"O afastamento de Bolsonaro pode resultar em confrontos políticos e no
acirramento da divisão que o país já vive. Mas deixar de enquadrá-lo por
temor das consequências será pior. Deixará o caminho livre para que ela
vire ditador", escreve a jornalista Tereza Cruviel
Brasil 247
Por Tereza Cruviel
Neste domingo, 03 de maio, em ato com apoiadores que
novamente pediram intervenção militar e fechamento dos outros poderes, e
espancaram jornalistas, Bolsonaro voltou a desafiar as instituições e a
sugerir que pode dar um golpe. Vamos ficar esperando que ele o consume?
Ao dizer que tem o apoio do povo e das Forças Armadas, e que não
aceitará mais intervenções em seu governo, está dizendo que pode ir para
o golpe, para a ruptura institucional. Lembremos que ele disse, na
semana passada, que quase houve uma crise institucional com a decisão do
ministro Alexandre Morais de barrar a nomeação de Alexandre Ramagem
para diretor-geral da Polícia Federal. A reação de ontem foi contra o
STF, que ao contrário do inerte Congresso, está mais ativo na defesa da
democracia e na imposição da legalidade a Bolsonaro.
Bolsonaro está em apuros criminais, está acuado. Na manhã de sábado,
em reunião com comandantes militares e generais de seu governo, ele
teria reclamado do SFT e dito que não aceitará mais decisões contra seu
governo. E elas virão, em decorrência dos inquéritos que estão sendo
tocados pela PF sob o comando do Supremo: o das fake news, o que
investiga responsabilidades pelo ato golpista de domingo, 19 de abril, e
o que investiga as acusações de Sérgio Moro. E ainda há um mandado de
segurança nas mãos do ministro Celso de Mello, que pede uma série de
providências contra o presidente, inclusive a limitação de seus poderes
para que não continue delinquindo.
O procurador-gerla da República, por coerência, deve pedir hoje que o
inquérito em curso para apurar os atos do dia 19 de abril passe a
investigar também quem organizou e quem financiou o de ontem, e quem são
os que atacaram os jornalistas. Se ele não o fizer, a oposição terá que
pedir. Ou que se abra outro inquérito.
Se Bolsonaro deixar de acatar uma decisão do STF, que farão o Supremo
e o Congresso? Quando ele ignorar um dos outros poderes, já estaremos
na ditadura.
Alguns generais ouvidos neste domingo voltaram a dizer que as Forças
Armadas mão entrarão em aventuras golpistas com Bolsonaro. Ótimo. Mas
qual é a unidade que têm hoje as Forças Armadas? Não sabemos. Mas é
certo que, na tropa, Bolsonaro tem apoio.
Ele planeja o golpe para quando ele for afastado, seja pelo STF, por
crime comum, ou pelo Congresso, num processo de impeachment que Rodrigo
Maia continua se recusando a abrir. Nesta hora contará com as hordas
fanáticas que foram à Praça dos Três Poderes ontem e com os segmentos
policiais e militares com ele alinhados.
O afastamento de Bolsonaro, que só não acontecerá se a Constituição e
a legalidade deixarem de prevalecer, pode resultar em confrontos
políticos e no acirramento da divisão que o país já vive. Mas deixar de
enquadrá-lo por temor das consequências será pior. Deixará o caminho
livre para que ela vire ditador.
Fonte Brasil 247
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(Domingo,03/05/ 2020)
O Ministério da Saúde contabilizou neste domingo 101.147 casos
confirmados do novo coronavírus e 7.025 óbitos notificados em
decorrência da doença. Nas últimas 24 horas, 275 óbitos foram
notificados, um incremento de 4% em relação ao dia anterior.