Mas o que os nossos golpistas querem
é impor essas 80 horas e não pagar adicionais. É a volta da escravidão.
A volta da exclusão e da desigualdade como modelo de crescimento.
Querem a volta do “milagre econômico” da ditadura. Querem a volta do
tripé repressão, desigualdade e exploração.
"Há pouco tempo, escrevemos artigo no qual afirmávamos que o golpe
ameaça desconstruir os legados sociais de Lula, Ulysses Guimarães e
Getúlio Vargas. Estávamos enganados. O apetite reacionário e excludente
dos golpistas vai além. Eles querem também acabar com o legado social da
Princesa Isabel", escrevem, em artigo, o senador Lindbergh Farias
(PT-RJ) e o colunista Marcelo Zero; "O governo Temer/Cunha não veio
apenas para tirar Dilma do poder. Não veio apenas para tirar os pobres
do orçamento. Veio para colocar grilhões nos trabalhadores brasileiros.
Veio para colocar os pobres no tronco. Fora, Temer! Volta, Isabel!"
Por Lindbergh Farias e Marcelo Zero
Há pouco tempo, escrevemos artigo no
qual afirmávamos que o golpe ameaça desconstruir os legados sociais de
Lula, Ulysses Guimarães e Getúlio Vargas.
Estávamos enganados.
O apetite reacionário e excludente dos golpistas vai além. Eles querem também acabar com o legado social da Princesa Isabel.
Com efeito, foi o que deu a entender
o presidente da CNI, apoiadora do golpe, o qual, após encontro com o
Interino Usurpador, anunciou que os brasileiros têm de trabalhar 80
horas por semana, ou 12 horas por dia.
Para os golpistas, essa é a solução
para a crise. Obrigar os brasileiros a trabalhar até os 70 anos com uma
jornada de 12 horas por dia.
Cinicamente, dizem inspirar-se na
nova lei trabalhista francesa. Mentem. A nova lei de trabalho da França
permite, apenas em circunstâncias excepcionais, como grave crise na
empresa, a extensão da jornada até 60 horas semanais, após acordo
coletivo registrado, e com a anuência e supervisão das inspetorias do
trabalho. As horas que excederem 35 horas por dia continuarão a ser
horas extras. Mesmo assim, a nova lei está provocando uma convulsão
social na França. Será revista.
Mas o que os nossos golpistas querem
é impor essas 80 horas e não pagar adicionais. É a volta da escravidão.
A volta da exclusão e da desigualdade como modelo de crescimento.
Querem a volta do “milagre econômico” da ditadura. Querem a volta do
tripé repressão, desigualdade e exploração.
Na realidade, a sua inspiração não é
a França do século XXI. Erraram de país e de século. A sua verdadeira
inspiração é a Inglaterra da primeira metade do século XIX. Aquela
Inglaterra descrita por Engels, a quem os golpistas carinhosamente
apodam de Hegel. Aquele país bucólico e aprazível retratado no livro “A
Situação da Classe Trabalhadora da Inglaterra”.
Ah! Aquelas jornadas moralizantes de
14 horas, que reerguem o caráter destruído pela preguiça. O edificante
trabalho infantil, que gera cidadãos disciplinados e abnegados. A
miséria amontoada e convenientemente apartada em exóticos cortiços, tão
adequada à paz social. E, sobretudo, aqueles salários módicos, tão
convidativos ao empreendedor.
Ah! A ausência de subversivos
sindicatos. A ausência de direitos e garantias, que atrapalham o correto
funcionamento da economia. E a presença omnipresente e omnisciente do
Mercado. Belos tempos!
Ah! A beleza distópica de um mundo
sem sistema público de saúde. Um mundo sem SUS. Apenas com planos de
saúde privados. Um mundo sem educação pública. Um mundo sem Bolsa
família, sem Pronatec, sem Ciência sem Fronteiras, sem Minha Casa Minha
Vida, sem Enem, sem Fies, sem Prouni. Um mundo baseado na meritocracia
dos privilégios. Um mundo para poucos. Um Brasil para poucos, como
recomenda a nossa tradição.
O que os golpistas querem é volta da “governabilidade pela exclusão social”, algo que as classes dominantes sempre defenderam.
Ao final da Assembleia Nacional
Constituinte de 1988, que construía a cidadania social brasileira,
Sarney convocou cadeia nacional de rádio e televisão para alertar o país
sobre o perigo de uma “explosão brutal de gastos públicos” que a nova
Constituição acarretaria, tornando o país “ingovernável”.
Ulysses respondeu de forma admirável: Senhores constituintes: a Constituição, com as correções que faremos, será a guardiã da governabilidade. A
governabilidade está no social. A fome, a miséria, a ignorância, a
doença inassistida são ingovernáveis. A injustiça social é a negação do
governo e a condenação do governo (...).
Os governos do PT seguiram Ulysses.
Iniciaram construção de um país para todos, governado para todos.
Governado pela inclusão e pela cidadania social.
Mas os golpistas querem agora a
volta do Brasil para poucos. Do país governado pela exclusão. Da
economia assentada na desigualdade, que não quer gastar dinheiro com
direitos, previdência e serviços públicos para os pobres. Os golpistas
acham que a cidadania social não cabe no orçamento. No orçamento
caberiam apenas as taxas de juros estratosféricas e os privilégios.
Inspirados em Sarney e no Centrão
reacionário da Constituinte, tão semelhante, em seu fisiologismo e
conservadorismo, ao Centrão de Cunha, querem a desconstrução da
cidadania social e do nosso pequeno Estado do Bem-Estar. Querem também
desconstruir o Brasil, vendendo o pré-sal e todo o patrimônio publico.
Querem alienar a nossa soberania.
Pensávamos que o golpe nos faria
retroceder à República Velha. Nos enganamos. Querem fazer retroceder o
país aos tempos da colônia dependente e escravocrata.
O governo Temer/Cunha não veio apenas para tirar Dilma do poder. Não veio apenas para tirar os pobres do orçamento.
Veio para colocar grilhões nos trabalhadores brasileiros. Veio para colocar os pobres no tronco.
Fora, Temer! Volta, Isabel!
Fonte Brasil 247
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