Nas campanhas eleitorais se revelam mais claramente os interesses ocultos das elites governantes, o maquiavelismo corrupto dos politicóides profissionais fica mais nítido, visto que eles escancaram, sem nenhum pudor, suas demagogias e cinismos. Portanto, esse momento exige de cada um de nós uma especial atenção.
CONSCIÊNCIA CIDADÃ É TAMBÉM SE ABSTER OU VOTAR NULO
A decisão de emitir opinião sobre os fatos da vida, da militância nos
movimentos sociais, da opção de “ter lado” e de mostrar publicamente o
que penso, digo e faço, acaba por render algumas contrariedades. Mas é a
garantia de que nossa passagem por este plano da vida não é morna, tem
sabor (e dissabores) e no fim revela a consciência de ter feito algo em
defesa daquilo que acreditamos ser justo.
Jamais deixei de sonhar com a possibilidade de construirmos um mundo
mais fraterno, humano e solidário. E mais do que isso, nunca fugi desse
debate.
A quem me acusou de partidarismo, demonstrei que critiquei a todas as
correntes políticas quando necessário, e, algumas vezes, até as
elogiei, quando senti que era preciso por ser verdadeiro (sem com isso
ter compromisso com partido algum). Evoluí em alguns aspectos e
reconheço regressão em outros. Paciência, ninguém é perfeito!
Por vezes sou atacado “na pessoalidade” e não por minhas ideias!
Não sou organizado a ponto de guardar minhas escritas, mas a internet
permite um repositório no sistema de “nuvens” e outras invenções que se
revelam grandemente úteis para arquivos de ideias. E ali encontrei
textos que fiz desde o século passado, e de cujo teor não me arrependo.
Ao contrário, são incrivelmente atuais.
Uma das opiniões que tenho emitido se afina com a possibilidade do
voto nulo e até mesmo a do eleitor se abster do processo eleitoral se
assim entender. Creio que esse exercício é também um legítimo exemplo de
cidadania. Já que os partidos não se esmeram em apresentar bons
programas, ou candidatos que eu possa confiar o meu voto, ninguém pode
me obrigar a votar em qualquer um ou no “menos pior”. Não tenho dúvidas
de que esta postura é exemplo sim de consciência cidadã.
Recupero aqui ideias veiculadas em artigos de minha autoria, publicados há cerca de 10 anos.
Disse que é normal em ano eleitoral o acirramento dos debates
políticos nos mais diferentes segmentos sociais, que no calor dessas
discussões os trabalhadores podem observar com mais atenção o
antagonismo irreconciliável dos interesses de classes. O período
eleitoral é excelente para os setores explorados desmistificarem a
“pregação” abstrata da classe dominante de que vivemos numa democracia
na qual todos os “cidadãos” são iguais perante a lei com os mesmos
direitos e deveres.
Balela.
Notou que ninguém fala em transporte público de graça? Você percebeu
que o custo de um ônibus, com dois empregados, não é tão alto a ponto de
ser impeditivo para que o município assuma esse serviço? Será que
percebe como ficaria melhor o trânsito da cidade? A cidade de Maricá
(RJ), por exemplo, já faz anos que instituiu o transporte público a
custo zero.
Esse é um exemplo claro de que a eleição é o momento em que a classe
dominante reafirma sua influência e direciona os debates para que seus
privilégios sejam ainda maiores. No caso do transporte público os
interesses dos empresários é mais “relevante” aos políticos do que os
direitos dos cidadãos empobrecidos.
Então, fuja da farsa.
O “circo eleitoral” já foi instalado e apresenta o voto como “cura”
para todos os males, montado num cenário perfeito para refletirmos com
profundidade se realmente temos um governo do povo, pelo povo e para o
povo. Vai ser aí, no meio das mentiras e palhaçadas dos programas
eleitorais, que iremos nos perguntar: afinal a Constituição que afirma
que o Brasil se constitui em Estado Democrático e de Direito, tendo como
fundamento a cidadania e a dignidade da pessoa humana, veicula uma
intenção verdadeira ou apenas mais uma ficção?
Nas campanhas eleitorais se revelam mais claramente os interesses
ocultos das elites governantes, o maquiavelismo corrupto dos
politicóides profissionais fica mais nítido, visto que eles escancaram,
sem nenhum pudor, suas demagogias e cinismos. Portanto, esse momento
exige de cada um de nós uma especial atenção.
E é aí que entendo que parte da elite política ainda não considera
que o povo se emancipou, que a senzala tem direitos e os exige de
imediato, não sendo a eleição, ou uma votação, um pressuposto para que
os empobrecidos reclamem o seu quinhão.
Os graves problemas sociais somados à imoralidade reinante em todos
os escalões republicanos convidam a uma reflexão não apenas da
estruturação social, econômica e administrativa desta sociedade
hipócrita, mais principalmente do atual modelo de representação
política.
Quero meu direito de votar nulo ou o de me abster e dizer aos
partidos políticos, à caríssima estrutura da Justiça Eleitoral, aos
candidatos sem-proposta, que o voto nulo ou a abstenção é também uma
legítima declaração de insatisfação a tudo o que me apresentam como
“festa da democracia”. Chega de ver programas eleitorais em que o
candidato é um ator de novela, que ri e chora com muita facilidade, mas
não apresenta resposta aos mais simples problemas de nossas vidas.
Pelo direito à felicidade, e para que futuramente eu não me sinta
culpado pela “bobagem” política ou administrativa de alguém que ajudei
eleger com o meu voto (isso aconteceu-me recentemente) invoco a reflexão
do cidadão eleitor não só pelo voto nulo, mas também pela a abstenção!
Antonio Cavalcante Filho, cidadão, escreve às sextas feiras neste Blog. E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com
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