terça-feira, 23 de outubro de 2012

Eu voto nulo



Com grande quantidade de votos nulos, os caras eleitos vão parar e pensar que, sem a legitimidade que esperavam, deverão ter cuidado com o que vão fazer, pois encontrarão a resistência de um povo que sabe que as decisões políticas não estão nas mãos dele.









Eu voto nulo


Por Luana Soutos* 

Eu voto nulo porque a política vai muito além do ato de votar. O voto nulo não anula eleição, mas é uma maneira de demonstrar que estamos insatisfeitos com os candidatos “colocados na prateleira” ou mesmo com o sistema eleitoral, que é bastante restrito e nada democrático. Primeiro, porque, teoricamente, as pessoas são convencidas de que as opções são somente aquelas, e que só através do voto é possível mudar alguma coisa. 

Mas os partidos que conseguem eleger alguém, são sempre os mesmos, liderados pelos caras que estão aí há anos, só sugando o dinheiro do trabalho do povo para beneficiar seus negócios. Os pequenos partidos e, em especial, aqueles partidos que apresentam projetos que realmente trazem alguma diferença, são massacrados pelo sistema eleitoral e pela mídia. Nada é igual, nem a quantidade de recursos, nem o espaço na mídia, nem a atenção para as diferenças de projeto. 

Eduardo Galeano tem um conto que pode elucidar bem essa questão. Um bondoso e democrático cozinheiro chamou as aves que cozinharia para perguntar a elas com que molho gostariam de ser comidas. Uma delas simplesmente respondeu que não queria ser comida com molho algum. “Mas isso está fora de questão”, disse o cozinheiro. 

Acreditar que somente a eleição pode trazer alguma diferença é limitar nossa atuação política, enquanto cidadãos e, portanto, reais detentores do poder. Escolher algum candidato qualquer, principalmente desses que já fazem parte da elite econômica e política da nossa sociedade, é legitimar um sistema que serve para beneficiar alguns. E é essa a intenção do sistema eleitoral como é aqui no Brasil – por isso o voto é obrigatório. 

O voto nulo, ao menos, deixa clara a posição de que nós sabemos que existem outras alternativas, e que nós mesmos podemos fazer diferente, independente de quem esteja lá nos “representando”. Com grande quantidade de votos nulos, os caras eleitos vão parar e pensar que, sem a legitimidade que esperavam, deverão ter cuidado com o que vão fazer, pois encontrarão a resistência de um povo que sabe que as decisões políticas não estão nas mãos dele. 

Luana Soutos é jornalista em Cuiabá, Diretora de Fiscalização do Sindjor-MT e estudante de Ciências Sociais 

Fonte pagina do Enock


Meus comentários:

Acredito Luana, que votar branco, nulo ou se abster é um direito de qualquer cidadão. O que me deixa mesmo indignado é o eleitor inconsequente, irresponsável e bandido que vende o voto para os picaretas da politicalha ladrona. 

Eu mesmo, em  2006, escrevi dois artigos, um intitulado: "O VOTO NULO CONSCIENTE" e o outro,  "VOTO CONSCIENTE É VOTO NULO". 

Talvez, mesmo já tendo passado seis anos, eles possam ainda servir de reflexão:




VOTO NULO CONSCIENTE
Em 12/09/2006




Diante das patifarias que há décadas, para não dizer há séculos, vêm se perpetuando na história do nosso país, o voto útil, se seguido à risca os padrões da moralidade e da ética, é uma das tarefas mais árduas que o eleitor terá que executar no momento de votar. É bom lembrar que “tempo de eleições é tempo de ilusões”, como bem demonstrou um dos mais lúcidos filósofos do existencialismo Jean-Paul Sartre no artigo “Eleições: armadilha para tolos”.

A primeira falácia eleitoreira é a de que o voto nulo anula o cidadão. Além de ser uma grande bobagem, é de uma cretinice sem dimensão. No sistema onde o voto é obrigatório, o voto nulo é a saída coerente para o eleitor que não compactua com as práticas daqueles que utilizam os seus mandatos para roubarem os cofres públicos. Mas não é só isso, o voto nulo é também um questionamento firme contra a política econômica e social, tanto a de ontem quanto a de hoje, que tem privilegiado os ricos e esmagado a classe trabalhadora. 

Portanto, o voto nulo, mais que um simples protesto contra os politiqueiros que fazem cambalachos nas licitações públicas para receber comissões, propinas e “salários” extras, é a forma corajosa de denunciar, desmascarar e principalmente, a de não legitimar um sistema tão podre. 

Quem se esquiva das suas responsabilidades como eleitor, e se declara covarde, são exatamente aqueles que com o seu voto útil continuam legitimando os que se locupletam nas posições privilegiadas do poder para aumentar seu patrimônio pessoal, às custas de um povo que vive em condições de vida precárias e humilhantes. 

A postura do eleitor consciente deve ser a mesma do consumidor exigente. Se vamos comprar um produto, é lógico que devemos exigir a boa qualidade, validade e garantia daquilo que vamos pagar. Se os fabricantes ou vendedores não nos oferecem nenhuma segurança, é normal que nos reservemos ao direito de não comprar tal mercadoria. 

Assim também deve proceder o eleitor consciente. Se nenhum dos candidatos satisfaz as minhas exigências, não sou obrigado a votar em qualquer um. Essa conversa fiada de que temos que votar, nem que seja no menos pior, foi o que levou o país ao fundo do poço. 

Seguindo esse raciocínio, fica claro que nada pode me obrigar a continuar legitimando, com o meu “voto útil”, um sistema corrupto e injusto com o qual não concordo. Com isso quero dizer que votar nulo significa afirmar que sou contra toda a podridão, e não apenas contra este ou aquele político podre. Ao negar o atual modelo político, econômico e social, o voto nulo irá passo a passo preparando o terreno onde florescerá uma nova sociedade, um outro Brasil. 

Ao contrário de anular o “cidadão”, como pregam os “guardiões” da democracia dos ricos, o voto nulo consciente é uma via pacífica para a construção da democracia direta e participativa, o espaço saudável de consolidação da verdadeira cidadania. 

A segunda falácia eleitoreira, tão boba ou cínica quanto a primeira, é a de que “quem anula o seu voto não tem o direito de cobrar dos eleitos”. Ora, se votar nulo não desobriga o eleitor de pagar os arrojados impostos, como também não o exclui da lista dos contribuintes, nem tampouco de cumprir as leis feitas pelos eleitos, fica claro que esta “pregação” é totalmente falsa, para não dizer idiota. Isso é lógico. 

O fato é que o voto nulo é um direito legítimo previsto na legislação. Isso quer dizer que quem vota nulo continuará gozando plenamente dos seus direitos políticos, podendo fiscalizar, cobrar e exigir a boa aplicação do dinheiro público que é de todos nós. 

Finalizando, o voto nulo é voto consciente. È um grito profundo contra a corrupção, a impunidade e as injustiças. O voto nulo consciente é muito mais, é uma das variedades das “sementes de transformação”. Estamos todos na mesma corrente, como diz o nosso hino: “Esse é o nosso país, essa é a nossa bandeira. É por amor a essa pátria Brasil que a gente segue em fileira“. 

* ANTONIO CAVALCANTE FILHO


Entendo que o voto tem que ser consciente. Porem, se os partidos ou os candidatos não respeitam a opinião publica, fazendo todo e qualquer tipo de “alianças”, nós cidadão eleitores não somos também obrigados a engolir sapos. 


 Voto consciente é voto nulo 
 Em 16/08/2006



É normal em ano eleitoral o acirramento dos debates políticos nos mais diferentes segmentos sociais. No calor dessas discussões, os trabalhadores poderão observar com mais atenção o antagonismo irreconciliável dos interesses de classes. Este período é excelente para os setores explorados desmistificarem a “pregação” abstrata da classe dominante de que vivemos numa democracia na qual todos os “cidadãos” são iguais perante a lei com os mesmos direitos e deveres. 

Com o circo eleitoral já instalado e tendo o voto como panacéia para todos os males, está montado o cenário perfeito para refletirmos com profundidade se realmente temos um governo do povo, pelo povo e para o povo. Vai ser aí, no meio das mentiras e palhaçadas dos comícios ou dos programas eleitorais, que iremos nos perguntar: Afinal, o Artigo 1° da nossa Constituição que afirma que o Brasil se constitui em Estado Democrático e de Direito, tendo como fundamento a cidadania e a dignidade da pessoa humana, é verdadeiro ou apenas uma ficção? 

Nas campanhas eleitorais se revelam mais claramente os interesses ocultos das elites governantes. É nesse período, que o maquiavelismo corrupto dos politicóides profissionais fica mais nítido, visto que eles escancaram, sem nenhum pudor, suas demagogias e cinismos. Portanto, esse momento exige de cada um de nós uma especial atenção. 

Os graves problemas sociais somados à imoralidade reinante em todos os escalões da república, convidam-nos a uma reflexão não apenas da estruturação social, econômica e administrativa dessa sociedade hipócrita, mais principalmente do atual modelo de representação política.

Refletindo juntos, os explorados, os excluídos e humilhados desse sistema poderemos descobrir se há ou não política além do voto. Juntos haveremos de compreender claramente que: eleição é o mensalão dos ricos, o voto é a migalha dos pobres. Caminhando e refletindo juntos podemos ir mais longe ainda para afirmar com convicção que: Voto consciente é voto nulo. 

Independentemente dos mandarins desse Estado gostarem ou não, votar nulo é a maneira pacífica e legítima do povo dizer não a este sistema corrupto e opressor que se tornou legal. Votar em candidatos, votar em branco ou anular o voto são manifestações da vontade dos eleitores prevista na legislação. 

No curtíssimo momento em que o “cidadão” entra na “cabina indevassável” e, por alguns segundos da sua vida ele exerce, como dizem, a sua mais “plena soberania”, ele pode digitar o que ele quiser na urna. Só não pode, é claro, despedaçar a maquinazinha. 

O coerente da nossa parte seria a total abstenção ao voto, porem somos obrigados por lei a praticar este ato tão inútil para promover qualquer transformação efetiva da sociedade. Mesmo assim, votando nulo, estaremos dando os primeiros passos rumos ao voto facultativo. Não importa em quem se vota, continuar participando desse processo falsamente democrático, com o voto impositivo, é legitimar e avalizar as políticas nefastas que aí estão. No entanto, com a força do voto nulo, estaremos exigindo uma profunda reforma política, já que os politiqueiros carreiristas não têm autoridade moral para fazê-la. 

É claro que os profissionais da politicagem, sejam eles da direita ou da esquerda, domesticada, fascista ou pseudo-socialistas, se irritarão quando o assunto em discussão for o voto nulo. É que, esta casta de usurpadores privilegiados, fez da representação política um negócio lucrativo e ilícito; de enriquecimento rápido e fácil para eles, seus familiares e apaniguados. Evidentemente esses aproveitadores jamais irão aceitar perder as tetas gordas do poder. 

Esta irritação já é bem visível em Mato Grosso. É como se votar nulo não fosse uma opção legítima do eleitor consciente. Esses falsos democratas, guardiões da democracia dos ricos já se apresentam por aí como verdadeiros cães de guarda do dito voto útil. Segundo eles, a proposta do voto nulo, “atenta contra a principal e talvez a única arma do eleitor: o voto”. Só que esquecem de avisar que o voto útil pode ser também uma arma apontada contra o próprio eleitor. 

Como se já não bastasse a obrigação de votar, fazendo de um direito, um dever, ainda há aqueles que querem nos fazer acreditar que devemos votar em qualquer um, nem que seja no menos pior. Esses parecem não se lembrar que mesmo os menos ruins, quando eleitos pioram. O voto obrigatório não combina com democracia. Voto obrigatório é ditadura disfarçada, que no Brasil, passou a ser sinônimo de garantia democrática. 

Geralmente esses fascistas aparecem vomitando sapiência, como se eles soubessem tudo, enquanto nós, “pobres diabos”, nada soubéssemos. Para eles somos apenas os Zé-manés, as Marias, as Amélias, os Paraíbas, os Cearás, uns João-ninguém, os desavisados da vida. Os fascistas não conseguem esconder o seu desprezo com os trabalhadores. Eles não têm a menor consideração para com a classe que lhes alimenta e lhes servem, do nascimento até a morte. 

Porque será que esses sabichões facistóides ficam tão raivosos quando propomos discutir o voto nulo? Será que não confiam mais em seus currais eleitorais, nos eleitores de cabrestos e nos seus votos comprados? Não importa! O importante é reafirmar que sem liberdade para o eleitor decidir conscientemente, se deseja ou não votar e como votar, a democracia se resumirá nesse arremedo que aí está. 

Já que fizeram do direito de votar uma obrigação; pelo fim dos sanguessugas, dos mensalões, dos valeriodutos, dos caixas dois e dos quinhentos anos de patifarias, e por democracia de fato, conscientemente votarei nulo como um dever. 

 * ANTÔNIO CAVALCANTE FILHO


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OPOSIÇÃO, SITUAÇÃO E A FARSA POLÍTICA DAS ELEIÇÕES BRASILEIRAS. 








O Brasil é um país engraçado sob muitos aspectos. Na pirâmide social, um governo fantasioso e fraco, diz que retirou milhões da miséria afirmando que os que ganham a partir de R$ 286,00 pertencem a “Classe Média” (mesmo que este valor seja insuficiente para alimentar, vestir, garantir habitação e laser uma única pessoa). 

Na saúde o mesmo governo insiste em dizer que oferece o melhor serviço do mundo enquanto os brasileiros são enviados para um verdadeiro genocídio em hospitais lotados, mal aparelhados, com profissionais mal pagos e mal qualificados, incapazes de distinguir entre uma sonda de alimentação de uma de aplicação de soro (algo muito difícil, pois são de cores e texturas diferentes e uma entra pelo nariz e outra por uma veia). 

Na educação o tão apregoado “sucesso revolucionário” se resume a criar uma legião de analfabetos funcionais, incapazes de compreender textos curtos e realizar operações matemáticas simples; convertendo as escolas em verdadeiras máquinas de emburrecer. 

No campo ético e moral, então… nem se fala. Corrupção generalizada e sistêmica. A máquina estatal convertida em máquina arrecadadora de fundos para um grupo de partidos que se aliaram para roubar os cofres da nação que deveriam servir ao povo e ao país. 

Mas, nesse enorme mar de mentiras e corrupção; onde está a oposição? 

A oposição brasileira está pateticamente prostrada e inerte diante de sua própria incapacidade de se desvincular do mesmo modo de agir da situação. Isso mesmo. Enquanto muitos dizem erroneamente que há “direita” e “esquerda” no Brasil; o que há é simplesmente um enorme emaranhado de “mais do mesmo”.

A vertente ideológica é tão desprezível que vemos partidos ditos “de esquerda” se aliando ao que há de mais atrasado e conservador na política nacional e partidos teoricamente “de direita” se aliando a forças que se dizem “comunistas” ou “de esquerda”. 

A razão disso é total ausência de estadistas em nossa política e a incapacidade dos partidos de depurarem seus quadros e busca de pessoas melhores e livres das mazelas tão comuns no dia a dia político. Se a oposição critica a situação por cooptar movimentos sociais, através do derrame de dinheiro público e da compra dos dirigentes dessas entidades; a oposição em São Paulo deu exemplos de que faz o mesmo ao oferecer dinheiro para que pessoas ligadas a um movimento de “sem-teto” comparecessem aos comícios de Serra. 

A incapacidade de empolgar o eleitorado, a falta de ética generalizada e a fraqueza de suas próprias convicções traz a oposição para bem perto da situação e mostra a razão principal para o sucesso do “jeito PT” de fazer política, embalado na apatia e na falta de combatividade da oposição. 

Falta quem exponha a forma nefasta com que é feita a política hoje e se recuse a compactuar com ela. Falta quem dê o soco na mesa e diga basta. Falta uma figura de coragem e de talento acima do que aí está. Falta um eleitorado que dê importância a um jeito mais limpo de se fazer política. Falta uma oposição capaz de se mostrar diferente. Acima de tudo, faltam homens bons. 

Afinal de contas, em uma cidade de telhados de vidro, quem seria louco de atirar a primeira pedra? 

Fonte: Visão Panorâmica


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