Pra se defender, o clepto/plutocrático/antissocial chamou o Exército. E foi assim, que, no embalo do samba e na ressaca carnavalesca, com a cabeça ainda encharcada da “manguaça”, a organização criminosa da “Casa Grande” declarou guerra ao crime organizado da senzala. Se o crime organizado do Rio, como dizem os golpistas, está fora de controle, o que diremos da quadrilha que tomou de assalto o poder no Brasil?
Decididamente, não sou um “folião-raiz”, nunca compreendi muito bem
essas batalhas entre escolas de samba, ainda que reconheça o trabalho
social feito por algumas delas, como a Estação Mangueira, por exemplo,
tendo na pessoa de Dona Zica uma inspiradora nessa prática em defesa das
comunidades carentes. Essa mulher batalhadora é retratada por Tom Jobim
na letra da música “Menino da Mangueira”.
Outro lado interessante do carnaval, que reconheço, está no plano da
preservação cultural, uma vez que se trata de uma festa popular que
envolve muitas pessoas mantendo todas as características do Brasil, seu
povo e as diversas regiões. Os muitos Brasis, do sul, do nordeste, da
paulicéia, amazônico, têm seu carnaval. O Rio de Janeiro se notabiliza
pela grandiosidade da festa que se transformou em produto cultural de
consumo, e, pelo que vi, agora também é palco de reflexão contra o
Golpe.
Quem diria que, em pleno Carnaval 2018, logo após a vinheta da
Globogolpe, apareceriam na tela da TV os “patos da FIESP” dançando
animadamente na avenida (me lembra a dancinha ridícula do MBL!), a
imagem marcante do Vampirão de Direita e os Manifestoches. Estes últimos
são aqueles midiotas que vestiam a camisa da CBF, assistiam dia e noite
a Globonews (isso quando não tinha Big Brother Brasil), e depois
corriam para as ruas “lutar contra a corrupção” e fazer self com a
“puliça”. Pediam intervenção militar e o “golpítima” de Dilma por causa
da tal pedalada.
Só que a coisa não ficou só nisso.
Incomodado com a nudez real, o consórcio Rede Globo/Michel Temer
manobrou para que os foliões do Grêmio Recreativo Escola de Samba
Paraíso do Tuiuti não vencessem a disputa, mas não conseguiram impedir a
segunda colocação. A repercussão do protesto da escola foi mundial, e o
povo brasileiro, animado no ritmo do samba, ecoou nos mais diversos
sotaques o “Fora Temer! ”.
Pra se defender, o clepto/plutocrático/antissocial chamou o Exército.
E foi assim, que, no embalo do samba e na ressaca carnavalesca, com a
cabeça ainda encharcada da “manguaça”, a organização criminosa da “Casa
Grande” declarou guerra ao crime organizado da senzala. Se o crime
organizado do Rio, como dizem os golpistas, está fora de controle, o que
diremos da quadrilha que tomou de assalto o poder no Brasil?
O Decreto de intervenção número 9.288 foi publicado na sexta, 16 de
fevereiro de 2018. Na ementa, vemos que o objetivo é a “intervenção
federal no Estado do Rio de Janeiro, com a “finalidade” de pôr termo ao
grave comprometimento da ordem pública”. Só que limita a duração da
intervenção federal que vai até 31 de dezembro de 2018, depois diz que
se reduz apenas à área de segurança pública.
Acredito que o decreto do Temeroso foi redigido por alguém com
ressaca, e atordoado com o sucesso do enredo e alegorias dos foliões da
Paraíso do Tuiuti, que, confuso, tal quais os manifestantes da extrema
direita (militontos, midiotas e nazi-doiodos), acabou produzindo um
texto que nos lembra o “Samba do Crioulo Doido”, de Stanislaw Ponte
Preta, lançado em 1966.
Se Stanislaw fosse vivo, com tamanha confusão de um decreto sem nexo,
sem sentido, beirando à insanidade, não sabendo ao certo, se é uma
Intervenção Federal, se é um Estado de Defesa, ou se trata de um Estado
de Sítio, ou ainda de uma intervenção apenas na área de segurança
pública, iria compor hoje o “Samba dos Coxinhas Loucos”.
Na prática, depois de refletir sobre a mais nova bobagem, que é mais
uma qualificadamente golpista, começaram a fazer negações sobre a
situação da segurança pública no estado do Rio de Janeiro. Resumindo: a
“coisa” foi mais ou menos assim: magoados com as críticas da população,
Temer, que é odiado por 97% dos brasileiros, e seus assessores redigiram
um decreto de intervenção, que depois não era mais intervenção federal
(mesmo que seja isso que está no texto). Era só uma intervenção na área
de segurança pública, disseram.
E olha a barrigada: a Constituição do Brasil diz lá no artigo 60,
parágrafo primeiro, que não pode ser votada matéria constitucional
quando houver intervenção federal. Tropeçaram na própria torpeza,
porque, ao menos por enquanto, não podem destruir a aposentadoria dos
nossos velhinhos, com aquela rapidez que planejavam.
O mesmo Congresso onde mais da metade dos parlamentares responde a
algum procedimento investigatório no Supremo Tribunal Federal (STF). Os
mesmos trezentos picaretas com anel de doutor, que vivem de lobbys,
respiram conchavos, bebem propinas e comem jetons. Os mesmos que
roubaram mais de 54 milhões de votos ao afastarem uma presidente sem
crime de responsabilidade, foram também os mesmos que aprovaram a
“Intervenção Federal do Usurpador”.
Agora, a intervenção militar pode chegar a outro nível, uma vez que é
possível estendê-la para todo o país, diminuindo as garantias da
população que já são poucas, e acirrar ainda mais os índices de
violência. Se, para os golpistas, loucura pouca é bobagem, vejam só o
que estão pretendendo: um mandado coletivo, que, na prática, é uma
licença para invadir, por varejo e no atacado, uma casa, uma rua, ou uma
comunidade inteira, sem a necessidade de apresentar qualquer
justificativa.
Visivelmente, o país está quebrado. Temer e seus amigos congelaram os
gastos com saúde durante vinte anos, na tal PEC dos gastos, e o aumento
de crianças com microcefalia e a volta da febre amarela são os
primeiros resultados dessa pedalada criminosa. Este é um governo de
banqueiros, que engolem mais de 40 por cento do orçamento, para
pagamento de uma tal dívida pública que já foi paga muitas vezes. Só que
a culpa das coisas malfeitas (pelos políticoides) está sendo jogada
para as costas dos trabalhadores. Com isso, as novas gerações certamente
viverão num país em pé de guerra, já que em estado de exceção nos
encontramos desde 2016, com o golpe midiático/parlamentar/judicial
apelidado de impeachment.
Enfim, começando pelo Rio de Janeiro, quando os tambores, as cuícas e
os tamborins dos foliões já se calavam nas avenidas, veio a tal
intervenção militar acompanhada da censura ao “Vampirão” da Tuiuti,
cujas consequências ainda são imprevisíveis, podendo terminar em
tragédia e ainda desemborcar em outra ditadura militar. Mas isso só o
tempo dirá.
Uma coisa já é certa: seguindo um roteiro traçado impiedosamente nas
alcovas da Casa Grande pela elite do atraso, se antes, com o golpe, já
estávamos vivendo num estado de exceção, agora marchamos a passos largos
para um estado policialesco, que logo mais se pautará na censura e na
violência, genuinamente característico de um governo antidemocrático,
antipovo, lesa-pátria e fascista.
Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e
escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail:
antoniocavalcantefilho@outlook.com
Fonte RD News