sexta-feira, 21 de junho de 2013

“Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?”


Geraldo Riva, imaginem, para rebater manifestantes que o criticaram duramente, durante ato contra a corrupção em Cuiabá, que reuniu perto de 50 mil pessoas, ainda teve a coragem de distribuir nota atacando “a banda podre e covarde da política”. Será que ele não falava dele mesmo? Riva me fez recordar Catilina e a série de discursos que Cícero proferiu contra Catilina, na Roma antiga




Da pagina do Enock

Lendo a entrevista em que o deputado estadual Geraldo Riva fala das manifestações que aconteceram neste 20 de junho em Cuiabá, lembrei-me do grande tribuno Cícero, bradando contra Catilina no Senado de Roma. Replico, aqui, um texto em que Frei Beto relembra toda aquela trágédia romana:

“Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?”, indagou Marco Túlio Cícero ao senador Lúcio Sérgio Catilina, a 8 de novembro de 63 a.C., em Roma. Flagrado em atitudes criminosas, Catilina se recusava a renunciar ao mandato.

Cícero, orador emérito, respeitado por sua conduta ética na política e na vida pessoal, pôs em sua boca a indignação popular: “Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há de precipitar a tua audácia sem freio? Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus planos estão à vista de todos?”

“Ó tempos, ó costumes!”, exclamou Cícero movido por atormentada perplexidade diante da insensibilidade do acusado. “Que há, pois, ó Catilina, que ainda agora possas esperar, se nem a noite, com suas trevas, pode manter ocultos os teus criminosos conluios; nem uma casa particular pode conter, com suas paredes, os segredos da tua conspiração; se tudo vem à luz do dia, se tudo irrompe em público?”



Jurista, Cícero se esforçou para que Catilina admitisse os seus graves erros: “É tempo, acredita-me, de mudares essas disposições; desiste das chacinas e dos incêndios. Estás apanhado por todos os lados. Todos os teus planos são para nós mais claros que a luz do dia.”

Se Catilina permanecia no Senado, não era apenas a vontade própria que o sustentava, mas sobretudo a cumplicidade dos que teriam a perder, com a renúncia dele, proveitos políticos. Daí a exclamação de Cícero: “Em que país do mundo estamos nós, afinal? Que governo é o nosso?”

Cícero não temia ameaças e expressava o que lhe ditava o decoro: “Já não podes conviver por mais tempo conosco; não o suporto, não o tolero, não o consinto. (…) Que nódoa de escândalos familiares não foi gravada a fogo na tua vida? Que ignomínia de vida particular não anda ligada à tua reputação? (…) Refiro-me a fatos que dizem respeito, não à infâmia pessoal dos teus vícios, não à tua penúria doméstica e à tua má fama, mas sim aos superiores interesses do Estado e à vida e segurança de todos nós.”

Os crimes de Catilina escancaravam-se à nação. Seus próprios pares o evitavam, como assinalou Cícero: “E agora, que vida é esta que levas? Desejo neste momento falar-te de modo que se veja que não sou movido pelo rancor, que eu te deveria ter, mas por uma compaixão que tu em nada mereces. Entraste há pouco neste Senado. Quem, dentre esta tão vasta assembléia, dentre todos os teus amigos e parentes, te saudou? Se isto, desde que há memória dos homens, a ninguém aconteceu, ainda esperas que te insultem com palavras, quando te encontras esmagado pela pesadíssima condenação do silêncio?”

Catilina fingia não se dar conta da gravidade da situação. Fazia ouvidos moucos, jurava inocência, agarrava-se doentiamente a seu mandato. “Se os meus escravos me temessem da maneira que todos os teus concidadãos te receiam” – bradou Cícero -, “eu, por Hércules, sentir-me-ia compelido a deixar a minha casa; e tu, a esta cidade, não pensas que é teu dever abandoná-la? E se eu me visse, ainda que injustamente, tão gravemente suspeito e detestado pelos meus concidadãos, preferiria ficar privado da sua vista a ser alvo do olhar hostil de toda a gente; e tu, apesar de reconheceres, pela consciência que tens dos teus crimes, que é justo e de há muito merecido o ódio que todos nutrem por ti, estás a hesitar em fugir da vista e da presença de todos aqueles a quem tu atinges na alma e no coração?”

Cícero não demonstrava esperança de que seu libelo fosse ouvido: “Mas de que servem as minhas palavras? A ti, como pode alguma coisa fazer-te dobrar? Tu, como poderás algum dia corrigir-te?” E não poupou os políticos que, apesar de tudo, apoiavam Catilina: “Há, todavia, nesta Ordem de senadores, alguns que, ou não veem aquilo que nos ameaça, ou fingem ignorar aquilo que veem.

—————– CONFIRA, AGORA, COMO RIVA REAGIU AOS PROTESTOS DE RUA EM CUIABÁ QUE O APONTAVAM COMO MAIOR FICHA SUJA DA HISTÓRIA DE MATO GROSSO


Riva afirma respeitar protesto, mas repudia cunho político de ataques

Nayara Araújo

RD NEWS

Após ser o alvo de gritos ecoados por 40 mil manifestantes, que foram até a Assembleia na noite de ontem (20) e picharam “Fora Riva”, o presidente afastado José Riva afirmou que a manifestação é legítima e contribui para o início de uma nova era democrática no país.

O que ele aponta ser negativo, no entanto, é a participação de líderes políticos. Ele assegura que vê claramente figuras que utilizaram o ato visando as eleições de 2014. “Só lamento a postura de quem quer ser governador a qualquer custo e, se for preciso, pisa até no pescoço da mãe para conseguir o que quer”, disparou Riva em entrevista ao RDNews.

A afirmação do parlamentar é em referência ao cartaz “Riva ladrão”, que a Policia Civil apreendeu e alegou ser de cunho político devido a alta qualidade de confecção. Durante a manifestação, no entanto, faixas contra o deputado era o que mais se via.



Palavras de ordem ao longo do trajeto também foram entoadas pelos protestantes. Além de Riva, os alvos eram o governador Silval Barbosa (PMDB) e os demais deputados estaduais, além da presidente Dilma Rousseff (PT). Riva também emitiu uma nota por meio de sua assessoria. Nela pondera repudiar “o oportunismo de alguns partidos e militantes políticos que tentam pegar carona nessas manifestações. Essas militâncias agem como parasitas, sanguessugas políticos, que usam de movimentos populares para atacar seus adversários e se promoverem. Infelizmente vimos isso também em Cuiabá, uma postura nociva que deve ser combatida sempre”

A presença de políticos com cargo eletivo, no entanto, foi quase nula. Somente o vereador Renivaldo Nascimento (PDT) compareceu, o que contrariou grande parte dos manifestantes, que já haviam se manifestado contrários a presença de partidos e políticos. O ex-vereador Lúdio Cabral e a Professora Enelinda, membros de uma das siglas mais criticada no percurso, o PT, também participaram.

Eis, abaixo, a nota encaminha por Riva

“Sobre as manifestações ocorridas nesta quinta-feira (20) em Cuiabá, informo que sempre apoiei e fui favorável à livre manifestação da população, um direito essencial no exercício da democracia no país. O que vimos ontem em todo o Brasil, foi a representação do espírito vivo desses ideais democráticos e, como político, assisti com admiração e respeito esse protesto nas ruas de Cuiabá e em outras cidades de Mato Grosso.

Porém acredito que os movimentos devem se organizar no sentido de evitar que vândalos e baderneiros se infiltrem nas manifestações com o intuito de promover a desordem, o caos e a depredação de prédios públicos, tirando o brilho dos protestos.

Vimos ontem, diante da Assembleia Legislativa, algumas cenas de puro vandalismo, com pichações e depredação da fachada, onde os poucos baderneiros quiseram estragar a beleza e unidade do movimento por um Brasil melhor.

Reivindicar e cobrar melhorias do poder público é legítimo e tem o nosso apoio também, mas o vandalismo deve ser expurgado desses movimentos.

Os excessos devem ser combatidos sempre, até porque é a própria sociedade, da qual todos nós fazemos parte, que pagará essa conta.

Repudio também o oportunismo de alguns partidos e militantes políticos que tentam pegar carona nessas manifestações. Essas militâncias agem como parasitas, sanguessugas políticos, que usam de movimentos populares para atacar seus adversários e se promoverem. Infelizmente vimos isso também em Cuiabá, uma postura nociva que deve ser combatida sempre.

As provas são os milhares de panfletos e cartazes apócrifos distribuídos pelas ruas de Cuiabá, alguns até assinados por militâncias, desde o início da manhã de quinta-feira. Parte deles, inclusive, aprendidos em flagrante pela Polícia Civil.

A banda podre e covarde da política não pode usar os participantes das manifestações como massa de manobra, sob pena de comprometer o objetivo maior da população que é a construção de um país melhor em todos os sentidos.”

Deputado José Riva


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