As empresas jornalísticas brasileiras pregam o capitalismo, mas gostam mesmo é de cartório.
E julgam, pelo que escreveu a Veja, que até o final dos tempos estão aptas a receber o Bolsa Imprensa.
“O PT busca golpear as receitas publicitárias dos veículos de informação – o que poderia redundar, no futuro, no controle de conteúdo pelo governo.”
Está na Veja, e raras vezes ficou tão clara a dependência financeira e
mental que as grandes corporações jornalísticas têm do dinheiro público
expresso em publicidade federal.
Havia, naquela frase, uma alusão à decisão do governo de deixar de
veicular propaganda estatal na Veja, em consequência da capa criminosa
que a revista publicou às vésperas das eleições.
Era o mínimo que se poderia fazer diante da tentativa de golpe branco da Abril contra a democracia.
Mas a revista fala em “golpear as receitas publicitárias” da mídia corporativa.
A primeira pergunta é: as empresas consideram direito adquirido o
‘Bolsa Imprensa’, o torrencial dinheiro público que há muitos anos as
enriquece – e a seus donos – na forma de anúncios governamentais?
Outras perguntas decorrem desta primeira.
Que capitalismo é este defendido pelas empresas jornalísticas em que existe tamanha dependência do Estado e do dinheiro público?
Elas não se batem pelo Estado mínimo? Ou querem, como sempre tiveram, um Estado-babá?
Os manuais básicos de administração ensinam que você nunca deve depender de uma única coisa para a sobrevivência de seu negócio.
E no entanto as grandes empresas de comunicação simplesmente
quebrariam, ou virariam uma fração do que são, se o governo federal
deixasse de anunciar nelas.
Tamanha dependência explica o pânico que as assalta a cada eleição
presidencial, e também ajuda a entender as manobras que fazem para
eleger um candidato amigo.
Essa festa com o dinheiro público tem que acabar, e famílias como os
Marinhos e os Civitas têm que enfrentar um choque de capitalismo:
aprender a andar sem as muletas do dinheiro público.
Ou, caso não tenham competência para sobreviver num universo sem
favorecimentos, que quebrem. O mercado as substituirá por empresas mais
competitivas.
Não são apenas anúncios: são financiamentos a juros maternais em
bancos públicos, são compras de lotes de assinaturas de jornais e
revistas, são aquisições enormes de livros da Abril, da Globo etc.
Numa entrevista a quatro jornais, ontem, Dilma disse que o novo
governo vai olhar com “lupa” as despesas, para equilibrar as contas e
manter sob controle a inflação.
Não é necessária uma lupa para examinar as despesas com publicidade.
Entre 2003 e 2012, elas quase dobraram, segundo dados do Secom. De
cerca de 1 bilhão de reais, foram para as imediações de 2 bilhões ao
ano.
Apenas a Globo – com audiência em franca queda por causa da internet – recebeu 600 milhões de reais em 2012.
Um orçamento base zero, como os livros de gestão recomendam, evitaria
a inércia dos aumentos anuais do governo com esse tipo de despesa.
Murdoch, em seu império mundial de mídia, tem dependência zero de publicidade de governos.
Banco estatal nenhum financia seus empreendimentos, e por isso ele
quase quebrou na década de 1990 quando não conseguiu honrar os
empréstimos para ingressar na área de tevê por satélite.
Foi obrigado a se juntar a um rival em tevê por satélite. Só agora
Murdoch teve os meios para tentar comprar a outra parte, mas o governo
inglês negou por conta do escândalo do News of the World.
Ele se bate pelo capitalismo, e pratica o capitalismo.
As empresas jornalísticas brasileiras pregam o capitalismo, mas gostam mesmo é de cartório.
E julgam, pelo que escreveu a Veja, que até o final dos tempos estão aptas a receber o Bolsa Imprensa.
Saiba mais
Dilma: Regulação da mídia passa por monopólios
247 – Em entrevista concedida à mídia do Palácio do Planalto, presidente Dilma Rousseff encarou temas do que considera centrais de sua próxima gestão. Prometeu “reduzir gastos” e “apertar o controle da inflação”. Além disso, comentou a questão da regulação da mídia e de comparações de seu governo com o bolivarianismo.
Sobre a mídia, negou qualquer ideia de regulação de conteúdo, mas defendeu o que considera regulação econômica: "Eu defendo a liberdade de expressão e ela não é só liberdade de imprensa, mas é o direito de todo mundo que tiver uma opinião, mesmo que você não concorde com ela, ele tem direito de expressar. Tem direito de se expressar até contra a democracia. Outra coisa diferente é confundir isso aí com regulação econômica, que diz respeito a processo de monopólio ou oligopólios que pode ocorrer em qualquer setor econômico, onde se visa o lucro. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) está aí para isso em qualquer setor. Mas qualquer outro setor, como transportes, energia, petróleo... tem regulações e a mídia não pode ter? Estou falando sobre o que ocorre em muitos países do mundo. Centros democráticos. Ou alguém desconhece a regulação que existe nos Estados Unidos? Desconhece a regulação na Inglaterra? Do meu ponto de vista, é uma das mais duras. Estou dando dois exemplos de situações que não temos que ser iguais. Não quero para nós uma regulação tal qual a americana”, disse.
Segundo ela, a medida não visa a Rede Globo. “Ela está mais diluída. Não acho que a Rede Globo é o problema. Isso é uma visão que eu acho velha sobre o que é a regulação da mídia. Velha. Porque é a gente estar demonizando uma rede de televisão. Quando você tem que ter regras que valham para todo mundo. Não só para eles. Não só não misturo essa discussão com mecanismos de censura, como repudio. Eu não represento uma parte. Eu quero representar o todo. E isso jamais poderá ser feito sem uma ampla discussão da sociedade. É o tipo da coisa que exige uma consulta pública."
Quanto ao bolivarianismo, diz que é “uma vergonha tratar os dois países como iguais. É uma excrescência porque não tem similaridade”.
“Essa história de bolivarianismo está eivada de camadas, segmentos, de preconceito, contra o meu governo. Geralmente o uso ideológico de certas categorias, distorcem toda a compreensão da percepção da realidade. Se tem uma que é usada indevidamente chama-se bolivarianismo. O mais estarrecedor é que eu cheguei à conclusão de que o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), integrado pelo PIB brasileiro, é bolivariano. Acusaram o governo de estar fazendo com a questão da participação social bolivarianismo. Os órgãos de participação vem desde 1935. Aí você pega o decreto (que regulamenta a criação dos conselhos populares e foi derrubado na Câmara na semana passada) e chama de bolivariano?”, afirmou.
Fonte Brasil 247
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