Ao que chegou o partido do doutor Ulysses, honesto e combativo dirigente democrático brasileiro, a quem Temer não teria podido sequer se aproximar, pelo horror que provocaria naquele que protagonizou as glórias do PMDB, hoje partido reduzido ao golpismo, à corrupção e ao neoliberalismo, contra o povo, a democracia e o Brasil.
Por Emir Sader*
O PMDB tornou-se o partido que adere
a todos os governos. Não consegue viver fora do poder, porque vive da
repartição das prebendas – de cargos e de recursos – de quem detém
poder. Esteve com FHC, com o PT e agora com o golpe.
Mas nem sempre foi assim. O PMDB foi
o partido central da luta institucional contra a ditadura e pelo
retorno da democracia. Congregou setores muito diferenciados, mas unidos
por essa luta.
Teve a direção do maior líder da
luta democrática, Ulysses Guimaraes. Que teria sido o candidato favorito
para ser eleito presidente do Brasil, caso a campanha das diretas
tivesse tido sucesso. A própria transição à democracia teria sido
diferente, porque o PMDB tinha um programa de reformas econômicas e
sociais, que acompanhavam indissoluvelmente a reinstalação da democracia
no pais.
A derrota das diretas e a morte de
Tancredo Neves permitiram que a transição fosse vitima da mesma elite da
época da ditadura, com o ex-presidente do partido da ditadura e
dirigente da campanha contra as diretas, Jose Sarney sendo,
paradoxalmente, o primeiro presidente civil da democracia, eleito pelo
Colégio Eleitoral para ser vice-presidente.
A transição ficou assim restrita a
um novo pacto de elite na história brasileira, com o novo regime
instalado não com a cara da resistencia democrática e da campanha das
diretas, mas com a cara do Colégio Eleitoral e do compromisso do novo
com o velho, sob a égide de um dirigente da ditadura – Sarney. Não como
acaso, ACM foi o todo poderoso ministro das comunicações, enquanto
Ulysses ficava escanteado.
Ainda assim, Ulysses comandou o
momento mais alto da transição democrática, a Assembleia Constituinte,
da qual ele foi o presidente e que ele denominou de Constituinte Cidadã,
justamente porque afirmava o que a ditadura havia liquidado e o que o
neoliberalismo voltaria a atacar. Apenas aprovada, Sarney já a atacou,
afirmando que ela tornava o Estado ingovernável – diagnóstico já
neoliberal -, porque garantia direitos que o Estado não estaria em
condições de promover.
O fracasso do governo Sarney esgotou
o impulso democrático, levou a candidatura de Ulysses à presidência, em
1989 a não ter nenhuma transcendência, porque o PMDB, embora não
dirigisse o governo Sarney, pagou o preço de tê-lo eleito e apoiado.
Com a morte de Ulysses Guimaraes, o
PMDB se descaracterizou completamente. Ficou reduzido a um partido
fisiológico, sem capacidade de nem sequer lancar candidato à
presidencia, mas controlando o Congresso e assim negociando seu apoio
aos governos, seja o de FHC, como os de Lula e de Dilma.
A chegada de Michel Temer à
presidencia é a resultante desse processo fisiológico e que teve num
nome anônimo o perfeito para presidir um partido anônimo e adesista a
todos os governos. O PT não o escolheu como vice, apenas aceitou a
indicação do PMDB pelo seu presidente, em aliança que se tornou
indispensável, depois que Lula quase foi derrubado por impeachment, em
2005, sem maioria parlamentar.
Vice decorativo, conforma confissão
dele mesmo, Temer ficou disponível para aventuras politicas, como o
golpe, e ameaçado de condenação nos inúmeros casos de corrupção em que
ele mesmo está diretamente envolvido, além de acobertar todos os outros
casos do seu partido, sob a sua presidência. Salvo pelo seu mentor
Eduardo Cunha, Temer pôde ser o instrumento do golpe da direita para
tirar o PT do governo e impor o programa derrotado, ao qual o próprio
Temer se opôs, quando foi eleito vice presidente em 2010 e reeleito em
2014.
Traidor, corrupto, oportunista,
medíocre, incompetente, covarde – vai acumulando os piores epítetos que
um politico pode ter e, por isso mesmo, se prestou para ser instrumento
do golpe e ser condenado por todo o País, que entoa o “Fora Temer”.
Até que o PMDB se propõe a expulsar
um dos últimos parlamentares dignos do partido, Roberto Requião porque,
como ele diz, ele não é ladrão. Ao que chegou o partido do doutor
Ulysses, honesto e combativo dirigente democrático brasileiro, a quem
Temer não teria podido sequer se aproximar, pelo horror que provocaria
naquele que protagonizou as glórias do PMDB, hoje partido reduzido ao
golpismo, à corrupção e ao neoliberalismo, contra o povo, a democracia e
o Brasil.
* Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros
* Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros
Fonte Brasil 247
JÁ COMEÇOU A CAMPANHA PARA PREFEITOS E VEREADORES. OS CANDIDATOS JÁ ESTÃO
RONDANDO OS NOSSOS LARES. QUEM VOTA CONSCIENTE NÃO VOTA EM CANDIDATOS OU
EM PARTIDOS QUE APOIARAM O GOLPE CONTRA A DEMOCRACIA.
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