontade ao
povo. Mais do que em 1989, com a famosa edição do debate entre Lula e
Collor. Mais do que em 2006, quando o foco do debate foi deslocado para
pilhas de dinheiro expostas ad nauseam.
Em 2014 apostaram todas as fichas, e a contrário de outras vezes não o
fizeram veladamente. Assumiram seu papel de partido político de
oposição, conforme conclamou Judith Brito, diretora-superintendente do
Grupo Folha, vice-presidente da ANJ e colaboradora do Instituto
Millenium.
Faltando 11 dias para o segundo turno do pleito, os institutos de
pesquisa davam empate técnico entre os dois candidatos – Aécio Neves à
frente 2 pontos, dentro da margem de erro.
Como resposta, a militância de esquerda foi às ruas, os movimentos
sociais organizados reforçaram sua participação na campanha e a
candidata à reeleição partiu para o enfrentamento nos debates. O mote
era um só: comparar os governos tucanos e petistas, o que garantiu
vantagem a Lula e Dilma em praticamente todos os setores. Se o oponente
baixava o nível, a resposta vinha à altura.
Nos oito dias seguintes, Datafolha e Ibope registraram crescimento de
Dilma. No primeiro, de 49% para 53%; no Ibope, de 49% para 54%.
Enquanto isso, Aécio caiu de 51% para 46% (Ibope) e 51% a 47%
(Datafolha). Dilma encerrou a campanha com vantagem de 6 a 8 pontos de
vantagem, cenário praticamente impossível de ser invertido em 48 horas.
Aí surgiu a capa da revista Veja na sexta-feira, antevéspera do
pleito, acusando, sem provas, Lula e Dilma de terem conhecimento de
desvios na Petrobrás. De sexta até domingo a Veja atingiria algo entre
500 mil e 1 milhão de pessoas. A maioria das quais, no entanto, já
tinham o voto decidido para Aécio. A capa da veja, por si só, merecia o
repúdio na medida em que foi dado pela campanha do PT. A própria
presidenta Dilma usou parte do tempo de propaganda eleitoral para
denunciar a manobra da revista.
No entanto, foi o Jornal Nacional do sábado, véspera da eleição, o
grande responsável pela interferência na vontade popular. No primeiro
bloco, Dilma recebeu 5 minutos, com destaque no suposto medo de avião e
nos problemas com a voz. Enquanto Aécio teve direito a 5’55’’ a
apresentá-lo como alguém incansável, que trabalha durante o voo e
aparece com a esposa e os filhos no colo (“um cara família”). Em outro
trecho, as imagens saltadas em repetição durante comícios, com a
bandeira do Brasil nas costas, revelam, como num filme de ação, um homem
destemido que estaria preparado para conduzir o destino da Nação.
Logo no início do segundo bloco, o JN exibiu extensa reportagem sobre
a capa da Veja. Aí, o que era de conhecimento de até 1 milhão de
pessoas que já votariam Aécio, alcançou 30-40 milhões de pessoas, entre
os quais um sem número de indecisos. Isto na véspera do pleito, sem que
houvesse tempo para se organizar a estratégia de enfrentamento desse
verdadeiro crime midiático. Como resultado, a vantagem de 6-8 pontos de
Dilma caiu drasticamente, e quando terminou a apuração as urnas
sacramentaram 51,5% x 48,5%.
O povo derrotou o golpe midiático e deu a vitória a Dilma. Agora o
povo quer a democratização dos meios de comunicação, tarefa prioritária
para o próximo governo. Até porque duvido muito que as forças
progressistas vençam em 2018 se continuarem perdendo a batalha da
comunicação.
(*) Marcelo Salles é jornalista.
Fonte Vi o Mundo
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