O horizonte da elite econômica é rebaixar as condições salariais e as condições de vida da classe trabalhadora para padrão menor que o chinês; 36 a 37% da economia brasileira dependem de trocas internacionais e os trabalhadores vão entrar como bucha de canhão
O resumo do filme em duas imagens
por Luiz Carlos Azenha
Anos 80. Washington. Ronald Reagan ascende ao poder e, imediatamente,
trata de enfrentar uma greve de controladores de vôo com o objetivo de
“quebrar” o sindicato da categoria. É bem sucedido, no salvo inicial de
uma onda conservadora cujo objetivo de fundo era “rebaixar” o padrão de
vida dos trabalhadores norte-americanos para colocá-los em pé de
igualdade com a mão-de-obra do mercado internacional. Globalização 1.0.
Pode-se identificar ali um momento marcante da História. O da aceleração
do processo de concentração de renda que hoje bate recorde no Grande
Irmão do norte.
2015. Brasília. A Câmara dos Deputados, com os votos da base
supostamente aliada de um governo nominalmente comandado pelo Partido
dos Trabalhadores, aprova o PL 4.330 (324 votos a 137), que permite a
qualquer empresa brasileira funcionar totalmente com terceirizados. Uma
empresa de ônibus só com motoristas terceirizados. Uma montadora de
veículos só com operários terceirizados. Um hospital só com médicos e
enfermeiras terceirizadas.
Muito embora a comparação acima seja de nossa lavra, o sociólogo Ruy Braga, autor do indispensável A Política do Precariado,
concorda que se trata de um momento histórico. É, segundo ele, a maior
derrota dos trabalhadores brasileiros desde o golpe de 1964. Marca o fim
de qualquer pretensão “neodesenvolvimentista” do governo Dilma. Encerra
um ciclo em que a valorização do salário mínimo turbinava o mercado
consumidor interno como alternativa às exportações. Para Ruy Braga, o
que a elite brasileira busca é dar ao trabalhador brasileiro um padrão
salarial e de direitos “menor que o do trabalhador chinês”.
Hoje, há cerca de 50 milhões de trabalhadores brasileiros contratados
diretamente e de 12 a 13 milhões de terceirizados. Aprovado o PL 4.330,
em 5 a 6 anos, calcula Ruy, a proporção de terceirizados será de 60% a
40%. Consequências? Redução da massa salarial e, portanto, do mercado
interno, queda na arrecadação — que, aliás, sustenta os projetos sociais
— e redução geral dos salários em torno de 30% (segundo a CUT, a
diferença salarial entre contratados diretamente e terceirizados é hoje
de 27,4%).
Derrotado, o governo Dilma não terá mais qualquer relação com os
“trabalhadores” da sigla PT. Aliás, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy,
reuniu-se com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para tratar do PL
4.330. Mas apenas para manifestar preocupação com eventual queda na
arrecadação. Queda que, segundo Ruy, acontecerá, apesar de garantias em
contrário.
Para Braga, a “privatização branca” da seguradora da Caixa Econômica
Federal, anunciada hoje, deverá ser seguida por outras, de empresas
ligadas à Petrobras, como a BR Distribuidora. É a forma encontrada pelo
governo Dilma para estimular a economia, mas de uma forma cada vez mais
subordinada aos interesses do mercado financeiro.
Clique aqui para ouvir a imperdível entrevista de Ruy Braga (segue um resumo):
– O país entra numa nova fase de relações de trabalho precárias;
– Das últimas 36 missões do Ministério do Trabalho para resgatar
trabalhadores em situações análogas à escravidão, 35 envolviam empresas
terceirizadas;
– É a maior derrota da classe trabalhadora desde a ditadura militar;
– O governo do PT foi incapaz de propor uma lei contra a demissão imotivada, que funcionaria como antídoto ao PL 4.330;
– Do ponto-de-vista dos trabalhadores, acaba qualquer tipo de ligação de interesses com o governo Dilma;
– Os salários dos terceirizados geralmente ficam 36% abaixo dos de contratados diretamente;
– O horizonte da elite econômica é rebaixar as condições salariais e
as condições de vida da classe trabalhadora para padrão menor que o
chinês; 36 a 37% da economia brasileira dependem de trocas
internacionais e os trabalhadores vão entrar como bucha de canhão;
– Se houve esboço de um projeto neodesenvolvimentista, ele é página
virada com Joaquim Levy no Ministério da Fazenda; o que se delineia é um
aprofundamento do controle da economia pelo capital financeiro; o que
se vê é um governo de joelhos, que só tem a oferecer um novo ciclo de
privatizações brancas (a seguradora da Caixa Econômica Federal como
primeiro exemplo);
– Vai se intensificar a luta distributivista, ou seja, a luta pelo
controle do Orçamento e o governo Dilma já demonstrou que não tem
absolutamente nada a oferecer aos trabalhadores.
Fonte: Vi o Mundo
OS DEPUTADOS DE MATO GROSSO QUE TRAÍRAM OS TRABALHADORES
Adilton Sachetti (PSB). Ezequiel Fonseca (PP). Fabio Garcia (PSB). Nilson Leitão (PSDB). Professor Victório Galli (PSC)
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