sábado, 26 de março de 2011

Identidade: Facebookers…

"A classe média se deleita com este estado de coisas. Para ela, a brasileira, em particular, talvez seja o período mais próspero que a humanidade já presenciou. Aparentemente (e para alguns é isso que vale) vivemos no mundo em que todos têm direito a se expressar, em que todos poderíamos ficar escrevendo sobre tudo, até cansar."
Esses dias estava observando com mais intensidade as Twittadas dentro do meu perfil do Twitter, e também os “pensamentos” individuais distribuídos em grande monta no Facebook. Na sexta-feira fiz uma rápida (e não “científica”) pesquisa com 50 daqueles pensamentos. Mais de 90% deles poderíamos considerar de cunho individual ou pessoal, isto é, que expressavam alguma coisa que se referisse às vidas de cada um dos que escreveu. Sendo mais claro: Versavam sobre novas roupas vestidas, viagens maravilhosas, pulseiras compradas, novos amantes e transas conquistadas, músicas que tocaram o coração e que o indivíduo vai pegar no tudodegraca.com.br (prá ouvir na hora da aula chata de história).

Será que posso usar o termo fugaz para definir aquelas ações ? Lembremos o que é fugaz, de acordo com o minidicionário da língua portuguesa de Silveira Bueno:

Rápido, veloz, transitório. Em fugacidade o autor do dicionário ainda soma o termo efemeridade, como sinônimo.

Então é isso. Espero que concordem comigo. Mais de 90% dos “pensamentos” que encontrei no Facebook são efêmeros. E não me olhem de cara feia. Vão lá e façam suas estatísticas. Talvez seus “amigos” sejam diferentes dos meus, dentre outras possíveis variáveis.

Após essa pequena pesquisa me lembrei da entrevista que fiz com Ana Godoy,  pesquisadora da Faculdade de Educação da Unicamp, e também de Gilles Deleuze (e sua Sociedade do Controle). Em determinado trecho da entrevista ela começa a falar de sua compreensão da sociedade moderna como o espaço onde se fortalecem os desejos das pessoas de opinarem, sobre tudo.

Aquelas opiniões pouco valem do ponto de vista coletivo, manifestamente humanista. Elas, na realidade, no meu ponto de vista, se vinculam ao que querem e desejam as grandes corporações (Shell, Viacom, Globo, Microsoft…) que não têm qualquer vontade política de mudança do atual status quo social.

E, a maior parte das opiniões, mesmo aos montes, tem a função de narcotizar o indivíduo, que se negará a acreditar que poderia haver um mundo melhor. Assim, as opiniões se tornam inertes. Talvez porque elas não seguem acompanhadas de ações coletivas que as validem na concretude da vida, ou mesmo porque sejam “efêmeras” demais, e de tão transitórias se perdem no limbo do excesso das informações.

A classe média se deleita com este estado de coisas. Para ela, a brasileira, em particular, talvez seja o período mais próspero que a humanidade já presenciou. Aparentemente (e para alguns é isso que vale) vivemos no mundo em que todos têm direito a se expressar, em que todos poderíamos ficar escrevendo sobre qualquer coisa, até cansar.

Porém, como sempre, alguns ainda se rebelam com este estado de coisas. E também escrevem. O filósofo Gilles Lipovetsky é um deles.
“… penso em uma reviravolta cultural que promova a reavaliação das prioridades da existência, da hierarquia das finalidades, da função dos prazeres imediatos nesse novo sistema de valores. Em determinado momento, os homens descobrirão o lado ‘picante’ da vida longe do hedonismo consumista, sem que a humanidade tenha de abandonar a idade democrática: organizar-se-á uma espécie de democracia pós-consumista”.
Comentários de Orua:
 
"Isso mesmo, os pobres falam de Hip Hops ligados ao tráfico e a porrada da policia, e uma sexolândia instintiva primal suja e caótica, a classe média está apaixonada pelas suas compras podendo ser feitas com 20 % de juros, em 12 vzs,  os ricos então, pelo seu poder econômico e status, sua projeção social, e quem escapa?

Quem busca transcender ao sistema, filtrar, aprimorar-se espiritualmente, ser mais profundo, passa pela mudança parece do código genético e do nível de despertar da consciência, e deixa de ser o animal humano ou desumano, parece que o coração começa a funcionar de novo ou a bater realmente, os sons divinos e milagrosos do amor.

Vê o planeta não como um imenso shopping ou portal Mercado Livre, mas um Jardim do Èden imensamente vital e perfeito, lindo, maravilhoso"...  (Orua)
Fonte: A ERA DO PANÓPTICO:
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