GRITA BRASIL. Liga de (In)Justiça! O ministro recém-chegado, Luiz Fux, deu uma rasteira em todos nós que estamos cansados de ver a cara suja e de pau de certos políticos.
Por Claudio Schamis
Ledo engano daqueles que achavam que a chegada de mais um ministro guerreiro iria desempatar de vez a novela Ficha Limpa em prol da “justiça já”. Pois não foi o que aconteceu. O ministro recém-chegado, Luiz Fux, deu uma rasteira em todos nós que estamos cansados de ver a cara suja e de pau de certos políticos. Logo nós, que tínhamos ainda um fio de esperança em vê-los pelas costas e bem longe de onde eles costumam fazer suas festas particulares com o seu dinheiro, o meu dinheiro, o nosso dinheiro. Limpeza pesada só para a eleição de 2012. Mas e se o mundo acabar?
A mamata não só continuará para vários deles como lhes deu uma sobrevida pública. O que é lamentável. Vamos ter que nos contentar mesmo e tentar ir “lewandowsky” a vida como der com esse povo bom andando solto por aí. Ainda mais que o presidente do Tribunal Eleitoral Superior e também integrante do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowsky, disse que a sentença Ficha Limpa não é automática. Já viram tudo. É a nossa novela de sempre.
E como não poderia faltar em um dos capítulos, assim que o ministro Fux deu seu voto e desempatou a peleja, os beneficiados saíram às ruas numa carreata comemorando como se fosse um título de campeonato, e talvez até seja, um título de atestado de burrice para nós mesmos que insistimos em deixá-los atuar. Jader Barbalho divulgou nota dizendo ser uma vitória do povo do Pará, João e Janete Capiberibe escolheram um bar em Brasília para comemorar ao lado de colegas do partido (ambos do PSB-AP) e serão recebidos em Macapá com carreata. Será que vai ter banda? Não é a cara do Brasil?
E como é Brasil, a Câmara Municipal do Rio quer adotar novamente o benefício de oferecer carros oficiais. Numa reunião, foi dito que se comprariam veículos para todos os interessados. Não se decidiu ainda a data da licitação nem o modelo do carro, – será então que eu posso pedir o meu? Pode ser um Fiat Uno, mas com ar-condicionado, tá? – mas quatro vereadores até o momento recusaram o mimo. Mimo sim, pois caso não saibam, os vereadores podem gastar mensalmente 800 litros de combustível pagos pela Câmara. Olha aí a festa do combustível. E enquanto isso rola na Câmara, a Assembleia gasta por ano R$ 2,6 milhões para abastecer os veículos que servem aos deputados. E não há controle algum sobre o auxílio-combustível, pois os deputados recebem um cartão de crédito com limite de R$ 3 mil, o que chega perto de mil litros e eles não prestam conta de qual carro foi abastecido.
E o que não está sendo abastecido como deveria é o SUS. O Ministério da Saúde e a Controladoria Geral da União, em uma investigação, constataram que entre 2007 e 2010, pelo menos R$ 662 milhões foram desviados do Fundo Nacional de Saúde, que é quem financia o SUS. Levou SUSto? Pois é, que coisa isso, né? Hospitais parados, pagamentos irregulares, superfaturamento e todo o resto que sabemos e o resto que nem sabemos. E somente 2,5% das verbas foram fiscalizadas. E ainda assim querem falar na volta da CPMF que, se criada, virá com outro nome, mas com o mesmo intuito: transbordar os bolsos de muitas pessoas e deixar a saúde cada vez mais debilitada e largada de lado.
E isso tudo acontecendo e a presidente tendo dito entre suas promessas que quer melhorar todo o sistema de saúde, fazer 500 unidades de Pronto Atendimento (UPAs) 24 horas, construir 8.600 unidades básicas de saúde (UBSs) em todo o país, universalizar o SUS, garantindo mais recursos (talvez os que não consigam ser desviados) para o programa, e ampliar o número de profissionais. Quer implantar o cartão SUS, que levará o registro do histórico dos atendimentos, quer ampliar o Saúde Família, ampliar as Farmácias Populares, ampliar o Brasil Sorridente, ampliar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), melhorar a gestão de recursos e outras mais promessas.
Promessas, promessas, vis talvez. Ainda não se sabe, mas enquanto isso não se torna real, vou vilipendiar essa questão. E com gosto. Amargo sim. Mas não posso ser hipócrita de achar que uma promessa faz verão. Nem uma andorinha faz.
Salvem as baleias. Não jogue lixo no chão. Não fume em ambiente fechado.
Fonte: OPINIÃO E NOTÍCIA
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Fiat lux
Aqui está a resposta
Da trova que li outro dia,
E se verso é o que o povo gosta,
Faço o meu que é de porfia,
Respondendo a um advogado,
Que ficha suja defende,
Mesmo sabendo que depende,
Nem me faço de rogado,
Pois, permitir a eleição,
De tanto rato ladrão,
É papel de cabra safado.
II
Nem me fale de moral,
Dotô que já foi ministro,
Tire do olho este cisco,
Que está te fazendo mal.
A nossa Constituição,
Se não serve pro povão,
Pode rasgar que não presta,
Pois lei é que nem balaio,
Que para cada tipo lacaio,
Sempre se acha uma fresta.
III
A carta republicana,
Que guia esta nação,
É sagrada e é profana,
Depende a interpretação.
Por isso jurar por ela,
É cair numa esparrela,
Fazer papel de bufão.
Julgar limpo tanto canalha,
É transformar em mortalha,
Nosso santo pavilhão.
IV
Se tem primados de pedra,
Que não podem fazer-se rotos,
Por que então certos escrotos,
Juram esse amor de Fedra?
Caolhos, só vêem o que querem,
Pra atender a impostura,
E na maior cara dura,
Segurança jurídica, sugerem.
V
Quando eu vi o resultado
Da dita corte suprema,
Por justo fiquei irado,
Igual quando li o poema.
Pra não blasfemar resoluto,
Não rimei c’o doutor Caputo,
Segurei a minha brida.
É irmão do Guilherme Augusto,
Jurista distinto e justo,
Digo, fiquei “p” da vida.
VI
Mas a tal suprema corte,
Tem no elenco um mesquinho,
Um enjoado que vôte!
Lá posto por um priminho,
Político que foi cassado,
Do Planalto escorraçado,
Pegando o boné de fininho.
Tem outro, que um coronel
Do Amapá e do Maranhão,
Corrupto por profissão,
Foi quem lhe deu o laurel.
Um dia o intermediário,
Arrancou-lhe o escapulário,
E lhe chamou de juizinho.
VII
E aquele que lá foi posto,
Pelo Farol de Alexandria,
Que num ato de mau gosto,
Deu toga a tal porcaria,
Diz que tem muito capanga,
E que por qualquer pitanga,
Livra um rico da enxovia.
Mein Campf, o livro de cabeceira,
Deste bedel perdulário,
De manicômio judiciário,
Xingou a justiça inteira.
VIII
E o mecânico torneiro,
Que Deus deu o dom e o dever,
De mandatário primeiro,
Pra o bem ao povo fazer,
Lá colou uma figura,
Quem nem sobre sol fulgura,
Tal a insignificância.
Mas vota só com o casco,
Que me causa até asco,
Ser chamado de excelência.
IX
O quinto roto do cortejo,
Dos fichas sujas padrinho,
Um bigode de ratinho,
Seu futuro eu antevejo.
Vai ser o pior capitão,
Do sodalício de oitão,
O bico de percevejo...
O sangue da gente que luta,
Por uma justiça impoluta,
Jorra a cada decisão.
Um dia o povo, hoje gado,
Vai romper o alambrado,
E mudar esta Nação.
X
Depois de longa embromação,
La chegou o doutor Flux.
Gritaram “fiat lux”!
Acabou-se a escuridão.
Quem pensou no céu agora,
Pegou o boné, foi embora,
Depois do voto pagão.
Toda aleluia e hosanas,
Foi entregue aos ratazanas,
Pelo filho de Abraão.
XI
Foi embora a esperança,
De um Supremo de pé,
Por que tem uma lambança,
Que vem logo de tropel.
Diz que o doutor da Judéia,
Vai pisar na patuléia,
E em toda sociedade.
Trazendo tese bem canalha,
Que de uma vez emporcalha,
A tal lei de improbidade.
Cuiabá, abril de 2011.
Ademar Adams é jornalista em Cuiabá
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