domingo, 19 de novembro de 2017

REPÚBLICA DO "PATO DO POWERPOINT"


A “república do patinho do PowerPoint” é o conceito que melhor descreve o momento republicano brasileiro. os criminosos sonegadores de sempre, encastelados na FIESP moveram os barbantes que deram movimento às marionetes que foram às ruas com camisetas amarelas, uma panela na mão e nada na cabeça!





Por Antonio Cavalcante Filho


Há cerca de uns 128 anos, a aristocracia semifeudal (elite rural escravocrata) brasileira, a mesma que sempre apoiou o império, descontente com os rumos da monarquia, principalmente no que se refere ao fim da escravidão, a questão religiosa (interversão do Estado na igreja) e a questão da guerra do Paraguai, mancomunou-se com meia dúzia de marechais, generais e coronéis, entre eles, o Marechal Deodoro, amigo de D. Pedro e um dos maiores defensores da Monarquia para aplicarem o maior golpe de estado da nossa história.

Em todo dia 15 de novembro de cada ano, esse episódio é relembrado no feriadão da “Proclamação da República”. República, literalmente falando significa "coisa do povo". Esse golpe, só agigantou a farsa da dominação burguesa no Brasil: uma “República” proclamada sem o povo, de mãos dadas com a “democracia” dos ricos corruptos e sanguessugas desse mesmo povo. Um dos primeiros atos de corrupção do novo regime que nasceu sem a participação popular foi quando os golpistas sacaram dos cofres públicos 5 mil contos de réis para entregarem a Dom Pedro II como forma de indenização, o que de imediato ele recusou dizendo: “Com que autoridade esses senhores dispõem do dinheiro público? ”

De lá para cá, golpes atrás de golpes foram se sucedendo paulatinamente. Em 3 de novembro de 1891, Deodoro da Fonseca, por decreto, dissolveu o Congresso Nacional. Também por decreto, para completar o golpe, ele instaurou o Estado de Sítio autorizando o exército a cercar a Câmara e o Senado para prender os seus oposicionistas. Diante da reação da marinha que ameaçou bombardear a cidade do Rio de Janeiro, caso o presidente continuasse no cargo, vinte dias após o golpe de 3 de novembro, Deodoro renuncia. Com um perfil também ditatorial, em seu lugar, assumiu Floriano Peixoto.

Em 1930, veio o golpe de caráter civil-militar conhecido como “Revolução de 30. Em seguida, em 1937, o golpe do “Estado Novo”. Em 1945, deposição de Getúlio Vargas. Entre 31 de março a 2 de abril de 1964, o malfadado golpe Militar, e, em 2016, o golpe parlamentar-midiático-judicial. A partir daí, o que antes era conhecido como a “república das bananas”, inicia-se o período da república do “Pato do PowerPoint”.

A burguesia brasileira, herdeira das capitanias hereditárias e do colonialismo escravocrata, nunca permitiu que fôssemos realmente uma nação livre, democrática, republicana e soberana. Ela discrimina a música popular e as diversas espécies de manifestação cultural legítima do nosso povo. Prestigiam o cinema estrangeiro, e as férias são usufruídas em Miami, a segunda língua é o inglês, ainda que nos 12 países da América do Sul impere a língua espanhola, com grande número de falantes, e o guarani (uns 7 milhões) que só perdem para o português, em razão dos 210 milhões de brasileiros.

Aqui, nessa terra amada por Deus e bonita por natureza, a propaganda nos meios de comunicação, subornada às classes dominantes, fomenta a crítica e a discriminação contra nossos irmãos da Argentina; nos coloca contra o Paraguai, o tratando como nação de segunda categoria (já o destruímos uma vez, na Guerra da Tríplice Aliança, para atender a ordem e os interesses financeiros da Inglaterra); da mesma forma, somos incentivados a criticar a Bolívia, país de rica natureza e cultura, onde praticamente foi erradicado o analfabetismo e que cresce a ritmo chinês. Outro “inimigo” é a Venezuela, cujos poços de petróleo, somados ao “nosso” pré-sal, nos colocaria na vanguarda da produção de energia num eventual Mercosul unificado.

A coligação golpista cunha/Temer/Aécio/Rede Globo/Lavajato entregou essa riqueza para as petroleiras internacionais, contrariando o projeto interessante ao Brasil, que era o de aplicar o dinheiro do pré-sal nas escolas para nossas crianças e na saúde da população.

Tudo isso está ocorrendo porque os coxinhas midiotas criaram a República do Pato, gente “teleguiada” por um grupo bem organizado, articulado, pequeno, mas com influência que gerou a comoção pública para darem mais um golpe no Brasil. Umas das técnicas usadas foi o “PowerPoint”, transformado pelo Ministério Público Federal como forma preliminar de execução pública de reputações. Por isso, a “república do patinho do PowerPoint” é o conceito que melhor descreve o momento republicano brasileiro.

A configuração dessa nova “república” foi feita para que os bandidões estancassem a “sangria processual” que avançava sobre os chefões políticos do Golpe, como o Eduardo Cunha, Michel Temer e o Romero Jucá, do PMDB, e o meninão, com uma “carreira invejável” (palavras do STF), Aécio Neves, do PSDB. E os criminosos sonegadores de sempre, encastelados na FIESP moveram os barbantes que deram movimento às marionetes que foram às ruas com camisetas amarelas, uma panela na mão e nada na cabeça!

Nessa república do patinho do PowerPoint, é permitido que a polícia federal, a pedido do Rodrigo Janot, instaure um inquérito para investigar a morte de um cachorro. O cão labrador, não mais se locomovia por estar doente e contar com 13 anos de idade, o que equivale a uns 70 anos da espécie humana. Mas como era de Dilma Roussef, o sacrifício do cachorro, por ordem do veterinário, é investigado pelo MPF.

Mas, o mesmo MPF, e a mesma PF que deverá fazer perícia em ossos de um animal morto há dois anos, vê Michel Temer negociar com os deputados todos os dias, dispensando verbas públicas para aplacar a “sangria” de mais um processo criminal. Nesse caso, a compra de votos de deputados, punida no Mensalão, nem passa pelo crivo da instauração de um inquérito.

Os gordos salários dos magistrados que chegam a meio milhão de reais, conforme denúncia, que se tornou pública, não é objeto de qualquer investigação séria. Os bandidos beneficiados com a delação premiada curtem deliciosamente o dinheiro que restou após “entregar” os parceiros de crime. A delação premiada prova que o crime compensa.

Essa é a prova da existência da república do patinho do PowerPoint.

Eu sei que há muita gente arrependida de ter dado apoio ao Golpe. A tal pedalada da Dilma gerou um déficit de 20 bilhões ao país. O timão montado pela Rede Globo, bancos, PSDB e PMDB está multiplicando o rombo por 10, devendo finalizar o ano de 2017 com um déficit que chegará a R$ 200 bilhões.

E o que isso significa?

Significa que o país quebrou, e é por essa razão que o preço da gasolina sobe toda a semana, já não dá para prever quanto custará o gás de cozinha no mês que vem, e temos 15 milhões de famílias sofrendo o drama do desemprego de, pelo menos, um de seus membros.

Imperam atualmente o medo do futuro e a discriminação das minorias, os programas sociais estão ficando na saudade, já se prevê o fim da escola pública e de todo o sistema único de saúde. A burguesia queria um país somente para os da sua espécie, mas vou dar uma notícia ruim: do jeito que anda o governo Temer, com a briga de seus aliados, do PSDB, e a recalcitrância da Rede Globo (que não decide se aposta em Sergio Moro ou Luciano Huck para a presidência) vão nos jogar completamente no “colo” da nova Colônia, o país de Donald Trump.

Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com