Por Bruno Lima Rocha
O apego as estruturas de poder já existentes no nada republicano comando do futebol profissional marcou a gestão dos ex-comunistas à frente da pasta que de patinho feio virara cisne colorido, mais que dobrando de orçamento e catapultando sua visibilidade. Paga-se um preço por isso. Neologismo planaltino: ”dize-me com quem andas e dir-te-ei quem poderá vir a vazar informações sobre ti e os teus.”
A liturgia da queda chega ao seu fim, totalizando seis ministros do governo de centro-esquerda que ainda não completara um ano. Orlando Silva, ex-presidente da UNE e sucessor de Agnelo Queiroz no hoje disputado Ministério do Esporte caíra após a seqüência clássica. Fatos jurídicos e administrativos, já sob algum tipo de investigação, desvelam situações no mínimo “não republicanas” e ganham os holofotes das empresas jornalísticas. A partir daí, qualquer semelhança com as quedas anteriores, incluindo a mais representativa – a de Antonio Palocci – não é nenhuma coincidência.
Segundo o que foi difundido, após uma longa conversa com a presidente Dilma Rousseff no final da tarde de 4ª (26 de outubro), manteve-se o acordo de distribuição de cargos e funções, assegurando ao aliado histórico PC do B a mesma pasta que em janeiro de 2003 poderia ser vista como cargo de consolação. Para não punir a legenda amiga, se preserva o agente coletivo no posto-chave mudando o ator individual. Cansei de afirmar que este procedimento, se por um lado assegura a composição de forças, de outro reproduz no que restara de um verniz mais à esquerda no governo, o padrão da tal da governabilidade, com todas as suas mazelas. Perde-se uma grande oportunidade, tanto de cortar na própria carne, como demarcar terreno para os fomentadores do “fogo amigo” que vaza informações e reproduz a escala de boataria país afora.
Este seria o momento oportuno para demonstrar na pasta do Esporte as intenções do governo Dilma. Todos os países que sediaram Jogos Olímpicos aproveitaram o momento e transformando o transtorno da realização em esforço coletivo para modificar a estrutura do esporte no país. Como já afirmei noutras vezes, a gestão demissionária portou-se bem no alto rendimento (com bolsa atleta e a política de patrocínio das confederações) e muito mal nas políticas públicas. Era a hora da virada, ao menos no que diz respeito às políticas desportivas, e mais uma vez veremos o bonde passar.
Entendo que a política correta seria, como já disse acima, cortar na própria carne – no caso, na dos ex-comunistas – e convocar alguém reconhecido como autoridade na área, vinculado a algum esporte olímpico. Para o posto de Ministro do Esporte, além do já midiático Carlos Arthur Nuzman, poderíamos pensar em nomes como o presidente da Confederação Brasileira de Lutas Associadas, Pedro Gama Filho, ou então do já reconhecido Coaracy Nunes, à frente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos. Sabemos todos que nada disso irá ocorrer.
Encerro esta singela análise com duas reflexões. Primeiro, o senso de realidade me diz o óbvio; estas palavras acima não passam de um mui modesto protesto de alguém que de forma amadora milita na área há mais de vinte anos. Segundo, que para o Jogo Real da Política, uma composição de governo está acima de quase tudo. Se o PR recebera afagos para voltar à base aliada, esperava-se que o ainda respeitável PC do B recebesse o mesmo tipo de tratamento. Já a política pública de universalização da prática de esportes olímpicos no turno invertido da escola, esta que aguarde!
este artigo foi originalmente publicado no portal do Instituto Humanitas Unisinos
Fonte: Estratégia e Análise
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