domingo, 14 de maio de 2017

DETRITOS DA POLÍTICA


Na escolinha do bairro, veremos, em breve, professorinhas de 60 e tantos anos, com andador ou bengala, ensinando as primeiras letras às criancinhas empobrecidas e mal alimentadas, filhas e filhos dos trabalhadores escravizados ou desempregados, que hoje já ultrapassam a casa dos 14 milhões. 




Por Antonio Cavalcante Filho


Durante toda a minha vida de militância social, quando eu ainda morava no Nordeste, já entendia que exclusão social não combina com democracia. Por isso, desde aquela época, iniciando pelo estado do Ceará, onde nasci, passando pelo sertão de Alagoas onde convivi nas Comunidades Eclesiais de Base (CBEs), com religiosos militantes da Teologia da Libertação, e, em Recife, trabalhando como agente voluntário da Pastoral de Moradores de Rua, sempre alimentei a esperança na construção de um mundo verdadeiramente justo. Isso, há mais de 40 anos, em plena ditadura militar. Desde então, sou defensor de uma democracia inclusiva, justa, solidária. Já foi dito por pessoas muito mais qualificadas que eu, mas vou repaginar a afirmação: a democracia é o pior regime, exceto todos os demais.

Dizia Eduardo Galeano: “tem um pecado que não tem redenção, que não merece perdão. É o pecado contra a esperança”. Num verdadeiro sistema democrático, a vontade popular é que impera, e isso se realiza mediante eleições periódicas, em que as pessoas podem escolher o melhor, o mais “cândido”, e daí surge a palavra candidato. Ao estado, cabe, pelo que me parece, criar as regras objetivas para que apenas os bons possam ser selecionados, peneirados, e depois ungidos pela votação popular com o objetivo de promover o bem-estar de todos.

É por essa razão que é inteligente criticar mais as regras do que aos que delas se beneficiam porque são meros produtos. Paulo de Tarso pregava que temos que condenar os pecados e não os pecadores. Em certa medida, por esses dias, tenho que me contradizer e criticar alguns políticos mato-grossenses com mandatos, porque eles estão colaborando para acabar com a esperança de democracia em nosso país.

E nem falo do Maggi, que sempre teve um “habeas corpus preventivo liberatório antecipado” do ministério múblico estadual (assim, com letra miudinha mesmo). A partir do dia que caiu em Brasília, fora da esfera de conforto de seus amigos, o “motosserra” vai se revelando quem de fato é. Já o Zé Riva queria ser senador quando comandava o Estado apoiado por uns 20 caititus bem-mandados e bem-remunerados. Não foi ao Senado porque sabia que lá não teria a couraça que aqui lhe protegia.

Quero mencionar o nome de alguns que votam hoje contra os trabalhadores e contra as aposentadorias em nosso país. Primeiro, apoiaram o golpe que cinicamente apelidaram de impeachment, depois, o congelamento das despesas com escola e posto de saúde durante 20 anos. Isso quer dizer que o pronto-socorro do seu município, por exemplo, que hoje já está um caos, vai ficar ainda muito pior. Quando os nossos filhos estiverem crescidos, e necessitarem levar os filhos deles para consultas médicas, para algum tratamento, ou até mesmo para tomar uma simples vacina, vão sentir na pele, na alma e no bolso o tipo de país que herdaram de nós.

E bem ali, na escolinha do bairro, veremos, em breve, professorinhas de 60 e tantos anos, com andador ou bengala, ensinando as primeiras letras às criancinhas empobrecidas e mal alimentadas, filhas e filhos dos trabalhadores escravizados ou desempregados, que hoje já ultrapassam a casa dos 14 milhões.

Estão transformando o Brasil, que no governo Lula/Dilma conquistou a posição de quinta potência econômica do mundo, em um Haiti, graças aos esforços quadrilheiros e golpistas que se aboletaram do comando da nação. E as instituições de estado, ministério público e judiciário (em letras miúdas de novo) assistem a tudo como se não fosse com eles.

Falemos também da vergonha que impuseram a nós, mato-grossenses, com a apresentação do projeto desumano e imoral do deputado Nilson Leitão, cujo teor revoga a Lei Áurea, e permitindo que os trabalhadores das fazendas trabalhem 18 dias direto, sem folga, e que sejam pagos com casa e comida. Uma bestialidade, uma porcaria esse projeto do Leitão. Sei que retirou de pauta, com vergonha da repercussão negativa, mas, assim como a PEC 215, que propõe a extinção dos indígenas, um arquivamento hoje significa que o mesmo projeto pode voltar na próxima legislatura.

O outro que merece minhas “homenagens” é o José Medeiros, um policial rodoviário que chegou ao Senado num “golpe de sorte”, pois não teve um único voto, e sua eleição é questionada ainda no “rolo da ata”, que o Tribunal eleitoral não quer julgar de jeito nenhum. Não entendo esse projeto “pauta limpa” do TRE de Mato Grosso.

Pois bem.


Nilson Leitão, que é “capo” do PSDB, o mesmo partido do Pedro Taques (e quanto a este eu desvoto todo santo dia!), acha que os trabalhadores rurais devem se igualar aos escravos em termos de condições de trabalho. Lembremos que os homens, mulheres e crianças escravizadas, que vieram da África para o Brasil colonial, foram retiradas de suas famílias à força, que ao chegarem aqui, foram alojadas em senzalas (sua casa) e recebiam alimentação (comida) necessária para se manter em pé, e trabalhavam umas 18 horas por dia para os poderosos. Em troca, só recebiam casa, comida e castigos.

Leitão, do PSDB, deseja que isso volte a valer para você, trabalhador!

Segundo o que ele entende, a jornada diária de trabalho aumenta para até 12 horas diárias, por “motivos de força maior”, e permite a substituição do repouso semanal dos funcionários por um período contínuo, com até 18 dias de trabalho seguidos. Isso quer dizer que o trabalhador ficaria três semanas no meio da lavoura, longe da família, se assim o latifundiário entendesse.

Outra vertente do processo é permitir a venda integral das férias dos empregados, mas só não responde se ele receberia em “cama e comida”, ou em sacas de soja.

Esse absurdo foi tão grande que teve início um processo de pedido de expulsão de Leitão, que não estaria harmonizado com a ideia de seu partido, o PSDB. Isso é uma grande bobagem, o PSDB é isso mesmo, apoiou o golpe, e seu dirigente, Aécio, disse outro dia que se fosse eleito faria o mesmo que Temer: atacaria os direitos dos trabalhadores.

Até Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente por dois mandatos, é mais um velhinho amargurado, que casou com uma “novinha”, ficou “bege” com a proposta da volta da escravatura, e foi tachado de “maconheiro” pelo senador José Medeiros, aquele que não tem nenhum voto.

Esse Medeiros é um caso sério. Durante o recesso parlamentar do ano passado, pegou recursos públicos do Senado e foi fazer politicagem nas cidades potiguaras, no seu estado de origem, como se não tivesse compromisso com as pessoas de Mato Grosso.

E a ele, eu fecho o raciocínio da “vergonha alheia”, que esses políticos estão nos impondo. Medeiros simplesmente defendeu a agressão covarde que um estudante recebeu da polícia goiana durante a greve geral do dia 28 de abril. Uma lástima, porque, para essa barbaridade, ele usou a tribuna do Senado, portanto, um espaço fantástico para defender a melhoria das instituições e das pessoas.

Medeiros não fala nada sobre a renúncia coletiva dos dirigentes da outrora estruturada Polícia Rodoviária Federal, cansados de interferência golpista em sua gestão. A PRF caminha célere para ser, assim como a PF, mais um braço partidário. E o Medeiros, que é da instituição, está mudo, como um “pé de pequi”, quanto ao desmonte da instituição.


E esse sujeito, que não teve um único voto, ainda tem o descaramento de desmerecer com críticas ácidas e levianas ao maior líder popular e melhor presidente que já tivemos. Lula, mesmo sofrendo uma perseguição golpista-judicial-midiática sem fim, chegou a Curitiba para uma audiência judicial, na condição de réu, livre, leve e solto na companhia solidária de mais de 60 mil cidadãos, enquanto seus algozes, juiz, procuradores e imprensa chegaram escoltados por uma operação policial/militar, que não faltou nem mesmo atiradores de elite, ao custo de mais de três triplex no Guarujá.

Quero dizer que continuo inflexível na defesa da democracia e na liberdade do voto. Sei que as regras eleitorais são um lixo e só pode resultar nos detritos políticos que aqui criticamos. Mas o processo é um método, e a repetição de eleições, com regras cada vez mais bem elaboradas, com a consciência do eleitor sem nenhuma influência negativa, permitem uma marcha de melhora no país e no mundo em que vivemos.

Mas, se for para votar nesse tipo de gente, que está roubando seus direitos com o “sol quente”, por favor, se abstenha.

Antonio Cavalcante Filho é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD News


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