Danuza: PEC dá "pânico de contratar" uma doméstica

Socialite de alma escravocrata diz que tem passado as noites em claro,
apavorada, por ser totalmente dependente de uma doméstica, e coloca
algumas dúvidas das patroas. "Descansar uma hora, no meio do expediente,
como, onde? Na sala, vendo TV?" "Já pensou, explicar aos adolescentes –
e seus amigos, já que eles só andam em turma – que não dá para pedir
vários lanchinhos várias vezes por dia?" "Se for estipulado o preço da
hora de trabalho, o preço vai ser o mesmo para quem mora em Caxias e o
quem tem uma cobertura com piscina na Delfim Moreira?"
247 - A jornalista, escritora e socialite
Danuza Leão abriu seu coração e, mais uma vez, revelou todos os seus
medos escravagistas com a aprovação da PEC das Domésticas, que,
simplesmente, regula benefícios já existentes, como FGTS, adicional
noturno e hora extra. Danuza diz estar "apavorada" com a mudança, uma
vez que não vive sem as mãos de fada sempre pronta para manter sua casa
arrumadinha e cheirosa, fala ainda em "pânico de contratar" uma
doméstica. Danuza é o retrato de uma elite criada à sombra da
escravidão. Leia abaixo:
O assunto do dia
Assim é essa PEC; imperfeita, e dando pânico de contratar uma nova funcionária
Quem sempre teve uma relação correta com sua empregada
está tranquilo. Afinal, férias, 13º, INSS, são coisas que nem
precisariam de lei para existir, e além de serem justas, fazem com que
as relações entre empregada/empregador sejam amenas e pacíficas, o que
torna a vida melhor para todos.
Mas nenhuma lei é perfeita, vide a proibição de dirigir
depois de beber; se é possível se recusar a fazer o teste, que lei é
essa?
Uma das coisas mal resolvidas é a carga horária. A ideia é
que sejam até 44 horas semanais, praticamente nove horas de trabalho de
segunda a sexta, o que é demais para qualquer mortal, já que esse
trabalho é, na maior parte das vezes, físico, e descansar uma hora, no
meio do expediente, como, onde? Na sala, vendo TV?
Por outro lado, não há quem precise de uma doméstica
tantas horas seguidas, a não ser uma família com pai, mãe e quatro
filhos, em que ninguém arruma sua cama, as roupas são largadas pelo
chão, cada um almoça e janta na hora que quer, e aí nem as nove horas
diárias vão ser suficientes. Já pensou, explicar aos adolescentes -e
seus amigos, já que eles só andam em turma- que não dá para pedir vários
lanchinhos várias vezes por dia?
Por tudo isso e mais alguma coisa, acho que esqueceram de
falar, nessa nova lei, da remuneração por hora de trabalho. Afinal, o
horário de uma diarista varia: existem as que trabalham duas horas,
três, quatro ou cinco -e outras, nove.
Os que moram em apartamentos grandes vão precisar de uma
empregada em tempo integral e vão pagar por isso; mas para quem vive num
quarto e sala, duas horas de trabalho, duas vezes por semana, são mais
do que suficientes.
É claro que o preço para duas horas não é o mesmo que para
nove, e quem tem um emprego de duas horas, duas vezes por semana, pode
perfeitamente ter mais dois ou três (empregos).
E mais: se o empregador tiver que pagar auxílio-creche,
auxílio-colégio, salário família e estabilidade em caso de gravidez,
então só sendo milionário para poder ter uma empregada. Aliás, só pra
saber: se for estipulado o preço da hora de trabalho, o preço vai ser o
mesmo para quem mora em Caxias e o quem tem uma cobertura com piscina na
Delfim Moreira? Só pra saber.
Tenho passado as noites em claro, apavorada, já que sou
totalmente dependente de uma ajuda doméstica. Já tive vários tipos de
vida, desde morar em apartamento grande e ter três empregadas, a um
pequeno conjugado onde alguém vinha uma vez por semana dar aquele toque
de talento que Deus não me deu.
Que felicidade, entrar numa casa, seja ela imensa ou
mínima, e sentir que por ali passou uma abençoada mão de fada. Eu troco
essa ajuda por qualquer vestido, qualquer carro, qualquer viagem,
qualquer joia, porque para mim esse é o maior dos luxos: uma casa bem
arrumada e cheirosa.
E espero que as novas leis me permitam, sempre, pagar o
que merece a dona desse talento, que para mim vale ouro. Mas a partir de
agora vou prestar atenção e contratar mães de filhos já crescidos, até
porque em qualquer lugar do mundo a obrigação de dar creche e colégio é
do governo.
Assim é essa PEC; imperfeita, e dando pânico de contratar
uma nova funcionária. E se não der certo? Demitir vai sair tão caro que
trabalhar como arrumadeira será praticamente ter estabilidade no
emprego, como os funcionários públicos; e demissão, praticamente, só por
justa causa.
Aliás, o que é que caracteriza a justa causa? As
empregadoras não sabem, mas pergunte a qualquer candidata a um emprego
doméstico; todas elas sabem, na ponta da língua, o que não podem fazer,
para não correrem o risco de uma justa causa.
É curioso o mundo moderno: um marido pode ser dispensado por incompatibilidade de gênios, e uma empregada doméstica não.
Fonte: Brasil 247
Leia mais:
A diáspora da desesperança
Acabou-se a senzala do quartinho de empregada, onde essas trabalhadoras, muitas vezes, cumpriam jornadas desumanas que superavam 16 horas de trabalho/dia – sem direito a hora-extra. Não mais
Por LULA MIRANDA
O título acima, o devido crédito seja dado, peguei emprestado do artigo de Clóvis Rossi na Folha da última quinta-feira, 28.03.2013. Rossi era um grande jornalista – eu o chamava de "mestre" –, mas começou a esculachar o Lula de tal maneira que caiu em desgraça. Mas isso é passado. Talvez ainda seja um grande jornalista, um tanto amargurado pelo ceticismo dos anos FHC, talvez. Mas como disse, isso pertence ao passado.
Passado também o tempo em que brasileiros desesperançados e desalentados deixavam o país em busca de esperança e oportunidades em outras plagas. Lembram-se desses tempos?
Tempos em que jovens oriundos da classe média, que sequer arrumavam a cama ao se levantar pela manhã em suas casas, emigraram para limpar pratos e privadas no exterior.
Hoje poderão, se assim desejarem, trabalhar como empregados domésticos aqui mesmo no Brasil, pois esse trabalho está sendo finalmente regulamentado – apesar de sobrarem vagas para engenheiros, professores e cientistas, por exemplo. Um empregado doméstico, aqui no Brasil, poderá ganhar tão bem quanto nos EUA. Acabou-se a senzala do quartinho de empregada, onde essas trabalhadoras, muitas vezes, cumpriam jornadas desumanas que superavam 16 horas de trabalho/dia – sem direito a hora-extra. Não mais.
Um amigo dos tempos de poesia marginal, que vive em Lisboa há mais de 15 anos, me passa e-mail perguntando/sondando como estão as coisas aqui no Brasil, pois lá a coisa tá ficando feia. Deseja voltar. É muito bem-vindo! E será bem recebido.
O meu amigo e todos os brasileiros, que por força das circunstâncias se viram obrigados a deixar a sua terra natal encontrarão, quando retornarem, outro Brasil. Um país com uma das menores taxas de desemprego de que se tem notícia e, portanto, muitas oportunidades de trabalho, emprego e renda.
O governo brasileiro acaba de criar um portal para brasileiros como o meu amigo, que pretendem voltar ou estão retornando para o Brasil – chama-se Portal do Retorno.
O curioso, mas isso eu me esqueci de contar ao meu amigo, é que as pessoas que levaram o país àquela situação de "pré-insolvência" da década de 1990, que jogaram milhões de brasileiros nessa infame "diáspora da desesperança", agora se apresentam, na maior "cara de pau", como "o novo" e dizem que podem fazer mais pelo Brasil e pelos brasileiros.
Acredite se quiser.
Fonte: Brasil 247
https://www.facebook.com/antoniocavalcantefilho.cavalcante
Visite a pagina do MCCE-MT