segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

INTERVENÇÃO MILITAR OU RESSACA DE CARNAVAL?


Pra se defender, o clepto/plutocrático/antissocial chamou o Exército. E foi assim, que, no embalo do samba e na ressaca carnavalesca, com a cabeça ainda encharcada da “manguaça”, a organização criminosa da “Casa Grande” declarou guerra ao crime organizado da senzala. Se o crime organizado do Rio, como dizem os golpistas, está fora de controle, o que diremos da quadrilha que tomou de assalto o poder no Brasil? 




Por Antonio Cavalcante Filho 


Decididamente, não sou um “folião-raiz”, nunca compreendi muito bem essas batalhas entre escolas de samba, ainda que reconheça o trabalho social feito por algumas delas, como a Estação Mangueira, por exemplo, tendo na pessoa de Dona Zica uma inspiradora nessa prática em defesa das comunidades carentes. Essa mulher batalhadora é retratada por Tom Jobim na letra da música “Menino da Mangueira”.

Outro lado interessante do carnaval, que reconheço, está no plano da preservação cultural, uma vez que se trata de uma festa popular que envolve muitas pessoas mantendo todas as características do Brasil, seu povo e as diversas regiões. Os muitos Brasis, do sul, do nordeste, da paulicéia, amazônico, têm seu carnaval. O Rio de Janeiro se notabiliza pela grandiosidade da festa que se transformou em produto cultural de consumo, e, pelo que vi, agora também é palco de reflexão contra o Golpe.

Quem diria que, em pleno Carnaval 2018, logo após a vinheta da Globogolpe, apareceriam na tela da TV os “patos da FIESP” dançando animadamente na avenida (me lembra a dancinha ridícula do MBL!), a imagem marcante do Vampirão de Direita e os Manifestoches. Estes últimos são aqueles midiotas que vestiam a camisa da CBF, assistiam dia e noite a Globonews (isso quando não tinha Big Brother Brasil), e depois corriam para as ruas “lutar contra a corrupção” e fazer self com a “puliça”. Pediam intervenção militar e o “golpítima” de Dilma por causa da tal pedalada.

Só que a coisa não ficou só nisso.

Incomodado com a nudez real, o consórcio Rede Globo/Michel Temer manobrou para que os foliões do Grêmio Recreativo Escola de Samba Paraíso do Tuiuti não vencessem a disputa, mas não conseguiram impedir a segunda colocação. A repercussão do protesto da escola foi mundial, e o povo brasileiro, animado no ritmo do samba, ecoou nos mais diversos sotaques o “Fora Temer! ”.

Pra se defender, o clepto/plutocrático/antissocial chamou o Exército. E foi assim, que, no embalo do samba e na ressaca carnavalesca, com a cabeça ainda encharcada da “manguaça”, a organização criminosa da “Casa Grande” declarou guerra ao crime organizado da senzala. Se o crime organizado do Rio, como dizem os golpistas, está fora de controle, o que diremos da quadrilha que tomou de assalto o poder no Brasil?

O Decreto de intervenção número 9.288 foi publicado na sexta, 16 de fevereiro de 2018. Na ementa, vemos que o objetivo é a “intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro, com a “finalidade” de pôr termo ao grave comprometimento da ordem pública”. Só que limita a duração da intervenção federal que vai até 31 de dezembro de 2018, depois diz que se reduz apenas à área de segurança pública.

Acredito que o decreto do Temeroso foi redigido por alguém com ressaca, e atordoado com o sucesso do enredo e alegorias dos foliões da Paraíso do Tuiuti, que, confuso, tal quais os manifestantes da extrema direita (militontos, midiotas e nazi-doiodos), acabou produzindo um texto que nos lembra o “Samba do Crioulo Doido”, de Stanislaw Ponte Preta, lançado em 1966.

Se Stanislaw fosse vivo, com tamanha confusão de um decreto sem nexo, sem sentido, beirando à insanidade, não sabendo ao certo, se é uma Intervenção Federal, se é um Estado de Defesa, ou se trata de um Estado de Sítio, ou ainda de uma intervenção apenas na área de segurança pública, iria compor hoje o “Samba dos Coxinhas Loucos”.

Na prática, depois de refletir sobre a mais nova bobagem, que é mais uma qualificadamente golpista, começaram a fazer negações sobre a situação da segurança pública no estado do Rio de Janeiro. Resumindo: a “coisa” foi mais ou menos assim: magoados com as críticas da população, Temer, que é odiado por 97% dos brasileiros, e seus assessores redigiram um decreto de intervenção, que depois não era mais intervenção federal (mesmo que seja isso que está no texto). Era só uma intervenção na área de segurança pública, disseram.

E olha a barrigada: a Constituição do Brasil diz lá no artigo 60, parágrafo primeiro, que não pode ser votada matéria constitucional quando houver intervenção federal. Tropeçaram na própria torpeza, porque, ao menos por enquanto, não podem destruir a aposentadoria dos nossos velhinhos, com aquela rapidez que planejavam.

O mesmo Congresso onde mais da metade dos parlamentares responde a algum procedimento investigatório no Supremo Tribunal Federal (STF). Os mesmos trezentos picaretas com anel de doutor, que vivem de lobbys, respiram conchavos, bebem propinas e comem jetons. Os mesmos que roubaram mais de 54 milhões de votos ao afastarem uma presidente sem crime de responsabilidade, foram também os mesmos que aprovaram a “Intervenção Federal do Usurpador”.

Agora, a intervenção militar pode chegar a outro nível, uma vez que é possível estendê-la para todo o país, diminuindo as garantias da população que já são poucas, e acirrar ainda mais os índices de violência. Se, para os golpistas, loucura pouca é bobagem, vejam só o que estão pretendendo: um mandado coletivo, que, na prática, é uma licença para invadir, por varejo e no atacado, uma casa, uma rua, ou uma comunidade inteira, sem a necessidade de apresentar qualquer justificativa.

Visivelmente, o país está quebrado. Temer e seus amigos congelaram os gastos com saúde durante vinte anos, na tal PEC dos gastos, e o aumento de crianças com microcefalia e a volta da febre amarela são os primeiros resultados dessa pedalada criminosa. Este é um governo de banqueiros, que engolem mais de 40 por cento do orçamento, para pagamento de uma tal dívida pública que já foi paga muitas vezes. Só que a culpa das coisas malfeitas (pelos políticoides) está sendo jogada para as costas dos trabalhadores. Com isso, as novas gerações certamente viverão num país em pé de guerra, já que em estado de exceção nos encontramos desde 2016, com o golpe midiático/parlamentar/judicial apelidado de impeachment.

Enfim, começando pelo Rio de Janeiro, quando os tambores, as cuícas e os tamborins dos foliões já se calavam nas avenidas, veio a tal intervenção militar acompanhada da censura ao “Vampirão” da Tuiuti, cujas consequências ainda são imprevisíveis, podendo terminar em tragédia e ainda desemborcar em outra ditadura militar. Mas isso só o tempo dirá.

Uma coisa já é certa: seguindo um roteiro traçado impiedosamente nas alcovas da Casa Grande pela elite do atraso, se antes, com o golpe, já estávamos vivendo num estado de exceção, agora marchamos a passos largos para um estado policialesco, que logo mais se pautará na censura e na violência, genuinamente característico de um governo antidemocrático, antipovo, lesa-pátria e fascista.

Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD News