Não o filme. O que "já era", com o desenvolvimento da tecnologia, a expansão da Classe C e a democratização da internet, é a figura do "barão da mídia"
Não o filme. O filme ainda é – e muito – bom! O que "já era", com o
desenvolvimento da tecnologia, a expansão da Classe C e a democratização
da internet, é a figura do "barão da mídia". Cada indivíduo hoje pode
ser um publisher em potencial. Tá certo que alguns exageram na vaidade e
na pose, e podem soar e figurar como uma espécie de "publisher de
hospício", mas tá valendo.
Em tempos assim nem tão idos, você deve se lembrar, os caciques dos
partidos trocavam entre si concessões públicas na área de comunicação:
rádios, retransmissoras de TV, jornais. E também presenteavam
empresários amigos com esses "mimos". Assim ficava tudo mais ou menos
arranjado, "no esquema", uma ação entre amigos.
Aprenderam, muito antes de/da Chacrinha, que "quem não se comunica,
se trumbica". Assimilaram ligeiro que, numa sociedade de massas, comanda
aquele que melhor e mais rápido se comunica com essas massas.
Esses poucos empresários e esses políticos, selecionados a dedo, a
maioria paga por serviços prestados ao regime de exceção, transformaram
então essas concessões públicas em verdadeiros cartéis. Apropriaram-se
desses feudos da Comunicação e, a partir deles, enriqueceram.
Constituíram verdadeiros conglomerados e, por muito tempo, exerceram
seu despotismo, seu coronelismo cordato – mas não menos infame e
rastaquera. Eram como grandes latifundiários, "fazendeiros do ar".
Cuidavam da sua "boiada" e de seus currais eleitorais eletrônicos. Esse
tempo, porém, ao que tudo indica, está com os dias contados.
Esses "fazendeiros do ar" construíram verdadeiras catedrais das
comunicações; pagavam salários milionários a alguns poucos e talentosos
jornalistas; transformaram-nos em autênticas "grifes" do jornalismo;
auferiram-lhes o monopólio da opinião.
Estes, porém, são só uns poucos, pouquíssimos, exceções à regra –
vale ressaltar. Pois a maior parte dos jornalistas, os chamados "focas" e
também os redatores, não pode ser criticada, muito menos execrada, pelo
simples fato de trabalhar nesses veículos e empresas de comunicação.
Estes são, até hoje, mal pagos e sugados até a última gota de sangue, e,
como muitos, têm que, para garantir o leite das crianças, trabalhar até
alta madrugada nas redações, sem direito a hora extra e descanso. A
mais-valia corre solta nas redações. Por onde andam o sindicato e a
delegacia regional do trabalho que não tomam as providências
necessárias? Será que também se sentem intimidados pela supostamente
inalienável "liberdade de exploração" desses veículos?
Antes só os poderosos escreviam. Os demais mortais tinham até medo de
escrever. Medo da força dos poderosos e de escrever errado, pois ainda
tinha a norma culta a lhes assombrar e coibir a escrita livre. Só os
poderosos falavam; os demais tinham a voz embargada pelo medo. Só os
poderosos tinham vez e voz.
Porém, como disse, esse tempo já está com seus dias contados. Com a
internet, o avanço da tecnologia e a supremacia e proliferação dos meios
digitais, hoje, os chamados "jornalistas de grife" perdem, e cada dia
mais, o seu valor de mercado – muitos deles, apesar de manterem a pose,
já não valem um tostão furado.
Nos dias de über modernidade/über comunicação que experimentamos, o
protagonismo agora está nas mãos de diversos e pulverizados agentes.
Impera o que alguns chamam de "caos", outros de "anarquia", outros de
"protagonismo cidadão" – e por aí segue a toada, mas não mais a boiada.
O leitor já não é mais um ser passivo, para aquém dos muros das
catedrais, guardado em seu "devido" lugar. Agora o leitor assume um
papel criador, participativo e arromba as portas dos antes
intransponíveis templos sagrados da mídia.
Hoje, muitas vezes, os leitores, nos comentários e postagens,
demonstram ser tão ou mais qualificados que os colunistas ou repórteres.
Nas minhas colunas, por exemplo, inúmeras vezes leitores complementaram
as lacunas que deixara em meus textos e ideias. O diálogo agora é para
valer: é de igual para igual. Sem filtros e/ou barreiras.
Esse é o grande barato da comunicação nos dias que correm. Ninguém
mais é o dono da verdade. Agora a verdade é um processo. Algo que se
constrói junto. De forma colaborativa e participativa. Mas sem demagogia
barata nem excessos e caricaturas.
A comunicação já não é propriedade de um único Cidadão [seja Kane,
Murdoch, Marinho, Civita, Mesquita, Frias et caterva]. A comunicação
hoje é propriedade do cidadão [seja Severino, Silva, Andrade, Guimarães,
Paulo, Pacheco, Miranda, qualquer um].
Cidadão Kane já era. Agora quem manda é a galera, que invadiu as cidadelas ditas "inexpugnáveis" da comunicação, cidadão.
Fonte: Brasil 247
Por Ethevaldo Siqueira
Leia mais:
Como e por que o jornal impresso agoniza
Por Ethevaldo Siqueira
Estamos vivendo no Facebook uma experiência muito mais significativa do
que supõe a maioria das pessoas. Melhor seria dizer que as redes
sociais estão fazendo uma revolução – que, no início, são sempre
caóticas, desordenadas e confusas. Este é o ambiente do jornalismo do
futuro que nem todos os jornalistas parecem perceber.
O que transforma o jornalismo impresso tradicional são, na realidade, quatro forças convergentes que atuam simultaneamente no cenário econômico e que transformam as empresas, em especial, aquelas ligadas à Tecnologia da Informação (TI).
Essas quatro forças são: mobilidade, redes sociais, computação em nuvem e informação (internet). Para os especialistas do Grupo Gartner, elas são chamadas de Nexus das Forças e representadas, no jargão internacional, por quatro palavras em inglês: mobile, social, cloud e information.
Próxima etapa
Não apenas nas grandes corporações da área de TI, mas, também, nas empresas de comunicação, essas forças estão moldando o futuro da nova empresa de jornalismo. O maior sucesso no período de transição depende, entretanto, da correta compreensão do poder e do impacto dessas verdadeiras alavancas tecnológicas, de sua sinergia. Não mais se trata de uma única mudança de paradigma, como foi no passado, por exemplo, a introdução da máquina a vapor, na segunda metade do século 18. Ou do petróleo, no final do século 19. Ou da eletricidade, no começo do século 20. Temos que pensar no impacto e no poder de transformação conjunto da mobilidade, das redes sociais, da computação em nuvem e do potencial incrível da internet.
O papel de cada uma dessas quatro forças nas empresas de comunicação precisa ser compreendido de forma cristalina pelos novos investidores, executivos e profissionais do novo jornalismo. A mobilidade amplia as possibilidades de acesso ao maior número de pessoas, ou seja, de leitores e clientes. E, por mais óbvio que pareça, vale lembrar que as pessoas são seres móveis. As redes sociais, por sua vez, estimulam novos comportamentos e novas aspirações. As empresas de comunicação, mais do que todas as outras, precisam aprender a utilizar bem o Facebook, o Twitter, o Linkedin e outras redes sociais.
O terceiro fator, conhecido hoje como computação em nuvem – ou, simplesmente, nuvem – permite a obtenção de novas formas de serviços e aplicações. A nuvem se transformou no maior repositório de conteúdos virtuais do planeta.
Por fim, a internet, que fornece novos contextos às empresas e às pessoas, como informação universalizada e instantânea. Tomemos como exemplo o Projeto Ultravioleta criado por um conjunto de megacorporações (como a Microsoft, HP, Sony, Apple, Panasonic, Samsung e estúdios de Hollywood). Criado há dois anos, o Ultravioleta oferece diversos conteúdos na nuvem – entre os quais filmes, DVDs, Blu-rays, CDs e aplicativos. Você compra o CD, DVD, game ou filme e não leva nada físico para casa. Apenas um código de acesso, com identidade e senha, que lhe permite baixar (em stream) esses conteúdos, onde estiver e quando quiser. Anywhere, anytime. Isso significa que, claramente, que estamos ingressando na era da nuvem, no comércio eletrônico de conteúdos. No último Consumer Electronics Show, há duas semanas, em Las Vegas, assistimos ao lançamento dos jogos na nuvem.
O próximo passo serão os livros e revistas digitais. O jornal do futuro pode estar na nuvem. O que ainda impede este salto não é a tecnologia, mas o modelo de negócios adequado.
Reserva anacrônica
O mundo vive a era pós-PC, caracterizada pelo uso crescente de dispositivos móveis, como ultrabooks, tablets e smartphones. O que marca a grande mudança de paradigma no mundo das comunicações é esse novo cenário de mobilidade dominante, em que os dispositivos móveis permitem às pessoas acessar notícias, e-mails, informação, aplicativos e conteúdos de toda natureza, praticamente a qualquer hora e em qualquer lugar.
Nesse cenário, o jornal impresso em papel é um paradigma superado, pois seu custo industrial não consegue competir com o jornalismo eletrônico – muito mais ágil, barato e abrangente. A abrangência geográfica desse jornal do futuro é o perfeito exemplo de ubiquidade das comunicações no século 21, porque seu conteúdo pode ser acessado onde e quando quisermos.
Para quem irá servir a obrigatoriedade do diploma de jornalista e sua anacrônica reserva de mercado? Só os dinossauros do trabalhismo e do sindicalismo não veem esse futuro e a inutilidade dessa luta.
[Ethevaldo Siqueira é jornalista e diretor executivo da Telequest Comunicações]
Fonte Observatório da Imprensa
O que transforma o jornalismo impresso tradicional são, na realidade, quatro forças convergentes que atuam simultaneamente no cenário econômico e que transformam as empresas, em especial, aquelas ligadas à Tecnologia da Informação (TI).
Essas quatro forças são: mobilidade, redes sociais, computação em nuvem e informação (internet). Para os especialistas do Grupo Gartner, elas são chamadas de Nexus das Forças e representadas, no jargão internacional, por quatro palavras em inglês: mobile, social, cloud e information.
Próxima etapa
Não apenas nas grandes corporações da área de TI, mas, também, nas empresas de comunicação, essas forças estão moldando o futuro da nova empresa de jornalismo. O maior sucesso no período de transição depende, entretanto, da correta compreensão do poder e do impacto dessas verdadeiras alavancas tecnológicas, de sua sinergia. Não mais se trata de uma única mudança de paradigma, como foi no passado, por exemplo, a introdução da máquina a vapor, na segunda metade do século 18. Ou do petróleo, no final do século 19. Ou da eletricidade, no começo do século 20. Temos que pensar no impacto e no poder de transformação conjunto da mobilidade, das redes sociais, da computação em nuvem e do potencial incrível da internet.
O papel de cada uma dessas quatro forças nas empresas de comunicação precisa ser compreendido de forma cristalina pelos novos investidores, executivos e profissionais do novo jornalismo. A mobilidade amplia as possibilidades de acesso ao maior número de pessoas, ou seja, de leitores e clientes. E, por mais óbvio que pareça, vale lembrar que as pessoas são seres móveis. As redes sociais, por sua vez, estimulam novos comportamentos e novas aspirações. As empresas de comunicação, mais do que todas as outras, precisam aprender a utilizar bem o Facebook, o Twitter, o Linkedin e outras redes sociais.
O terceiro fator, conhecido hoje como computação em nuvem – ou, simplesmente, nuvem – permite a obtenção de novas formas de serviços e aplicações. A nuvem se transformou no maior repositório de conteúdos virtuais do planeta.
Por fim, a internet, que fornece novos contextos às empresas e às pessoas, como informação universalizada e instantânea. Tomemos como exemplo o Projeto Ultravioleta criado por um conjunto de megacorporações (como a Microsoft, HP, Sony, Apple, Panasonic, Samsung e estúdios de Hollywood). Criado há dois anos, o Ultravioleta oferece diversos conteúdos na nuvem – entre os quais filmes, DVDs, Blu-rays, CDs e aplicativos. Você compra o CD, DVD, game ou filme e não leva nada físico para casa. Apenas um código de acesso, com identidade e senha, que lhe permite baixar (em stream) esses conteúdos, onde estiver e quando quiser. Anywhere, anytime. Isso significa que, claramente, que estamos ingressando na era da nuvem, no comércio eletrônico de conteúdos. No último Consumer Electronics Show, há duas semanas, em Las Vegas, assistimos ao lançamento dos jogos na nuvem.
O próximo passo serão os livros e revistas digitais. O jornal do futuro pode estar na nuvem. O que ainda impede este salto não é a tecnologia, mas o modelo de negócios adequado.
Reserva anacrônica
O mundo vive a era pós-PC, caracterizada pelo uso crescente de dispositivos móveis, como ultrabooks, tablets e smartphones. O que marca a grande mudança de paradigma no mundo das comunicações é esse novo cenário de mobilidade dominante, em que os dispositivos móveis permitem às pessoas acessar notícias, e-mails, informação, aplicativos e conteúdos de toda natureza, praticamente a qualquer hora e em qualquer lugar.
Nesse cenário, o jornal impresso em papel é um paradigma superado, pois seu custo industrial não consegue competir com o jornalismo eletrônico – muito mais ágil, barato e abrangente. A abrangência geográfica desse jornal do futuro é o perfeito exemplo de ubiquidade das comunicações no século 21, porque seu conteúdo pode ser acessado onde e quando quisermos.
Para quem irá servir a obrigatoriedade do diploma de jornalista e sua anacrônica reserva de mercado? Só os dinossauros do trabalhismo e do sindicalismo não veem esse futuro e a inutilidade dessa luta.
[Ethevaldo Siqueira é jornalista e diretor executivo da Telequest Comunicações]
Fonte Observatório da Imprensa
Saiba mais:
Guinada no FT aponta novo rumo para a mídia
Jornal inglês é o primeiro no mundo a assumir que a notícia online tem prioridade sobre o que será publicado no dia seguinte; prenúncio do fim do papel
247 - Nos debates sobre o futuro do
jornalismo em que tem participado, Sérgio D'Ávila, diretor de redação da
Folha, tem deixado claro que a prioridade do grupo é o papel.
Informações relevantes têm sido guardadas para a edição do dia seguinte.
É uma estratégia, mas que começa a ser contestada por publicações
internacionais. Jornal inglês é o primeiro no mundo a assumir que a
notícia online tem o prioridade sobre o que será publicado no dia
seguinte, num prenúncio do fim do papel. Leia, abaixo, o noticiário da
Reuters:
LONDRES, 22 Jan (Reuters) - O Financial
Times (FT) planeja cortar cerca de 25 postos de trabalho como parte de
um plano de reestruturação do grupo para reduzir custos e se concentrar
principalmente em seus serviços digitais, disse o seu editor.
Em um email enviado aos funcionários e obtido pela
Reuters, Lionel Barber disse que iria embarcar num programa para
"remodelar o FT para a era digital". Ele não deu detalhes sobre onde os
empregos seriam cortados do quadro total da equipe de 600 pessoas.
"Nós precisamos garantir que estamos servindo a plataforma
digital primeiro, e o jornal em segundo", Barber disse no email enviado
na segunda-feira. "Esta é uma grande mudança cultural para o FT, que só
deve ser alcançada com maiores mudanças estruturais."
O famoso jornal com páginas cor de salmão tem sido um dos
títulos de maior sucesso na iniciativa online, cobrando as pessoas pela
leitura de suas notícias em um modelo sob medida, que as permite ler um
determinado número de artigos por mês antes de terem que pagar uma taxa.
Essa abordagem tem ajudado a impulsionar as assinaturas
digitais, que excederam a circulação impressa pela primeira vez no
primeiro semestre de 2012.
"Nossas decisões anteriores de aumentar os preços, cobrar
por conteúdo e construir um negócio de assinaturas provaram ser ousadas e
sábias. "Enquanto muitos de nossos rivais têm lutado para encontrar um
modelo de negócio rentável, e, por isso, anunciaram duras perdas de
emprego, temos sido pioneiros da indústria. Este não é o momento para
vacilar. "
Barber disse que o programa de redundância voluntário
proposto reduziria os custos em 1,6 milhão de libras (2,5 milhões de
dólares) neste ano. Ele estimou que poderia resultar em uma redução
líquida efetiva de cerca de 25 pessoas, ou cerca de 4 por cento do
total, após a introdução de 10 postos de trabalho a mais no digital.
(Reportagem de Kate Holton)
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