O noticiário condicionado
Por Luciano Martins Costa
Os jornais de terça-feira (18/11) abrem uma perspectiva mais ampla para
o caso de desvio de recursos da Petrobras, mas ainda se prendem aos
fatos mais recentes. Alguns jornalistas começam timidamente a questionar
as escolhas dos editores, fazendo chegar ao observador sinais de algum
mal-estar nas redações por conta do direcionamento do noticiário, e
percebe-se que o controle do viés informativo começa a ficar difícil.
Além da ampliação das denúncias, que agora alcançam os altos escalões
de quase todas as grandes empreiteiras nacionais, a imprensa precisa
lidar também com a suspeita de que a Petrobras não tem sido a única
vítima do esquema e que a prática de preços combinados em troca de
propina pode ter contaminado outros setores.
A postura oficial do governo federal, destacando responsabilidades
individuais, cria uma situação inusitada, na qual os acusados são
isolados em papéis específicos, embora se saiba que os recursos
desviados têm relação com o financiamento de campanhas eleitorais.
O problema remanescente é o mesmo de outros escândalos: a insistência
da mídia tradicional em manipular os dados vazados das investigações, o
que faz com que o público seja informado apenas de parte da história. O
protagonismo da mídia faz com que o jornalismo hegemônico se desloque da
função mediadora para a de proponente de abordagens restritas e de
ancoragem dos fatos que surgem fora da agenda institucional.
Assim, tudo acontece num ambiente fechado, onde a imprensa tenta controlar a temperatura dos debates.
Com uma perspectiva mais ampla, torna-se claro que todos os negócios do
Estado, nas instâncias federal, estadual e municipal, são vulneráveis
ao conluio com interesses privados. Desde a contratação de placas de
trânsito, setor dominado por menos de meia dúzia de fornecedores, às
grandes obras de infraestrutura e a projetos gigantescos do setor
petroquímico, tudo parece sujeito ao jogo marcado em que os negociadores
ganham e o Tesouro paga a conta.
Bombardeio de saturação
Segundo os jornais, tudo conflui para o sistema de financiamento de
partidos políticos, e, com base nessa assertiva, nove entre dez
analistas concluem que bastaria proibir doações de empresas para
agremiações e candidatos que tudo se resolveria.
Acontece que, como no noticiário econômico, a imprensa fornece ao
público fragmentos de informação que condicionam opiniões massivas sobre
todos os assuntos e, como já se demonstrou, agentes públicos
encarregados da investigação têm contribuído com vazamentos seletivos
para compor o viés predominante. Mas quando ocorre uma saturação de
informações sobre determinado tema, como no caso da Petrobras, nem mesmo
o sistema fechado da mídia consegue direcionar a interpretação dos
fatos.
Assim é que o bombardeio de notícias negativas sobre o envolvimento de
partidos políticos com o esquema de propinas oferece ao poder Executivo a
oportunidade de se apresentar como parte interessada em ver punidos
todos os envolvidos. Para não dar recibo de seu partidarismo, os
delegados federais apanhados em ativismo político são obrigados a
ampliar o leque das acusações e aprofundar o período de apuração, o que
permite vislumbrar a amplitude do escândalo ao longo dos anos.
O caso, aqui citado, de uma denúncia feita pelo falecido jornalista Paulo Francis, em 1997 (ver “Paulo Francis não morreu”),
fica no ar como uma referência temporal: se a apuração não procurar os
indícios apontados por Francis, fica-se com a impressão de que o ânimo
investigatório tem cartas marcadas. Se o inquérito recuar no tempo para
verificar se o polêmico comentarista tinha razão, o cenário muda
completamente.
A presidente Dilma Rousseff parece ter apanhado essa oportunidade para
condicionar a composição de seu futuro governo a nomes que ofereçam
garantias de sair limpos de uma devassa dessa envergadura. Um resultado
possível desse novo contexto é a imprensa perder o controle da agenda da
corrupção.
Se o governo federal sair da posição defensiva e se apresentar à frente
do processo, pode se posicionar como patrocinador de uma operação como a
que reduziu a influência das máfias sobre os poderes públicos na
Itália, a partir dos anos 1980. De quebra, pode ganhar apoio para uma
reforma política que o Congresso aparentemente não quer fazer.
Fonte Observatório da Imprensa
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JUÍZO FINAL: RIU MELHOR QUEM RIU POR ÚLTIMO!
Náufrago da Utopia
"[Quando
se constatou que] havia alguma coisa de podre no reino da Petrobras,
meu primeiro pensamento foi o calvário de um jornalista, meu amigo Paulo
Francis. No programa que então fazia, gravado em Nova York, ele acusou
os sobas que mandavam na maior estatal do Brasil.
Não
chegou a citar nomes, falou que o estado maior da Petrobras,
engenheiros, diretores e seus respectivos patronos formavam uma
quadrilha de bandidos que roubavam descaradamente a empresa, justamente
em sua cúpula administrativa e técnica.
Evidente
que a 'suspeita' do Francis foi desmoralizada pela própria Petrobras,
que usando e abusando do dinheiro da fraude, processou o jornalista por
calúnia, no foro de um país que tem a fama de ser o mais severo na
matéria. A multa chegaria a US$ 100 milhões, mais custas e honorários.
...A Petrobras, com o dinheiro dos outros, venceu a questão.
...A Petrobras, com o dinheiro dos outros, venceu a questão.
Paulo Francis entrou em depressão, tal e tanta, que meses depois morreu subitamente..." (Carlos Heitor Cony)
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