Opiniões políticas podemos ter várias; opinião democrática é só uma: ou somos a favor da Democracia ou não! Aqui, em terras tapuias e paiaguás, o governador caixeiro-viajante do golpe já sente na pele as dores de ter apoiado o estupro à Constituição e ao Estado Democrático de Direito.
Desde o movimento vivenciado nas eleições de 2014, principalmente em
decorrência do “vazio” de esperança que levou a uma abstenção popular
altíssima, que estamos denunciando a trama de um atentado fascista
contra o Estado Democrático de Direito.
Em 2013, as pessoas já haviam saído para as ruas pedindo mudanças no
regime político. Porém, estas não vieram. Mas isso nada tinha a ver com
toda essa violência que hoje é dirigida à presidenta Dilma, ou contra um
partido político em especial. Esse golpe jurídico, parlamentar e
midiático em curso é contra os avanços sociais no Brasil, é para
entregarem a Petrobras, o Pré-Sal e o que ainda resta das nossas
riquezas aos desenfreados interesses do imperialismo ladrão e, de sobra,
ainda evitar que grupos de bandidos, eternos saqueadores dos cofres
públicos, vendilhões lesa-pátria sejam presos. Esse golpe é, acima de
tudo, contra a Democracia, e é justamente Ela que devemos defender.
Opiniões políticas podemos ter várias; opinião democrática é só uma: ou somos a favor da Democracia ou não!
Mas, o fato é que processos judiciais eleitorais espúrios foram
propostos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para cassar mandato
legítimo, o Judiciário tomou partido político em definitivo (briga
apenas por salário), a Polícia Federal não escondeu suas preferências, e
o Congresso Nacional e as empresas de comunicação, sonegadoras de
impostos, paralisaram a administração federal levando-lhe a asfixia.
Os efeitos nefastos do golpe em curso (porque falta o desfecho no
Senado) já são visíveis no bolso das pessoas, nas gôndolas de
supermercados (alimentos escassos e mais caros), na supressão de
direitos, no fim dos concursos públicos, no sucateamento da
administração, na reação das massas (manifestações todos os dias em todo
o país), dá uma alarmante sensação de que vamos perder o controle de
todas as coisas a qualquer momento.
Golpistas são hostilizados por toda parte, nos aeroportos,
restaurantes e universidades. A deputada federal Tia Eron (PRB-BA) votou
pelo golpe na Câmara e passou a ser hostilizada nas ruas. Quando votou
pela cassação do mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na terça-feira, dia
14, a parlamentar baiana declarou que sentiu a reação negativa por parte
da população ao golpismo.
Aqui, em terras tapuias, o governador caixeiro-viajante do golpe já
sente na pele as dores de ter apoiado o estupro à Constituição e ao
Estado Democrático de Direito. Desatento, não viu perecer a qualidade da
prestação de serviços públicos, a sua equipe de “desgoverno” não
conseguiu planejar o mínimo, há uma greve de servidores prestadores de
serviços do Estado nunca antes vista, e existem movimentos cada vez mais
consistentes que defendem seu impeachment.
Seria golpe?
Em Brasília, alguns capitães do mato desse golpismo, descaradamente
comandado por “um complô de bandidos”, como Eduardo Cunha, Aécio Neves e
diversos deputados que disseram “sim” (ao processo contra Dilma) já
caíram na malha da Justiça, e podem ser “comidos” (desculpe a repetição
do termo dito pelo delator) a qualquer momento.
O fato é que as pessoas são marcadas pelos seus atos e, às vezes, a
própria descendência fica “carimbada” por aquilo que voluntariamente, e
solitariamente, os pais praticaram. Filhos, parentes, serão cobrados por
ações nossas, ainda que sejam inculpados.
Não sou “igrejeiro”, ainda que tenha vivido parte de minha vida
próximo a religiosos ligados à Igreja Católica Apostólica Romana,
principalmente ao lado dos defensores da Teologia da Libertação. Então,
me socorro de texto bíblico atribuído ao Rei Salomão para buscar
entender a existência de uma espécie de maldição
contra descendência das
pessoas que erram (e contra elas próprias).
Diz-se que Salomão estava descontente com um tal de Joabe, que era
acusado de cometer malfeitos que desagradaram a Deus. O rei sentencia:
“Assim recairá o sangue destes sobre a cabeça de Joabe e sobre a cabeça
da sua descendência para sempre”, Reis 2:33.
Creio sinceramente que os defensores desse maldito golpe já começam a
pagar pelo grave erro cometido contra a Democracia. Ainda que estejamos
a meses de uma eleição municipal, não se vê nas pessoas o ânimo nem o
fervor em participar do processo, que pode ser mais um “circo” ou
“armação”. Afinal, de que adianta ao candidato eleger-se, quando não há
mais a garantia de que permitirão que cumpra o seu mandato?
Tamanho desalento com o processo eleitoral é culpa dos próprios golpistas.
O escritor Joseph Campbell é um estudioso dos mitos e dos símbolos, e
no livro “O Herói de Mil Faces” (Editora Cultrix/Pensamento, 1949) ele
afirma que as pessoas têm por hábito entender as verdades por meios de
simbolismos e imagens. E esta passagem do seu livro cai como luva aos
golpistas: “A terra era fria e vazia. Não havia grama, arbustos nem
árvores. Não havia animais. Mwuetsi chorou e disse a Maori: 'Como vou
viver aqui?' Maori respondeu: 'Eu o avisei. Você iniciou uma jornada no
fim da qual morrerá.”
Antonio Cavalcante Filho é cidadão, escreve às sextas-feiras neste blog. E-mail: antoniocavalcantefilho@oulook.com
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