A esperança é que com o passar do tempo, cada vez mais fique evidente, que as medidas que estão sendo implementadas não passam de um grande saco de maldades contra o Brasil e contra a esmagadora maioria do povo. Até mesmo para aqueles mais “distraídos”. A única saída para a situação em que nos encontramos é que a maioria perceba que os poderosos, que representam menos de 1% da população, aplicaram um golpe sórdido, contra mais de 99% dos brasileiros.
Por José Álvaro de Lima Cardoso
O governo arrecadou R$ 12,1 bilhões com o leilão de quatro usinas
hidrelétricas operadas pela Companhia Energética de Minas Gerais
(Cemig), no dia 27 de setembro.
As usinas foram arrematadas pelos chineses, franceses e italianos.
Estes últimos, quando conseguiram arrematar o seu lote comemoraram como
se tivessem conquistado a Copa do Mundo de Futebol, ganhando todas as
partidas. Os R$ 12,1 bilhões arrecadados com a venda, algo em torno de
2% do que o Brasil irá gastar com os serviços da dívida pública, será
usado para cobrir parte do rombo das contas públicas deste ano, de R$
159 bilhões, o maior da história.
Mais uma vez, praticamente não houve reação da sociedade e dos
trabalhadores, em relação a essa pura e simples entrega do patrimônio
nacional para empresas estrangeiras, a preço de banana. Com previsíveis e
graves efeitos, inclusive, sobre a vida das gerações futuras, que, por
exemplo, pagarão preços mais altos pelos serviços de energia elétrica.
Fenômeno que, aliás, ocorreu sempre que empresas desse setor essencial
foram privatizadas.
O governo anunciou que pretende arrecadar com a venda do Sistema
Eletrobrás entre R$ 20 e R$ 30 bilhões. Mas o faturamento anual da
empresa é de R$ 60 bilhões e, segundo cálculos de especialistas, os
ativos do Sistema valem cerca de R$ 370 bilhões. Ou seja, estão torrando
um patrimônio nacional estratégico, que irá tornar o Brasil dependente
de decisões de multinacionais da área de energia, por menos de 10% de
valor real dos ativos. Ademais, os rios que alimentam o sistema irão
deixar de atender as populações e serão, na prática, privatizados. O
abastecimento humano, portanto, será diretamente afetado, com grande
certeza. A queima desse patrimônio estratégico possivelmente está na
fatura do golpe, pois, nos EUA e em países da Europa existem grandes
problemas de falta de água.
Uma das tarefas do golpe é destruir os mecanismos de que o Estado
dispõe para promover o desenvolvimento nacional, e a privatização de
setores estratégicos está perfeitamente dentro dessa lógica. Por
exemplo, acabaram de aprovar o fim da Taxa de Juros de Longo Prazo
(TJLP), criando a TLP, que terá taxas próximas às do mercado,
descartando, portanto, as possibilidades de crédito barato para
viabilizar o crescimento industrial. Estão desarticulando, de caso
pensado, toda a estrutura produtiva que o Brasil construiu ao longo de
décadas, desde Getúlio, fundamental para garantir uma indústria de base
nacional. Com a Petrobrás estão usando tática diferente, para evitar
reação da sociedade: desmontam a companhia, sem alarde, para facilitar o
processo de venda do controle acionário para estrangeiros. Na agenda
de guerra que implementam, esvaziam o Estado brasileiro, tirando-o do
controle de setores estratégicos, inclusive depenando o sistema de
defesa nacional.
Na citada agenda de guerra, a indústria também não tem lugar. As
medidas que estão tomando aprofundam o processo de desindustrialização
que já vem ocorrendo há vários anos, ao mesmo tempo que
internacionalizam mais a economia brasileira, tornando o país uma
espécie de plataforma de matérias primas das multinacionais. Além disso,
aos poucos fazem definhar o mercado consumidor interno que, até 2014,
vinham crescendo continuamente por 10 anos seguidos. A fórmula de
política econômica que está sendo implementada no Brasil, um ultra
neoliberalismo anacrônico, representa um assalto à renda e às condições
de vida do povo brasileiro, política que fracassou em todo o mundo.
Claro, um fracasso do ponto de vista da nação, porque as minorias enriquecem com as privatizações e o torra-torra de patrimônio púbico.
A esperança é que com o passar do tempo, cada vez mais fique
evidente, que as medidas que estão sendo implementadas não passam de um
grande saco de maldades contra o Brasil e contra a esmagadora maioria do
povo. Até mesmo para aqueles mais “distraídos”. A única saída para a
situação em que nos encontramos é que a maioria perceba que os
poderosos, que representam menos de 1% da população, aplicaram um golpe
sórdido, contra mais de 99% dos brasileiros. Até que esse dia chegue,
fica valendo no País a frase do prestigiado professor polonês, Zigmunt
Bauman, que intitula este despretensioso artigo.
Fonte Outras Palavras