quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O martírio de Gaza







"Tão longe na geografia e tão perto no sofrimento! O povo palestino foi vítima desde antes da criação do Estado de Israel da guerra desatada pelos sionistas. Esses reclamavam como sua aquela terra, fazendo pouco da hospitalidade com que foram recebidos quando fugiam dos nazistas. Os chefes que queimavam povoados palestinos e assassinavam seus habitantes logo governaram o Estado reconhecido pelas potências que venceram a Segunda Guerra. "








Por Antonio Peredo Leigue*






Não foi suficiente se apropriar de um território, pois expulsaram os proprietários da terra e construíram sua pátria. Construíram-na sobre território que não lhes pertencia, pois essa extensão nada tem a ver com o reino hebreu ao qual se refere a Bíblia. Lá estão Jerusalém, Nazaré e Belém, reconstruídas pelos árabes e convertidas em cidades habitáveis pelos avós dos palestinos.
Terminada a Segunda Guerra, a política expansionista do sionismo enfrentou os países árabes vizinhos, os quais manteve submetidos às ações de terror de seus generais e de seus governantes. Outra coisa é o povo judeu que se expressou, em manifestações públicas, contra os criminosos ataques que o governo desatou contra a Faixa de Gaza.
Com a cumplicidade dos estados que permitiram a criação de Israel – inclusive com a tolerância e permissão do Conselho de Segurança das Nações Unidas –, os sionistas investiram a maior parte de seus recursos em potencializar seus exércitos para dominar toda a extensão que pode alcançar o largo braço de sua avidez.
Um Estado com essas características foi inserido ali para manter os países vizinhos em um tipo de ameaça constante. Líbano, Síria, Jordânia e inclusive o Egito foram vítimas desse exército moldado à imagem e semelhança dos exércitos de Hitler. Que macabra contradição!
Do mesmo modo que Washington se atribui o direito de qualificar qual governo latino-americano é bom e qual é ruim, os governantes israelenses determinam quem e como deve compor a Autoridade Palestina. Nenhum dos dois tem esse atributo. E mais: ninguém tem o valor de dizer que, do mesmo modo que o povo judeu tem direito a um país, os palestinos têm tantos méritos como eles, por reivindicar seu território arrebatado pelo grupo sionista.
O que faz a ONU? Como pode se preocupar com o Congo, o Haiti e outros lugares enquanto nem sequer tenta proteger os palestinos? Acima dos governos cúmplices do sionismo, os organismo das Nações Unidas têm a obrigação de agir nesse caso. Mas, é claro, para que o faça deve se democratizar. Não é possível que os membros permanentes do Conselho de Segurança, os cinco com direito a voto (se é que se pode chamar de direito essa arbitrariedade), decidam que Israel pode perpetrar a matança sem que não se tome nenhuma ação contra o genocídio, um crime de lesa-humanidade, qualificado expressamente nos documentos da ONU, mas sem nenhum efeito prático.
Enquanto subsista o estado sionista, não haverá paz no Oriente Médio. Só um país que reconheça os mesmos direitos a seus habitantes, um país em que possam conviver palestinos e judeus, uma nação que condene o racismo sionista, que o julgue penalmente, será capaz de se pacificar. Então – e somente então – poderá se dizer que a ONU está cumprindo seu papel pacificar. Então – e somente então – os países industrializados terão autoridade moral no nível de quaisquer outras nações. Enquanto isso, enquanto disfarcem a matança de Gaza como se fosse uma contenda em igualdade de condições, serão cúmplices do delito de genocídio.
* Antonio Peredo Leigue é senador pelo MAS na Bolívia.
Artigo enviado pelo autor ao Vermelho.
Tradução: Fernando Damasceno
Fonte: www.vermelho.org.br