terça-feira, 6 de junho de 2017

DIRETAS JÁ!


A eleição indireta pós-golpe-midiático-parlamentar-judicial de 2016, como querem os achacadores da República, é mais um golpe dentro do golpe, é retrocesso, é a consumação da ruptura do Estado Democrático de direito, e, por fim, a morte da democratização social que excluirá a grande maioria dos brasileiros dos seus direitos básicos conquistados nos últimos 100 anos.



Por Antonio Cavalcante Filho


É visível que o nosso país vivencia um imenso vazio democrático, desde o ano de 2014, a partir do momento em que um conhecido criminoso perdeu a eleição para presidente da república, (após a derrota, ele seria flagrado negociando propina). Graças a um mandado de busca e apreensão autorizado pelo Supremo Tribunal Federal, na residência, gabinete e escritórios do meliante, foram encontrados dinheiro roubado, armas sem registro, bloqueador de celulares usados em presídios, comprovantes de depósitos bancários com a inscrição “Cx 2”.

Sabe-se que este delinquente envolveu até a seus familiares em sua atividade criminosa, sendo que estes foram presos pela Polícia Federal, enquanto o dito cujo continua solto, mas, quero crer, que é só por enquanto. Parafraseando os coxinhas midiotas e nazi-doidos, posso dizer que: “Não tenho culpa, eu não votei nele!”.

Se ocorreu o “impeachment” sem crime (o golpe que surrupiou o mandato de uma presidente eleita com legitimidade), sob a acusação de ter cometido “pedalada fiscal”, para logo em seguida facilitarem que uma legião de criminosos se aboletasse dentro dos cofres das riquezas nacionais. E se essa mesma quadrilha está roubando as aposentadorias e direitos sociais dos trabalhadores, nada mais justo que o povo escolha o sucessor do usurpador, nem que seja para um mandato tampão.

Pelo que consta no parágrafo único do art. 1º da Constituição Federal, onde diz que, “todo poder emana do povo”, e, levando em conta as circunstâncias em que o país se encontra, a eleição direta, já se justificaria por si mesma. Acredito ainda que devemos não apenas escolher o presidente e um vice, mas todo um novo Congresso Nacional, já que esse que aí está, na sua maioria, está bichado e não nos representa, a não ser aos interesses nada republicanos de um empresariado mafioso e quadrilheiro. Basta dizer que Aécio Neves e Michel Temer assumiram o compromisso de destruir as conquistas sociais com o argumento de aprovação de “reformas”. Mentira! Por reforma se entende que vamos melhorar algo (uma casa, um carro velho) e não destruir como desejam os golpistas.

Só agora as pessoas começam a entender que a deposição de Dilma foi necessária, para que uma quadrilha se instalasse no poder para retirar direitos dos pobres e os entregar aos ricos. Ora, o décimo terceiro salário, o fundo de garantia, as aposentadorias foram conquistas de milhares de homens e mulheres que viveram, lutaram e morreram por esses ideais ao longo de muitos anos. Ao destruir esses direitos matamos aquelas pessoas a mais uma vez e condenamos o país e as futuras gerações à miséria.

Na iminência da queda de Temer, já se cogitam os nomes de quem dará sequência às “reformas” do golpe contra os trabalhadores e empobrecidos deste país, mas nenhum deles cogita se submeter ao apoio popular para uma eleição. É que as tais reformas capitalistas interessam aos ricos, que bancaram a eleição dos políticos brasileiros nos últimos anos.

Sabe-se que 10 empresas se reuniram em 2014, e que juntas elegeram 70% da Câmara dos Deputados, pois colaboraram com doações a 360 dos 513 deputados eleitos. Isso consta das informações oficiais oferecidas pelos políticos à Justiça Eleitoral, é o “caixa 1”, não se podendo dimensionar o que constaria nas doações paralelas, o caixa 2 (que não é declarado, é ilícito).

Deste modo, 7 a cada 10 deputados federais eleitos receberam recursos de pelo menos uma dessas dez empresas que mais fizeram doações eleitorais nas eleições de 2014.

A maior bancada é do grupo JBS, que, por meio de diversas pessoas jurídicas, distribuiu R$ 61,2 milhões para 162 deputados eleitos, trata-se da maior empresa de frigoríficos do Brasil, com operações em diversos países. A JBS deu dinheiro para 21 dos 28 partidos que estão representados na Câmara, e as direções partidárias redistribuíram o dinheiro aos então deputados ainda candidatos. Para se ter uma ideia da grandiosidade, a JBS elegeu a mais numerosa bancada da Câmara, mais que o dobro da do maior partido, o PT. No mês de maio de 2017, os donos da JBS confessaram que não doavam, mas compravam apoio parlamentar para aprovar leis que interessavam somente a ela e seus negócios.

O segundo doador eleitoral é o Grupo Bradesco, que entregou cerca de R$ 20,3 milhões para 113 deputados eleitos por 16 partidos, se tornando a segunda maior bancada empresarial. Ficou à frente do grupo Itaú, que contribuiu para a eleição de 84 novos deputados de 16 partidos e, recentemente, este banco teve uma dívida de 25 bilhões de reais perdoada pelo governo golpista de Michel Temer. “Ingrato” esse banco Itaú que doou apenas R$ 6,5 milhões, distribuídos entre 42 deputados eleitos.

Entre os 10 maiores doadores estão 5 empreiteiras, empresas que estão sempre envolvidas em casos de corrupção. É o caso da OAS, Andrade Gutierrez, Odebrecht, UTC Engenharia e Queiroz Galvão.

Sabe-se que a OAS investiu R$ 13 milhões para ajudar a eleger 79 deputados de 17 partidos políticos, a empreiteira Andrade Gutierrez gastou quase o mesmo valor e ajudou a eleger 68 deputados federais. Já a Odebrecht, que confessou seus ilícitos recentemente, doou R$ 6,5 milhões para 62 deputados, a UTC deu R$ 7,2 milhões para 61 parlamentares, e a Queiroz Galvão entregou generosos R$ 7,5 milhões para a campanha eleitoral de 57 parlamentares.

Outro conglomerado empresarial, o grupo Vale, elegeu a terceira maior bancada empresarial, são 85 os deputados federais eleitos, distribuídos por 19 partidos, sendo contemplados com uma parte dos R$ 17,7 milhões doados pela Vale.

Outra empresa voltada ao consumo popular se destacou nas eleições: a Ambev, que é proprietária das marcas Brahma e Antarctica, entre outras cervejas. A Ambev doou R$ 11,7 milhões e com essa grana ajudou a eleger 76 deputados federais que integram 19 partidos políticos.

A justificativa das empresas doadoras é que não privilegiam nenhum partido, candidato ou corrente política e buscam apoiar o mais amplo espectro possível. Sabe-se que os 360 deputados federais financiados pelas 10 maiores empresas estão distribuídos por 23 partidos políticos diferentes.

Por iniciativa da Ordem dos Advogados do Brasil através de uma ação proposta, a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) votou contra a doação de empresas, mas essa regra não valia para as eleições de 2014. O maior apoiador dessa prática, conforme confessado no julgamento no STF, é o ministro Gilmar Mendes, que pediu vistas do processo e impediu a publicação da decisão a tempo de frear a farra das doações eleitorais.

Esse mesmo ministro confessa que foi interlocutor da JBS, a campeã das doações eleitorais, no mesmo período em que os proprietários da empresa gravaram conversas com Aécio Neves e Michel Temer, flagrando o pedido e entrega de propina em troca de favores com recursos públicos.

Desse modo, é certo que no atual Congresso Nacional, senadores e deputados eleitos com recursos de empresas suspeitas, não podem continuar votando as matérias de interesse da sociedade. Parafraseando o ministro Marco Aurelio de Melo, do Supremo Tribunal Federal, a democracia é um regime de adesão e que cobra preços módicos. Portanto o povo tem que discutir os projetos que interessam e delegar a quem assume esses compromissos. Pelo que se a maioria dos atuais ocupantes do Palácio do Planalto e Congresso Nacional responde ao comando da Plutocracia, e vai continuar retirando dos pobres para entregar aos ricos.

Na realidade, há uma crise capitalista globalizada em que os rentistas querem crescer de qualquer jeito e a qualquer custo. Por isso, estão se apossando do dinheiro das aposentadorias, diminuindo os direitos trabalhistas e deixando o país prostrado de joelhos. Nós podemos evitar isso, pressionando a classe política farisaica a rever seus conceitos e reconhecer que todo poder emana do povo e para ele deve ser exercido.

Em qualquer País democrático, o sufrágio universal (o exercício do voto direto e secreto dos cidadãos) é o mecanismo legitimo do povo escolher quem irá lhe governar. A eleição indireta pós-golpe-midiático-parlamentar-judicial de 2016, como querem os achacadores da República, é mais um golpe dentro do golpe, é retrocesso, é a consumação da ruptura do Estado Democrático de direito, e, por fim, a morte da democratização social que excluirá a grande maioria dos brasileiros dos seus direitos básicos conquistados nos últimos 100 anos.

Portanto, após mais esse golpe das elites corruptas contra a democracia no Brasil, “Diretas Já!” é uma exigência popular que não podemos abrir mãos, sobre pena de vivermos eternamente soterrados pela avalanche da mentira, da exploração e roubalheira da decrépita oligarquia brasileira.

Antonio Cavalcante Filho, cidadão de Mato Grosso, escreve neste espaço às sextas-feiras

Fonte RD News

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