Fotografia: Keka Werneck
Por Dafne Spolti, com informações de Keka Werneck
Começaram nesta sexta (13) as atividades para marcar os 15 anos do MST m Mato Grosso. Às 9h da manhã foi realizado o ato político com a participação de movimentos sociais e lideranças políticas que apóiam o Movimento.
Antonio Carneiro, coordenador do MST-MT, citou os militantes que morreram na luta por reforma agrária e igualdade social. Entre eles, o menino Cássio Ramos. Em nome dessas pessoas fez um reconhecimento da luta dos presentes no ato, e lembrou que Mato Grosso é o maior estado em concentração de terras do país, em uso de agrotóxicos e trabalho escravo.
Durante a tarde, os militantes jogaram vôlei e futebol, enquanto as crianças brincaram na aula de recreação. À noite, haverá apresentações musicais de viola.
No sábado (14) que marca a primeira ocupação do MST em Mato Grosso, Anita Prestes, filha de Olga Benário e Luiz Carlos Prestes irá ministrar uma palestra sobre “Conjuntura Política e Formação de quadros”, às 8h. À tarde ela descerrará a placa do Centro de Formação Olga Benário, onde estão acontecendo as atividades.
A programação de sábado termina com shows de artistas nacionais e regionais, entre eles, Zé Geraldo, além da queima de fogos.
O Centro de Formação Olga Benário está enfeitado por diversas bandeiras. Fica no assentamento Dorcelina Folador, em Várzea Grande. As atividades culturais e políticas estão sendo realizadas num galpão que tem produção agroecológica, além de fotografias e matérias que registram os 15 anos de lutas e conquistas.
Saiba mais:
Anita Prestes, filha de Olga Benário, confirma presença no aniversário de 15 anos do MST em Mato Grosso
“Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo”
(Olga Benário)
Anita Prestes participa de festa do MST em Mato Grosso
A filha de Olga Benário e Luiz Carlos Prestes, Anita Prestes, confirmou presença na celebração dos 15 anos de luta por reforma agrária do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) em Mato Grosso. A primeira ocupação do Movimento no Estado foi realizada em 14 de agosto de 1995, na improdutiva fazenda Aliança, em Pedra Preta, região Sul.
A programação, que vai de 12 a 14 de agosto, será toda realizada no Centro de Formação e Pesquisa Olga Benário, uma das conquistas do MST nesses 15 anos.
Vão participar do evento político cerca de 600 pessoas, oriundas de acampamentos e assentamentos em Mato Grosso, Rondônia, Goiás e outros estados, além de amigos do MST-MT.
A escola leva o nome da mãe de Anita, seguindo a linha do Movimento, que, a seus espaços conquistados, homenageia guerreiros e guerreiras da luta pela terra e outras lutas. Daí os assentamentos Antônio Conselheiro, Chico Mendes e os demais.
O Centro fica nos limites de Várzea Grande, na saída para Jangada (BR 364), após o Trevo do Lagarto.
Anita é professora aposentada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e leciona, como apoiadora do MST, na Escola Nacional Florestan Fernandes, em São Paulo, que é uma espécie de universidade do Movimento. Ela também representa o Instituto Luiz Carlos Prestes. A palestra dela está marcada para o dia 14, pela manhã.
Já está confirmada também a presença do cantor e compositor José Geraldo, que ficou muito conhecido na Música Popular Brasileira (MPB) com canções expressivas, como “Milho aos Pombos” (http://www.youtube.com/watch?v=dAzEu3PTOpM).
José Geraldo, que também é apoiador do MST, vem para fortalecer a programação cultural, que termina com o Grande Baile da Reforma Agrária, dia 14, às 21h. Artistas locais farão apresentações.
As comemorações começam no dia 12, às 9h, com um ato político.
Memória – A primeira ocupação
A memória de Vanderly Scarabeli, um dos principais coordenadores do MST-MT, não falha. Numa salinha da secretaria estadual do Movimento, bairro Alvorada, periferia de Cuiabá, ele assenta em uma cadeira, bem na direção de uma fresta de luz que ocupa o espaço entrando pela janela, e começa a contar como esta organização de luta por reforma agrária chegou ao Estado. Segundo ele, só 10 anos após a primeira ocupação de terra feita pelo MST no Brasil em 1985 no Rio Grande do Sul o Movimento vem se articular em Mato Grosso. Em 1995, no 7º Encontro Nacional do MST a plenária aprovou como encaminhamento organizar os camponeses sem-terra do Estado. Uma equipe com lideranças do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e de Rondônia ficou com a tarefa de “aportar” na terra do agronegócio, da monocultura da soja e do algodão, do latifúndio e de práticas ainda muito violentas no campo e na cidade.
No dia 21 de janeiro de 1995, com uma mochila nas costas Vanderly desembarcou à noite na rodoviária de Cuiabá para ajudar a organizar os camponeses aqui.
“Começamos a fazer trabalho de base”, lembra ele. A equipe viajava para Jaciara, Juscimeira, São Pedro da Cipa, Rondonópolis, Pedra Preta. “A gente ia rodando a região, fazendo reuniões. Nessas nossas andanças, chegamos a passar fome, mas valeu”.
A sisma era grande. A paranóia era motivada pela pistolagem, prática muito comum em Mato Grosso e que, para matar, não precisava de muito motivo.
Agosto de 1995
Várias reuniões feitas, andanças, articulações, durante sete meses. Chegou a hora de ocupar a primeira área. A ocupação foi marcada para o dia 14 de agosto de 1995. Cinco dias antes, dia 9 de agosto de 1995, ocorre o Massacre de Corumbiara, em Rondônia, no qual morreram 12 pessoas, entre elas uma criança de nove anos e um policial. O medo tomou conta das famílias, na verdade pacatas, acostumadas com a vida na periferia das cidades ou com o silêncio rural. “Senti medo de dar errado, mas resolvemos seguir adiante”, conta Vanderly.
Vieram companheiros de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, com acúmulo de ocupações, para ajudar na tática.
A mobilização era grande. Mais de 1.100 famílias iam participar da ocupação; cerca de 300 crianças.
Por volta de meia noite, os 50 veículos seguiram para a fazenda Aliança.
As famílias ficaram de 15 a 20 dias na fazenda.
Um ano depois, em agosto de 1996, foi registrado o primeiro assentamento do MST em MT.
Em 15 anos, 4 mil famílias do MST foram assentadas no Estado. E cerca de mil ainda continuam acampadas. O MST acredita que 100 mil famílias são clientes da reforma agrária nos limites da terra da soja. E, por isso, a luta continua!
Por que valeu a pena?
Os 15 anos de luta do MST em MT valeram a pena por que:
1) Desconcentramos mais de 200 mil hectares de terra.
2) De 18 mil a 20 mil pessoas vivem hoje assentadas em MT em áreas onde antes não viviam mais do que 200 pessoas, se juntarmos tudo.
3) De todas as escolas que existem em assentamentos do MST, 10% estão em Mato Grosso, o que denota que aqui os assentamentos estão avançados no ponto de vista da educação, o que é bom não só para os camponeses, mas para o país, que enfrenta altos índices de analfabetismo e ignorância no campo e na cidade. Então o MST está ajudando a resolver este problema.
4)Formação universitária para camponeses, historicamente ignorados por políticas de Educação Superior. Primeira turma de pedagogia se forma em MT em 1998 e no dia 02 de julho deste ano formamos a primeira turma de agronomia com ênfase em agroecologia, sendo que os dois cursos foram uma parceria com a Unemat de Cáceres. Temos 3 médicos filhos de assentados formados em Cuba. Temos especialistas em educação do campo, em agroecologia e educação de Jovens e Adultos. Temos militantes se formando em Direito, Técnico em Administração de Cooperativa, História e Pedagogia.
5) E o que mais vale a pena é saber que o MST está contribuindo com a sociedade brasileira, resgantando a auto-estima dos camponeses pobres, tirando muitos e muitas da marginalidade e possibilitanto a eles e elas, através de lutas e formação política, a dignidade que o ser humano deve ter, mostrando que é possível construirmos um outro mundo, uma outra sociedade, onde o centro deve ser a vida e não o lucro.
Desafios
Apesar dos pontos positivos conquistados em 15 anos de luta pelo MST, o latifúndio ainda reina em Mato Grosso. Ao invés de expandir para o Sul, o agronegócio subiu o Estado, ocupando o Norte.
A questão ambiental é também uma preocupação e todas as ações do MST, pelo menos nos últimos quatro anos, trazem esse tema para reflexão e para a sociedade entender que os assentados também fazem parte desse meio ambiente e que precisam de orientação técnica, para que plantem e respeitem a natureza, com base no amor pela terra.
Outro desafio é fortalecer as alianças entre movimentos camponeses e urbanos. Assim ambos se protegem e resistem juntos nas pautas em comum.
E o MST trabalha também para acabar com o analfabetismo no campo. Nossos lemas são: “Todo e toda Sem Terra na Escola” e “Educação do Campo: Um direito nosso e dever do Estado”. E além de alfabetizar, o campo precisa de profissionais capacitados para o campo e, pro isso, vamos continuar exigindo do Estado cursos técnicos e superiores.
REFORMA AGRÁRIA, QUANDO? JÁ!
Ouça Carta à Anita e Carlos (Prestes)
“Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo”
Do filme "Olga", de Jaime Monjardim
Sobre Anita Prestes
Fonte: Pagina do Enock