Depois de uma longa, profunda e sofrida crise, se esgota mais um momento. Não é mais possível, o pais não aguente, nem como interino a Temer. Menos ainda recebendo um mandato para governar o pais por dois anos mais.
Por Emir Sader
O anonimato de Michel Temer no
Maracanã, diante do mundo, simboliza perfeitamente o esvaziamento total
da sua capacidade de governar, mesmo interinamente. Pronunciando, de
forma balbuciante, duro como um boneco de madeira, ele revelou ao que
está reduzida sua presidência.
Para terminar de configurar o
cenário de fim de interinidade, as pesquisas revelam que ninguém quer as
propostas do seu governo, ninguém o quer na presidência, enquanto as
denuncias de corrupção recaem diretamente sobre ele e completam o quadro
de um governo todo ele salpicado por denuncias cada vez mais frequentes
e contundentes.
O poder está entregue nas mãos do
mercado – dos banqueiros, em particular – e dos meios de comunicação.
Que gostam de governos fracos, que cedem facilmente a pressões. Mas que
precisam ter um mínimo de legitimidade, de apoio popular, de capacidade
de governar.
Michel Temer foi o que conseguiram,
para configurar o golpe que precisavam. Bem que tentaram que ele
encarnasse um projeto de reunificação nacional, de retomada do
crescimento econômico, de pacificação politica e social. Mas
fracassaram. Ele não foi capaz de nada disso.
Seu governo interino, entre medidas
duras de ajuste e aprofundamento da recessão, de compra de apoios para
tentar obter os 2/3 de votos no Senado e de repressão, fracassou. Mesmo
para quem precisa de um governo frágil, Temer passa dos limites. Ninguém
o respeita, todos o desprezam.
Temer promete medidas duras, caso o
Senado ratifique o golpe. Mas sua falta de legitimidade como governo e
sua falta total de apoio popular, faz temer, mesmo aos que o apoiam, de
que seja capaz.
Ainda mais quando as acusações de
corrupção se tornam evidentes, comprometendo-o e quase obrigando a PGR a
abrir processo contra ele. Um presidente interino, que ja’ e’ ficha
suja, pode tornar-se reú, mesmo antes de eventuais delações do Eduardo
Cunha, não teria as mínimas condições de implementar medidas duras que o
grande empresariado exige e que Henrique Meirelles está plenamente
disposto a colocar em pratica.
Com um processo de deslegitimação
geral do sistema político, não se vê como um presidente sem força
alguma, com um Congresso assediado pelas acusações de corrupção, um
governo composto de corruptos, poderia responder às demandas dos que o
colocaram no governo: os banqueiros e a mídia. Por mais que escondem a
gravidade da situação do governo, pelo menos até a votação do Senado,
ninguém se ilude sobre a fragilidade do governo Temer.
Poderiam tentar a nova aventura de
empurra-lo até janeiro, faze-lo renunciar e entregar ao Congresso o
poder de eleger um presidente do pais por dois anos mais, valendo-se de
um artigo que se presta a todo tipo de manipulação antidemocrática,
inclusive essa. Instituiriam assim um parlamentarismo de fato, que não
teria maior legitimidade tampouco, vindo de um Congresso cuja imagem
diante do pais é a pior possível.
Na realidade as condições políticas
estão mais que maduras para a convocação de uma Assembleia Constituinte
que não apenas reforme o sistema politico, mas o próprio Estado, que não
se demonstrou, de forma alguma – nos seus três poderes: o executivo, o
legislativo e o judiciário – ser um instrumento capaz de enfrentar a
grave crise que, mais que uma crise de um governo, é uma crise política
do Estado brasileiro.
Em qualquer dos casos, Temer esgotou
seu tempo. Longe de reunificar o pais, se isolou e não conta com apoio
para resgatar o país da dura crise em que se encontra. Constituiu um
governo vulnerável e incompetente, desprestigiado. Sua imagem como
presidente é a de um personagem medíocre, sem nenhuma credibilidade,
vacilante, incompetente politicamente.
Por outro lado, o mundo tem hoje a
dimensão real tanto da insignificância de Temer, como da imensa rejeição
dos brasileiros por ele. Sua penosa aparição no Maracanã parece um fim
de linha. Nem os que o apoiam acreditam que ele possa corresponder ao
que exigem dele, nem a imensa maioria que o rejeita, o aguenta mais.
Depois de uma longa, profunda e
sofrida crise, se esgota mais um momento. Não é mais possível, o pais
não aguente, nem como interino a Temer. Menos ainda recebendo um mandato
para governar o pais por dois anos mais.
Chega de Temer! Chega de temer!
Fonte Brasil 247
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