A grande virtude da democracia é justamente permitir que as diferenças convivam pacificamente. Mas para isso as pessoas precisam ser civilizadas
OS ARAUTOS DA INTOLERÂNCIA
Brasil 247
Por RIBAMAR FONSECA
As sementes da intolerância, lançadas pela grande mídia ao longo do
mandato da presidenta Dilma Rousseff, encontraram terreno fértil nas
redes sociais, onde germinaram e cresceram e estão produzindo o seu pior
fruto – o ódio. Contaminada por ele, muita gente – inclusive pessoas de
nível de instrução superior, como jornalistas e médicos – perdeu o
equilíbrio e, em seus comentários, não se limita a criticar o que não
concorda, preferindo descambar para o insulto e a ofensa, empregando
inclusive palavrões. Deixaram de ser os "aloprados", segundo definição
do jornalista Ricardo Kotscho, para se transformarem em doentes
raivosos, que babam e destilam veneno.
Estimulados por conhecidos colunistas dessa grande mídia, como
Arnaldo Jaborto, Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi e Rodrigo Constantino,
entre outros, verdadeiros arautos da intolerância, os intolerantes
internautas disseminaram de tal modo o ódio que acabaram transformando
as redes sociais num esgoto virtual, onde despejam seus dejetos verbais,
sendo compartilhados por anencéfalos que se assemelham àquele besouro
popularmente conhecido como rola-bosta. E o mais absurdo: dirigiram o
seu ódio contra os nordestinos, simplesmente porque foram estes
brasileiros que garantiram a reeleição da presidenta Dilma Rousseff.
Com feições apopléticas de raiva, destilando ódio por todos os poros,
o maluco beleza Arnaldo Jaborto dá o exemplo de intolerância,
descarregando a sua bílis nos eleitores de Dilma, em especial os
nordestinos, que ele classifica de "burros" e "analfabetos" simplesmente
porque não pensam como ele e derrotaram o seu candidato Aécio Neves. O
médico Walter Abreu, de Poços de Caldas, segue o seu exemplo e, no
facebook, chama os nordestinos de "antas" e os mineiros de "burros". Ou
seja, para eles "burros" e "antas" são todos os brasileiros que não
rezam por sua cartilha ou, mais precisamente, pela cartilha dos ricos e
poderosos, que não se conformam com a ascensão dos pobres e humildes
promovida pelos governos do PT.
Em Manaus, segundo revelou o jornalista Eduardo Guimarães no "Blog da
Cidadania", a médica Patricia Sicchar, da Secretaria Municipal de
Saúde, e o seu colega Lano Macedo, do Hospital Beneficente Português do
Amazonas, decidiram utilizar as redes sociais para lançar campanhas
contra os que ajudaram a reeleição da Presidenta. Patrícia propôs que os
nordestinos sejam castrados quimicamente para que não se reproduzam (é
surpreendente o tamanho do ódio dessa médica), e Macedo exorta os seus
colegas médicos a boicotarem os laboratórios que contribuíram com
recursos para a campanha de Dilma. Constata-se hoje que o oponente
político deixou de ser adversário para transformar-se em inimigo, contra
quem vale tudo, até a castração.
Esse comportamento primitivo, até então impensável entre pessoas
instruídas, é fruto da disseminação do ódio por parte da imprensa
oposicionista. A pesquisadora Ivana Bentes, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, classificou esse jornalismo de "ódiojornalismo",
apontando a revista "Veja" como uma das principais responsáveis por essa
prática, junto com alguns conhecidos colunistas. Na sua opinião, esses
colunistas formam uma "tropa de choque" ulraconservadora que "alimenta
uma fábrica de memes de ultra direita que se instalou e trabalha para
minar projetos, propostas, seja de programas sociais, seja de ampliação
dos processos de participação da sociedade nas políticas públicas, seja
de processos de democratização da mídia e todo o imaginário dos
movimentos sociais".
A professora Ivana destaca ainda que se constata hoje, na leitura dos
jornais, "um altíssimo grau de discursos demonizantes, raivosos e de
intolerância, à direita e agora também à esquerda". Esses discursos, que
caracterizam o comportamento principalmente de perdedores nas eleições
de outubro último – entre eles os senadores Aécio Neves e Aloysio Nunes,
também arautos da intolerância – encontraram ressonância nas redes
sociais, onde muitos internautas se escondem no anonimato para dar vazão
ao seu ódio e frustrações, enquanto outros já nem se preocupam em
esconder a cara, como é o caso, por exemplo, da atriz e jornalista
Déborah Albuquerque, que chamou os eleitores de Dilma de "imbecis e
miseráveis" e, dizendo-se rica e bem sucedida, se prepara para mudar-se
para Orlando. Já vai tarde.
Por conta dessa intolerância, evidenciada em declarações racistas e
discriminatórias contra o povo nordestino, é que o jornalista Diogo
Mainardi, da "Veja", está sendo processado pela OAB de Pernambuco e por
vários deputados federais, que representaram contra ele na Procuradoria
Geral da República. Afinal, por que tanto ódio contra os nordestinos? Só
porque exerceram o seu direito de voto? Se todas as pessoas adotassem o
mesmo comportamento, odiando os que não apóiam os mesmos candidatos, as
eleições se transformariam numa verdadeira guerra, inclusive com
mortes, uma estupidez sem limites. A grande virtude da democracia é
justamente permitir que as diferenças convivam pacificamente. Mas para
isso as pessoas precisam ser civilizadas.
Fonte Brasil 247
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