domingo, 25 de março de 2012

Demóstenes, o Bastião da Moralidade

"O assunto já está na grande mídia e na blogosfera há algumas semanas. Daí, reproduzo ipsis litteris do Blog do jornalista Fábio Pannunzio a matéria sobre o senador do DEM e ex "Promotor de Justiça" e "Bastião da Moralidade", Demóstenes Torres".(Do Blog Abra a Boca Cidadão)





  
Demóstenes Torres, senador, promotor de justiça, bicheiro e corrupto.

(Leandro Fortes, da Carta Capital)

A Polícia Federal tem conhecimento, desde 2006, das ligações do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás.

Três relatórios assinados pelo delegado Deuselino Valadares dos Santos, então chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros (DRCOR), da Superintendência da PF em Goiânia, revelam que Demóstenes tinha direito a 30% da arrecadação geral do esquema de jogo clandestino, calculada em, aproximadamente, 170 milhões de reais nos últimos seis anos.

Segundo relatório da Polícia Federal, 30% é o percentual que o senador do DEM recebia do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

 
Na época, o império do bicheiro incluía 8 mil máquinas ilegais de caça-níqueis e 1,5 mil pontos de bingos. Como somente no mês passado a jogatina foi desbaratada, na Operação Monte Carlo, as contas apresentadas pela PF demonstram que a parte do parlamentar deve ter ficado em torno de 50 milhões de reais. O dinheiro, segundo a PF, estava sendo direcionado para a futura candidatura de Demóstenes ao governo de Goiás, via caixa dois.

A informação, obtida por CartaCapital, consta de um Relatório Sigiloso de Análise da Operação Monte Carlo, sob os cuidados do Núcleo de Inteligência Policial da Superintendência da PF em Brasília. Dessa forma, sabe-se agora que Demóstenes Torres, ex-procurador, ex-delegado, ex-secretário de Segurança Pública de Goiás, mantinha uma relação direta com o bando de Cachoeira, ao mesmo tempo em que ocupava a tribuna do Senado Federal para vociferar contra a corrupção e o crime organizado no País.

O senador conseguiu manter a investigação tanto tempo em segredo por conta de um expediente tipicamente mafioso: ao invés de se defender, comprou o delegado da PF.

Deuselino Valadares [o delegado da PF que se vendeu] foi um dos 35 presos pela Operação Monte Carlo, em 29 de fevereiro. Nas interceptações telefônicas feitas pela PF, com autorização da Justiça, ele é chamado de “Neguinho” pelo bicheiro. Por estar lotado na DRCOR, era responsável pelas operações policiais da Superintendência da PF em todo o estado de Goiás. Ao que tudo indica, foi cooptado para a quadrilha logo depois de descobrir os esquemas de Cachoeira, Demóstenes e mais três políticos goianos também citados por ele, na investigação: os deputados federais Carlos Alberto Leréia (PSDB), Jovair Arantes (PTB) e Rubens Otoni (PT).

Escutas da Operação Monte Carlo mostram que o bicheiro citou mais três políticos goianos: Rubens Otoni (PT) (à esquerda), Carlos Alberto Leréia (PSDB) (centro) e Jovair Arantes (PTB).

Ao longo da investigação, a PF descobriu que, nos últimos cinco anos, o delegado passava informações sigilosas para o bando e enriquecia a olhos vistos. Tornou-se dono de uma empresa, a Ideal Segurança Ltda, registrada em nome da mulher, Luanna Bastos Pires Valadares. A firma foi montada em sociedade com Carlinhos Cachoeira para lavar dinheiro. Também comprou fazendas em Tocantins, o que acabou por levantar suspeitas e resultar no afastamento dele da PF, em 2011.

O primeiro relatório do delegado Deuselino Valadares data de 7 de abril de 2006, encaminhado à Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio (Delepat) da PF em Goiânia. Valadares investigava o escândalo da Avestruz Master, uma empresa que fraudou milhares de investidores em Goiás, quando conheceu o advogado Ruy Cruvinel. Cruvinel chamou Valadares para formar uma parceria a fim de criar “uma organização paralela” à de Carlinhos Cachoeira. O suborno, segundo o delegado, seria uma quantia inicial de 200 mil reais. Ele, ao que parece, não aceitou e decidiu denunciar o crime.

Em 26 de abril de 2006, o relatório circunstanciado parcial 001/06, assinado por Deuselino Valadares, revelou uma ação da PF para estourar o cassino de Ruy Cruvinel, no Setor Oeste de Goiânia. Preso, Cruvinel confessou que, dos 200 mil reais semanais auferidos pelo esquema (Goiás e entorno de Brasília), 50%, ou seja, 100 mil reais, iam diretamente para os cofres de Carlinhos Cachoeira.

Outros 30% eram destinados ao senador Demóstenes Torres, cuja responsabilidade era a de remunerar também o então superintendente de Loterias da Agência Goiânia de Administração (Aganp), Marcelo Siqueira. Ex-procurador, Siqueira foi indicação de Demóstenes e do deputado Leréia para o cargo. Curiosamente, ao assumir a função, um ano antes, ele havia anunciado que iria “jogar duro” contra o jogo ilegal em Goiás.
Em 31 de maio de 2006, de acordo com os documentos da Operação Monte Carlo, Deuselino Valadares fez o relatório derradeiro sobre o esquema, de forma bem detalhada, aí incluído um infográfico do “propinoduto” onde o bicheiro é colocado no centro de uma série de ramificações criminosas, ao lado do senador do DEM e do ex-procurador Marcelo Siqueira. Em seguida, misteriosamente, o delegado parou de investigar o caso.

“Verificado todo o arquivo físico do NIP/SR/DPF/GO não foi localizado nenhum relatório, informação ou documentos de lavra do DPF DEUSELINO dando conta de eventual continuidade de seus contatos com pessoas ligadas à exploração de jogos de azar no Estado de Goiás”, registrou o delegado Raul Alexandre Marques de Souza, em 13 de outubro de 2011, quando as investigações da Monte Carlo estavam em andamento.

A participação do senador Demóstenes Torres só foi novamente levantada pela PF em 2008, quando uma operação também voltada à repressão de jogo ilegal, batizada de “Las Vegas”, o flagrou em grampos telefônicos em tratativas com Carlinhos Cachoeira. Novamente, o parlamentar conseguiu se safar graças a uma estranha posição da Procuradoria Geral da República, que recebeu o inquérito da PF, em 2009, mas jamais deu andamento ao caso.

Veja aqui documentos da Operação Monte Carlo .



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Fonte: Abra a Boca Cidadão

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A tal da governabilidade e lobotomia ideológica

 Em 2009, a então senadora Ideli Salvatti (PT) trocou afagos com o presidente do Senado Federal, o sempre vivo e bem articulado José Sarney (PMDB). Qualquer semelhança do fato com a ideia de governabilidade não é mera coincidência.

Bruno Lima Rocha

Tem momentos que a análise política cansa. Não o trabalho de mergulho ou o estudo de profundidade, pois esta modalidade – embora mais trabalhosa – sempre empolga. O problema é analisar o dia a dia do presidencialismo de coalizão somado ao pacto de governabilidade.

Entra ano e sai ano e digitamos laudas sem fim do mesmo dilema: a barganha política acalma as partes, mas opera como lobotomia ideológica, exterminando o que restara de idéias coletivistas após anos de governo de centro-esquerda não classista.

Desculpem a falta de paciência,mas entendo que a lógica que operara o suposto Mensalão – do ponto de vista da tal da governabilidade – está correta. Afinal, esperar o que ao dividir orçamentos, contratos, compras de governo, possibilidades de licitação, preenchimento de milhares de cargos de confiança, tudo através de acordos na macro-política tecidos com relações pouco ou nada republicanas?

Para aqueles que julguem como exagero, convido a analisar o embate entre PT e PR, a “rebeldia” da base aliada – em especial a de ex-arenistas a pulular no PMDB e PP – assim como a motivação factual da maioria das trocas de ministros de Dilma até o momento.

Alguns colegas dirão tratar-se da real politik – conceito elevado às alturas da ciência por Lênin -, outros citarão o exemplo da fábrica de salsichas e o parlamento e os mais eruditos evocarão autores que “naturalizam” as oligarquias partidárias. Puro conformismo de ocasião.

É triste constatar que o governo de Dilma, assim como o de Lula, promoveram um aumento da renda do brasileiro e sua qualidade de vida, mas não se preocuparam em alterar a natureza das formas de se fazer política profissional no Brasil.

Alguns colegas – analistas e estudiosos acadêmicos da política – escrevem artigos e teses justificando o modus operandi como única forma de convívio tolerável com o modus vivendi de caciques partidários. Pode até ser, mas isto opera como efeito narcotizante da boa política.

Governar a qualquer custo e com qualquer um que aceite entrar na disputa interna por nacos de poder (na corrida de porcos por lavagem, segundo a ciência política dos EUA), mesmo que para o bem de todos, não conforma necessariamente um bom governo, mas apenas o melhor possível desde que o andar de cima da pirâmide social não se sinta incomodado.

Conforme já disse em outras ocasiões, há diferença substantiva nas realizações da Era Lula com a de FHC. Porém a cultura política é exatamente a mesma, assim como a sanha dos “aliados”.

Este artigo foi originalmente publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat.

Fonte Estratégia e Análise

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