O eleitor brasileiro
O verdadeiro rastilho de pólvora que percorre o Oriente Médio e o norte da África, varrendo as nações árabes acostumadas há anos de totalitarismo, pobreza e direitos vilipendiados é muito mais do que uma simples revolta popular capitaneada por grupos radicais islâmicos, populares com sede de liberdade ou mesmo elites descontentes com o rumo de suas sociedades.
Os sacrifícios, cada vez mais pesados, feitos pelos cidadãos comuns que morrem diante das forças repressoras, dispostas a garantir a permanência de seus regimes, e os massacres que se sucedem; mostram com toda plenitude e pujança, que só o derramamento de sangue é capaz de ter, o alto preço pago pelos povos que desejam realmente mudar seu modo de vida e libertarem-se daqueles que os oprimem social, política ou economicamente.
Tal sacrifício serviria para ilustrar, com cores drásticas e ultra-realistas, para nosso próprio povo que a vontade de mudar nossa política e de nos libertarmos dos corruptos que nos envergonham; dos altos impostos injustificáveis e dos privilégios – cada vez mais inexplicáveis e exagerados que as velhas oligarquias políticas insistem em manter e ampliar – só seria coroada de êxito com o comprometimento pessoal de cada um.
Somente movimentando grandes massas; “dando a cara pra bater” e comprometendo-se verdadeiramente com a necessidade de mudança é possível encontrar alguma chance de se concretizar o sonho de uma vida mais digna.
Os árabes, assim como nós; descobriram o fantástico instrumento de apoio e organização que é a Internet. Infelizmente, de forma diferente deles, os brasileiros ainda pensam que basta vomitar indignação nas redes sociais, nos botecos, nas filas e a cada vez que um direito seu é aviltado por um funcionário público ou por uma “autoridade” qualquer e o mundo inteiro se voltará para combater essa “injustiça”; causando tal vergonha no corrupto ou no opressor que ele, movido por um impulso moral, renunciaria. A “Revolução com a bunda no sofá” – termo cunhado no auge do movimento “Fora Sarney” – mostrou como é ineficiente, ridícula e até mesmo equivocada a ideia de que a Internet pode ser o meio fundamental para qualquer mudança política ou social em um país.
Ir para as ruas; gritar; exigir; apanhar se preciso for; correr riscos diante da repressão possível e até previsível e, acima de tudo, compreender que a mudança exige trabalho, comprometimento e disposição de encarar o que vier pela frente. Sendo necessário, quase sempre, romper com o cotidiano e arriscar-se a perder tudo em nome de um novo amanhã.
Um comentarista disse certa vez aqui no blog: “Passeata do Orgulho Gay = 2.000.000 de pessoas. Passeata Fora Sarney = 200 pessoas”. Essa constatação reflete o descaso do brasileiro com sua própria vida e com a vida de seus filhos e netos. Essa realidade ressalta o conformismo, a acomodação, o descaso e o desprezo por si mesmo (como indivíduo e como nação) que padece o cidadão brasileiro de hoje.
Os árabes compreenderam que só haverá mudanças com pressão popular e com resistência. Acima de tudo, aprenderam que o comodismo e o conformismo apenas são elementos responsáveis pela escravização do povo a uma realidade injusta.
E nós. Quando compreenderemos isso?
Fonte: Visão Panorâmica
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