sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Câmara julga pedido de cassação de Ralf com vassoura, sabão e ratoeira




Edilson Almeida


Redação 24 Horas News






A história das câmaras municipais no Brasil começa em 1532, quando São Vicente é elevada a categoria de vila. A Câmara Municipal de Cuiabá foi criada em 1727, com a elevação da localidade à categoria de vila, por ordem do Rei de Portugal, recebendo a denominação de Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Segundo historiados, é uma das casas de leis mais antigas do Brasil. São 282 anos de história. Nesse tempo todo, muita coisa aconteceu, mas, certamente, esta quinta-feira, 6 de agosto, será realizada a sessão ordinária mais importante dos últimos anos. Um evento que poderá marcar o início da virada de um dos seus períodos mais escuros da história. Em pauta, a cassação de Ralf Leite da condição de vereador. É hora de começar a limpar a sujeira.




Em verdade, é o início porque o resgate da imagem desse poder ainda depende de outras atitudes dos vereadores – evidentemente, da porção séria e honesta que ainda insiste em achar que política é uma nobre arte de atuar para construção de uma sociedade mais justa, fraterna e desenvolvida. Há no Legislativo de Cuiabá manchas incrustadas que, certamente, vão precisar mais que as vassouras, detergentes e sabão em pó que serão usados para “lavar” a Câmara, num ato de protesto cívico organizado pelo Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral (MCCE), antes da sessão de degola de Ralf. Pelo que já se viu, há na Câmara uma casta imunda que comete atos bem piores que os realizados por esse rapaz do PRTB. Pior: e nada faz para ajudar a sociedade.




No julgamento de cada vereador – dos sérios e dos não sérios – está a possibilidade de excluir dos quadros do legislativo, em nome do decoro parlamentar, um sujeito eleito de maneira suspeita, a luz do abuso de poder econômico e compra de votos. Nos dias de vereador, Ralf Leite ajudou a manchar ainda mais a reputação de uma Casa de Leis prá lá de desgastada.




Ralf chegou ao Legislativo sob olhares de muita desconfiança. Um quase delinqüente juvenil, expulso de escolas particulares por causa de uma série de atitudes incompatíveis com a carreira de estudante, achava-se que estaria se regenerando socialmente. Que nada! Pouco mais de um mês de posse no cargo, foi flagrado bêbado, com as calças arriadas, dentro de seu carro, em ato libidinoso num dos mais famosos “quase” baixo meretrício de Várzea Grande, o Zero Quilômetro. Fazia sexo oral com um travesti menor. Preso pela Polícia Militar, tentou corromper os policiais e, sem êxito, partiu para o desespero, apresentando as credenciais de vereador e, sem sucesso, de filho de coronel reformado da PM. Ralf estava sem documentos naquele momento.




Mas não se deu por satisfeito. Se envolveu num caso obscuro de um tal “barco do amor” que transitava pelo Lago de Manso. O caso acabou respingando de sujeira outro vereador, Domingos Sávio Pereira, que por pouco não se viu tragado pelas peraltices do colega. Na época, os dois vereadores saíram com quatro mulheres e a cabeleireira Maira José Aparecida Schuch chegou a acusar Sávio de abandoná-la no lago, onde quase morreu afogada. Não ficou provado.




Parou? Que nada! Mal saiu de um escândalo e o vereador do PRTB voltou a freqüentar a Delegacia de Polícia, onde, em verdade, passou boa parte desses pouco mais de seis meses de mandato, entre prisões e dando esclarecimentos sobre suas traquinagens juvenis. Há alguns dias ele agrediu a ex-namorada Cristina Gentil, deixando marcas em seu rosto. Por ordem judicial está proibido de se aproximar da moça e é processado pela draconiana Lei Maria da Penha. Dependendo dos resultados, Ralf poderá ser colocado nas grades, já que o assunto ganhou comoção pública.




No seu inferno costumeiro, Ralf ainda vai responder por abuso sexual por causa daquele ato maroto com o travesti menor. E mais: a qualquer hora, a Justiça Eleitoral poderá decretar a cassação do seu diploma, já que são robustas as provas de crime eleitoral.




Em verdade, a cassação de Ralf Leite poderá se constituir – e espera-se que sim – no começo de um processo de moralização pública. Ralf não roubou, mas difamou a imagem de um poder que, doente ou não, é de representação do povo. A decisão, porém, estará antecipada com um entendimento: voto aberto ou fechado. Há muitas dúvidas quanto aos resultados. Fala-se que uma maioria frágil vem defendendo o voto aberto. Se optarem pelo voto aberto, Ralf não vai precisar sequer esperar o fim da votação: deve deixar o plenário, passar no gabinete e pegar suas coisas antes que a campainha soe nos corredores do edifício legislativo. Se for voto fechado, ai meus senhores, preparem-se: pode ter surpresa. E tudo que se espera dos nobres edis, pode vir de forma diferente.




Não cassar um vereador que transou com um travesti menor, tentou corromper policiais, usou e abusou do poder familiar, brincou com a vida de pessoas num barco e ainda agrediu a então namorada, será o sinal eloqüente de que há muito mais entre o céu e o inferno. Nesse caso, o coordenador do MCCE, Antônio Cavalcante Filho, o “Ceará”, reconhecido e renomado ativista político de Mato Grosso, poderá guardar a ratoeira símbolo da luta contra a corrupção, que passou às mãos do vereador Deucimar Silva (PP), presidente do Legislativo de Cuiabá, nesta quarta-feira, ao protocolar o pedido de cassação de Lutero Ponce de Arruda (PMDB), acusado de desviar R$ 7,5 milhões no período em que foi presidente.




"Há 10 anos estamos denunciando as falcatruas dessa Casa e muitas destas denúncias nunca foram adiante. A ratoeira simboliza justamente a nossa iniciativa de querer pegar, prender e banir todos aqueles ratos que se apossam indevidamente do dinheiro público” - disse "Ceará




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Fonte: 24 Horas News