domingo, 30 de setembro de 2012

Candidatos mascaram a compra de votos, diz MCCE


Coordenadores do MCCE afirmam que na reta final vai aumentar a compra de votos e que candidatos continuam utilizando o “caixa 2” nas campanhas eleitorais 

 Crédito da foto: Joab Barbalho/FE
 ANTÔNIO CAVALCANTE E NERY


Os coordenadores do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), Vilson Nery e Antônio Cavalcante, o popular Ceará, em entrevista à Folha do Estado, fizeram um alerta sobre a evolução do método para a compra de votos, que atualmente é mascarado em adesivagem de carros e placas em residências, que não são cadastrados nas contas de campanha, o que demonstra o uso do caixa dois, já que o dinheiro não é declarado. A expectativa para a reta final da campanha, nestes últimos sete dias, é de sujeira nas ruas devido ao material de campanha, como santinhos, e de acusações dos candidatos. Para a fiscalização no dia da eleição, 7 de outubro, o MCCE atuará em conjunto com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e a Secretaria de Segurança Pública. 


MARIANNA MARIMON 
REPORTAGEM LOCAL /Folha do Estado

Folha do Estado - Como tem sido a atuação do MCCE durante o processo eleitoral? 

Vilson Nery - A atuação é diferente a cada eleição porque sempre inovamos. O sentido é despertar que a sociedade faça este papel, o eleitor, o candidato, o partido político. O diferencial desta eleição municipal é a Lei da Ficha Limpa, o aspecto mais relevante de 2012, que é a sua aplicação, pela primeira vez. Por exemplo, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), recebeu 700 recursos de registro de candidatura, sendo que apenas cerca de 60 candidatos foram barrados com base na Lei da Ficha Limpa. Contudo, por ser uma lei abrangente, que enquadra tanto aqueles que tiveram contas rejeitadas pelas gestões no serviço público ou foram condenados por improbidade, quanto os que cometeram crimes comuns, diversos juízes e promotores tiveram entendimentos divergentes sobre a aplicação da lei. Os partidos políticos também estão insistindo nas candidaturas dos candidatos ditos Ficha Sujas e isso é grave porque o filtro deve começar aí. Então a atuação do MCCE nesta campanha de 2012, tem como mote a Lei da Ficha Limpa. Estamos realizando palestras em escolas, comunidades e partidos políticos, para incentivar o conhecimento desta lei. 

Folha do Estado - E sobre a reta final da campanha, já que faltam apenas sete dias para o pleito, qual será a ação do MCCE?

ABUSOS 
O crime eleitoral, como a compra de voto, é o pai e mãe de todos os crimes

Vilson Nery - Iremos fazer um acompanhamento na reta final da campanha para evitar os crimes eleitorais. Estaremos atuando em conjunto com a Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e as Polícias Federal, Civil e Militar. Estaremos com uma base no Sintep Subsede de Cuiabá (Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público), com telefones e computadores, que ficaremos conectados em tempo real com todos os municípios do Estado. Faremos uma triagem das denúncias, checaremos a veracidade das informações e estaremos repassando às polícias para que façam flagrante dos delitos. Estaremos com 40 pessoas voluntárias. 

Folha do Estado - Nos últimos dias de eleição, qual é a expectativa do MCCE? 

Vilson Nery - A expectativa é de muita sujeira nas ruas, com o material de campanha dos candidatos, como santinhos e muita acusação dos candidatos. Em conversa com uma juíza eleitoral, ela me disse que estava impressionada com o baixo nível da campanha, mas este nível é reflexo da qualidade dos candidatos, é exatamente igual. Mas a expectativa é que muita coisa ruim aconteça. Conseguimos inibir algumas práticas, de infiltração do crime nas campanhas, como o uso de armas para proteger candidatos, que podemos dizer que é atuação de milícia. E através da denúncia pela imprensa, a prática está diminuindo. 

Folha do Estado - Quais são as principais preocupações a cerca de crimes eleitorais durante estas eleições? 

Antônio Cavalcante - O MCCE é uma rede de relações, que através das denúncias consegue flagrar, impedir e inibir o uso de caixa dois, máquina pública, mas a principal preocupação é a compra de votos. O MCCE atua desde 2000 em Mato Grosso. São 12 anos contribuindo com melhorias para o processo eleitoral, como as duas leis mais importantes, de iniciativa popular, a Lei 9840 de compra de votos, e a Lei da Ficha Limpa. 


ELEIÇÕES 
Os partidos políticos estão insistindo nas candidaturas dos candidatos ditos Ficha Sujas

Folha do Estado - Como funciona o esquema para compra de votos? Qualquer benefício dado ao eleitor enquadra o candidato na captação ilícita de sufrágio? 

Antônio Cavalcante - Após a reforma na legislação eleitoral em 2006, é proibido dar qualquer tipo de benefício ao eleitor, que possa influenciar na escolha do candidato. Quando começamos a atuar nesta área, em 2000, havia em Cuiabá uma feira livre de compra e venda de votos. Era público e explícito. Nas praças centrais, os cabos eleitorais montavam suas bancas e as pessoas faziam fila para cadastrar o título de eleitor e negociar o voto. No dia das eleições, os comitês dos candidatos recebiam os eleitores para pagamento. Então, com as informações dos próprios cabos eleitorais, selecionei os 12 candidatos mais ricos e com maior visibili-dade de campanha, e liguei para cada um deles e gravei a conversa. Varios candidatos foram processados e uma CPI de compra de votos foi instaurada para investigação. Após este episódio, em 2002 mudaram a tática para venda de votos, que começou a ser feita de casa em casa, com as informações dos cadastros e mesmo assim, conseguimos pegar o deputado Rogério Silva do PP. Ele foi o primeiro deputado federal cassado pelo TRE por compra de votos. 

Folha do Estado - De 2000 a 2012, o que mudou na prática da venda de votos? 

Antônio Cavalcante - Já em 2004, a prática começou a mudar. Os cabos eleitorais não iam apenas pelos cadastros, mas de casa em casa, tomar um café e oferecer dinheiro por voto. Atualmente, em 2012, a compra de votos é mascarada. A evolução do método abrange os adesivos de carros e as placas nas residências, que são negociadas por gasolina e dinheiro, principalmente. É raro o eleitor que faz esta propaganda voluntariamente. Para circular com a propaganda do candidato, este combustível doado não é contabilizado nas contas de campanha, ou seja, são caixa dois, abuso de poder econômico. 

Folha do Estado - Existem outras práticas para a compra de voto? 

Vilson Nery - Os candidatos também costumam financiar festas de aniversário para depois comparecer pedindo voto. Se fosse um ato de campanha, o candidato teria o registro cassado, porque é proibido qualquer tipo de benefício ao eleitor,que possa influenciar na escolha do voto. Mas, festa de aniversário pode, e o candidato disfarça como forma de comprar voto. 

Folha do Estado - Porque estas práticas ilícitas não são coibidas? 

Antônio Cavalcante - Mesmo que esta prática encoberte ou mascare a compra de votos, é possível que haja investigação, basta que o Estado através de suas instituições, o poder judiciário pela Justiça Eleitoral, o Ministério Público Eleitoral e a Polícia Federal, montem uma equipe de inteligência, para acabar com esta prática. Mas, parece que não há vontade. Se fosse um roubo, as viaturas estariam ali para atender, mas diversas vezes passamos por situações em que o crime eleitoral estava ocorrendo e não havia para quem comunicar, não havia quem atendesse a denúncia. E é esta a falha do Estado, porque o crime eleitoral é o pai e mãe de todos os crimes. Quando políticos assumem o poder devido a compra de votos, nasce a desigualidade social, a marginalização, a questão da miséria, porque eles não trabalharão pelo povo. Este crime deveria ser o primeiro de todos a ser combatido e eliminado. 

Vilson Nery - Se houvesse fiscalização na prestação de contas dos candidatos, que por exemplo, demonstram repetição de itens, como pagamento de luz, ou tickets de gasolina, então seria necessário confrontar estes dados, bastando ir ao posto de gasolina e flagrar quem abastece e entrega o ticket. Ele é a prova da compra de votos. É uma questão de fiscalização. 

Fonte: Folha do Estado

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