quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

“ROLEZINHO” É “1” NA ESCALA “RICHTER”.


O clima festivo do consumo está chegando ao seu final. Até porque, consumo é como droga: cada vez queremos mais! Não poder consumir, para o desorientado humano contemporâneo, significa enorme frustração, que gera irresignação, que gera indignação, que gera crimes ou apenas os “rolezinhos”. 






Por Luíz Flávio Gomes

Não estão entendendo nada do Brasil contemporâneo (que demoramos 514 para construir) os que estão vendo os “rolezinhos” como meras brincadeiras da juventude, molecagem, “Occupy Shopping” ou como simples iniciativas de alguns “vagabundos” marginalizados da periferia. Eles, na verdade, não passam de uma resistência ativa de primeiro grau (na escala “Richter” dos protestos ou contestações sociais). É muito menos que as manifestações de junho/13 assim como menos que as decapitações do presídio de Pedrinhas, no Maranhão. Mas muito mais que a resignação e conformação que marcaram a vida dos pais e avós dos atuais “rolezeiros” (que agora contam com o poder de convocação das redes sociais).

O Brasil é, hoje, um país extremamente complexo e socialmente muito doente (extremamente desigual). Suas crises de febre já são e serão mais ainda muito frequentes. Na onda do capitalismo financeiro flexível vigente no mundo ocidental, ou apesar dele, mais de 30 milhões de brasileiros saíram da miséria nos últimos 20 anos (governos de FHC, Lula e Dilma). Mas o muito que foi feito ainda é pouco, porque é enorme as distancias entre as classes sociais. Desde logo, para que não haja equívocos: penso que o capitalismo é o pior dos regimes econômicos, com exceção dos demais. 

Não há como entender os “rolezinhos” sem saber que existem, agora, quatro classes sociais no Brasil (Jessé Souza, Os batalhadores, 2012): a alta, a média, a classe C e a classe D (que o autor citado denomina de “ralé”). Até uns 10 anos atrás a classe C ainda não havia ganho identidade. Para mostrar que o Brasil está indo na direção do primeiro mundo (que conta com uma grande classe média) começaram a chamar essa classe C (milhões de brasileiros) de classe média. Eis o problema! Boa parcela dessa classe C acreditou no discurso e começou a conferir. Rapidamente notou que, de classe média, tem muito pouca coisa, porque não possui seus capitais econômico, cultural, social etc. nem acesso a serviços públicos de qualidade (saúde, educação, transportes etc.). 

O clima festivo do consumo está chegando ao seu final. Até porque, consumo é como droga: cada vez queremos mais! Não poder consumir, para o desorientado humano contemporâneo, significa enorme frustração, que gera irresignação, que gera indignação, que gera crimes ou apenas os “rolezinhos”. Milhares de protestos (alguns violentos) virão. Não são mais do que febres de um Brasil socialmente doente. A conta está chegando. É o inferno de Dante (Divina comédia): “Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno” (das contestações e dos protestos contínuos contra as injustiças e desigualdades profundas do país).

Fonte Visão Panorâmica

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São Paulo promete uso da força contra 'rolezinhos' 




Brasil 247

Secretário estadual de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, afirma que a PM poderá ser acionada; “Se houver tumulto, ela vai aplicar a força policial”; no Rio de Janeiro, secretário José Mariano Beltrame não vê ação de jovens como crime e diz polícia não vai atuar de forma preventiva 

Frente ao crescente movimento dos “rolezinhos” em shoppings da capital, o secretário estadual de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, promete ação enérgica da PM em caso de tumulto.

"Não é função da polícia fazer a segurança nos shoppings. O papel dela é preservar a ordem. Mas se houver tumulto, ela vai aplicar a força policial", disse.

No último fim de semana, dois shoppings foram palcos dos "rolezinhos": o de Itaquera, onde houve forte repressão policial com balas de borracha e bombas de gás; e no JK Iguatemi, onde uma liminar proibiu a realização do "rolezinho", a entrada de jovens desacompanhados e uma multa de R$ 10 mil caso o evento fosse realizado.

A Corregedoria da PM apura a ocorrência de possíveis excessos por parte dos policiais durante evento no Shopping Itaquera, no último fim de semana.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) diz que será investigado o envolvimento de policiais em agressões a jovens que participam de um 'rolezinho' no Shopping Metrô Itaquera; "Tinha uma decisão judicial pedindo segurança e nós cumprimos", afirmou o tucano.

Pelo menos dez outros encontros de jovens estão programados pelas redes sociais até fevereiro deste ano.

No Rio de Janeiro, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, alega que o "rolezinho não é crime" e que a polícia não vai atuar de forma preventiva no encontro marcado.
Ontem, a presidente Dilma Rousseff convocou uma reunião para tratar do assunto. O Planalto teme que o movimento ganhe adesão de adeptos do "black bloc".

Fonte Brasil 247


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Nos “rolezinhos”, a colisão de dois mundos 



Por que os ‘rolezinhos’ assustam

Por Luciano Martins Costa 
Observatório da Imprensa

O Facebook estará completando dez anos em fevereiro, conforme registra o Globo na edição de segunda-feira (13/1). Trata-se de um fenômeno importante demais para ser mantido no limitado contexto das tecnologias: a rede de comunicações interpessoais, que inclui uma infinidade de aplicativos, se transformou em um campo social paralelo ao da sociedade tradicional, e sua influência se tornou tão ampla e definidora que já não cabe no conceito de “rede virtual”.

Ao lado de outros recursos que ampliam a conectividade entre os indivíduos, essa plataforma constitui um novo território para a vida comunitária, um novo lugar no mundo que é, ao mesmo tempo, “todo lugar” e “nenhum lugar”.

Os debates teóricos sobre sua influência, eventuais ganhos e perdas que virá a oferecer às futuras gerações, ainda têm um alcance limitado, porque são fundamentados numa experiência de vida que passa por transformações tão velozes quanto profundas.

A questão da privacidade, por exemplo, é discutida com base num conceito de individualidade que pode não fazer sentido para a geração plenamente digital. Por outro lado, o potencial de ubiquidade que oferece a seus integrantes reduz progressivamente o papel da mediação, tradicionalmente cumprido pelo sistema que chamamos de imprensa.

Neste momento, os aspectos mais evidentes dessa mutação por que passa a sociedade são exatamente a diluição do poder mediador das relações sociais e a flexibilização do conceito de espaço público. Com isso, mudam todas as relações, principalmente aquelas baseadas no poder simbólico, que só subsiste quando ignorado por quem se submete a ele.

Observe-se, por exemplo, como o antigo poder da imprensa tradicional, de definir a agenda social, perde terreno e se acomoda ao limitado campo das instituições, conforme as pessoas percebem que não precisam dela para se sentirem parte da sociedade.

Veja-se, por exemplo, a recente onda de concentrações de jovens, que se organizam nas redes sociais digitais e se encontram, aos milhares, em shopping centers das grandes cidades. Os comerciantes, a polícia e a própria imprensa consideram que os centros de compras são espaços privados, mas os participantes dos tais “rolezinhos” estão convencidos de que são na verdade espaços públicos.

Os nativos digitais

A sociedade em rede se diferencia das comunidades tradicionais porque não é formada por necessidades, mas por conveniências. Em apenas uma década, a convergência entre os recursos tecnológicos digitais e uma geração ansiosa por protagonismo produziu uma mutação sem ruptura, porque, entre os nativos analógicos que viveram a maior parte de suas existências no século 20 e os nativos digitais que nasceram na sociedade em rede, atuam os analógicos digitalizados, que funcionam como uma ponte entre gerações.

Esse aspecto de uma mudança radical sem um ponto de mutação aparente dificulta a compreensão do fenômeno e estimula profecias catastrofistas sobre o fim do social, a falência da história e a dissolução das ideologias. No entanto, é preciso considerar que ainda falamos de seres humanos, sobre os quais sabemos que necessitam ao mesmo tempo delimitar sua individualidade e integrá-la ao contexto social.

Também não se pode omitir o fato de que o surgimento e expansão das redes sociais digitais acontece em pleno triunfo da sociedade de massa, com as individualidades empasteladas pela indústria cultural massificadora.

Os “rolezinhos” que têm assustado autoridades e espantado a imprensa nas últimas semanas são provavelmente uma das manifestações do processo de entropia da sociedade de massa, ou seja, o triunfo do sistema cria as condições para movimentos espontâneos e massivos que assombram os beneficiários do sistema.

Os passeios coletivos de milhares de jovens pelos corredores de shopping centers são concentrações inocentes, até que um movimento súbito ou um simples grito transforme o desfile em episódio de saque e vandalismo, como aconteceu nas manifestações de rua do ano passado.

Nossas cidades foram construídas conforme a lógica da exclusão, assim como a mídia tradicional foi edificada sobre a ficção do interesse coletivo, com os pressupostos da sociedade aristocrática. Nada mais natural que, eventualmente, o campo da sociedade em rede invada a velha sociedade de classes, como dois mundos que colidem.

Superfícies de vidro são as primeiras coisas que se estilhaçam.

Fonte Vi o Mundo

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Veto a rolezinho consagra o apartheid brasileiro 

A lei é clara. Define como como crime "recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador" e as penas de reclusão variam de um a três anos; foi exatamente isso o que aconteceu ontem no shopping JK Iguatemi, quando uma triagem, respaldada por liminar judicial, impediu a entrada de jovens da periferia; em Itaquera, na zona leste, jovens foram agredidos com balas de borracha e cassetetes; repressão aos "rolezinhos" explicita o quanto o Brasil ainda tem que avançar em matéria de igualdade; ontem, três jovens foram presos em São Paulo

Brasil 247 - Em janeiro de 1989, ainda no governo do ex-presidente José Sarney, foi promulgada a Lei 7.716, que define os crimes de preconceito de raça ou de cor. O artigo quinto é claro e define como crime "recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador". As penas de reclusão variam de um a três anos.

Foi exatamente isso o que ocorreu ontem no shopping JK Iguatemi, do empresário Carlos Jereissati, quando seguranças do shopping fizeram uma triagem para definir quem poderia entrar e quem deveria ficar de fora – no segundo grupo, estariam todos aqueles que tivessem aparência de jovens da periferia, ou seja, pardos ou negros.

Cientes de que não poderiam discriminar clientes de forma tão explícita – até porque a lei 7.716 é clara e tem penas severas –, os donos do shopping só conseguiram fazer a triagem porque obtiveram uma liminar judicial. Ou seja: o preconceito foi respaldado pela Justiça. Temia-se que jovens da periferia realizassem no JK Iguatemi, Meca do luxo, em São Paulo, um "rolezinho" – manifestação que afirma a identidade desses jovens e tenta mostrar para a sociedade que não são invisíveis ou cidadãos de segunda classe. No entanto, com a liminar, a Justiça contribuiu para que fosse erguida, em São Paulo, a muralha do preconceito (leia mais aqui).

Diante disso, o blogueiro Eduardo Guimarães, colunista do 247, afirma que um direito constitucional dos jovens da chamada nova classe média foi violado (leia aqui). E o sociólogo Rudá Ricci compara o rolezinho ao movimento "occupy" – a diferença é que, desta vez, exercido por cidadãos da perifeira (leia aqui).

Tão grave quanto o ocorrido no JK Iguatemi foi o desfecho do "rolezinho" no shopping Itaquera, na zona leste de São Paulo. Lá, os jovens foram agredidos com cassetetes e balas de borracha pela polícia, sem que tivesse havido qualquer registro de violência.
Assista:

 

No próximo sábado, dia 18, haverá um novo "rolezinho" no shopping Itaquera. No JK, a liminar ainda impede a entrada de todo e qualquer menor desacompanhado – a menos que convença os seguranças que não tem tipo de jovem da periferia. Ou seja: a justiça consagrou o apartheid brasileiro.

O que também comprova o atraso do País na promoção da igualdade. Em 11 de junho de 1963, quando negros eram impedidos de frequentar os mesmos estabelecimentos comerciais dos brancos, nos Estados Unidos, o então presidente John Kennedy fez um de seus mais importantes discursos. Disse o básico: que todos os cidadãos americanos, independente da cor ou da aparência, têm direito de frequentar os mesmos estabelecimentos. Assista:



Fonte Brasil 247


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