sexta-feira, 19 de setembro de 2014

PSIQUIATRIA FORENSE: Corrupção


A evolução cuidou de desenvolver, na nossa espécie, áreas cerebrais responsáveis pelo caráter que permite o desenvolvimento do que chamamos de senso ético. Sem este processo a vida em sociedade não seria possível. 

Psiquiatria Forense 


 CORRUPÇÃO 


Por Hilda Morana, PhD*

Político corrupto, empresário corrupto, empreiteiro poderoso, cuja única ambição é dinheiro e poder, são deficientes de caráter, atrasados na evolução da espécie! 

Corrupção é a falta de senso ético! O senso ético é a capacidade que os ser humano tem de seguir as regras de boa conduta e de respeitar os outros. De se importar com os demais e ter sentimentos altruístas. Pode variar conforme a cultura, mas tem sempre um sentido comum em qualquer sociedade, que é, justamente, o bem comum e a condenação do contrário. 

Corrupto é sujeito atrasado no sentido evolutivo da espécie humana e, defeituoso do ponto de vista cerebral. É aberração! 

O ser humano é um ser social por excelência, ou seja, vive para o bem comum. É assim que anos de evolução talharam o ser humano. Ao longo da escala zoológica, observamos uma incapacidade do indivíduo bastar-se a si mesmo e uma maior necessidade do outro, de vida social e de ajuda mútua. 

  A evolução cuidou de desenvolver, na nossa espécie, áreas cerebrais responsáveis pelo caráter que permite o desenvolvimento do que chamamos de senso ético. Sem este processo a vida em sociedade não seria possível. 

Caráter, então, refere-se às tendências da personalidade relacionadas aos sentimentos e atitudes do sujeito frente à sociedade. Essas são tendências inatas e configuradas pela sociedade, que, por sua vez, vai permitir ao sujeito a expressão do senso ético próprio de sua cultura. 

Estudos já confirmam que a moral não depende apenas da cultura e faz parte da natureza humana.  

Desde WELT (1888), e KLEIST (1931), sabe-se que o sujeito deficiente de caráter é um enfermo orbitário, vítima de alguma malformação ou disfunção orbitária. Essas áreas, que atingem, no homem, o seu máximo desenvolvimento, são áreas cerebrais de maturação mais tardia em relação a outras áreas. Integram as várias informações. 

Relacionam-se com funções do pensamento abstrato e simbólico. Desempenham papel fundamental na formação de intenções e programas, funções estas relacionadas com o planejamento do futuro. 

Vários pesquisadores, entre eles Antônio Damásio, Marc Hauser e Adrian Raine, apresentam pesquisas, utilizando-se de PET scan demonstrando diminuição no volume da substância cinzenta destas áreas pré-frontais. 

Nem todos os psicopatas (sujeitos com deficiências graves de caráter) acabam na prisão. Alguns alcançam altos cargos nas corporações e têm uma ascensão extremamente rápida. 

O assim chamado psicopata corporativo prospera rapidamente no caos organizacional de algumas empresas e corporações. 

A prevalência de psicopatas em corporações ainda não foi estimada estatisticamente, mas estima-se que as tendências à manipulação e à desonestidade sejam freqüentes. Os estudos em empresas sugeriram que 15% de executivos superiores deturpam seu grau de instrução, e um terço de todos os currículos contêm informações falsas. 

O grande estudioso destas questões é o Dr. Babiak que tem seus estudos disponíveis no endereço: http://www.lifepsych.com/linksworkarticle01psychopath.htm) 

Enfim, corrupção é falta de caráter! 

 • Sujeitos com deficiência de caráter são insensíveis às necessidades dos outros, condição que obedece a um espectro de manifestação: do sujeito ambicioso até o pior dos perversos cruéis. 

• Na formação cerebral, processos responsáveis pelas funções da sociabilidade, não se estruturam de forma adequada nestes sujeitos. 

Corrupto é sujeito atrasado do ponto de vista da evolução social e defeituoso do ponto de vista cerebral. É aberração no sentido evolutivo. 

Caráter, que integra as funções da sociabilidade, é o nosso melhor atributo, faz-nos ter vontade de seguir em frente com nossos projetos, nos sacrificarmos por aquilo em que acreditamos e nos solidarizarmos com pessoas, grupos e causas sociais. 

Enfim, é o que dá sentido à nossa existência e nos torna humanos. 

O sujeito, com defeito das funções da sociabilidade, vive apenas para satisfazer as suas próprias necessidades. 

O que fazer? 

Matar corrupto não pode, mas podemos ter mais consciência social e política. E qual a importância disso? 

O sujeito com defeito de caráter só vai agir se encontrar as condições para tal. Ele é mau caráter e não é burro, no sentido chulo da expressão. Ele vai escolher o local e as condições apropriadas para satisfazer o seu desejo egoísta. Através da boa educação e das condições sociais decentes na comunidade, o sujeito não vai fazer nada que possa vir a prejudicar alguém se essa atitude for lhe causar uma pena ou um prejuízo pessoal. Ele vai até tentar arriscar, mas, se não houver impunidade, a atuação dele vai ser bem mais restrita. 

Então não depende só da família se esforçar por oferecer uma boa educação para os seus filhos, a comunidade tem que ser séria e não tolerar nenhum desvio do comportamento e das regras da boa convivência social. 

*Dra Hilda Morana é psiquiatra forense e uma das maiores autoridades em estudos de psicopatas do Brasil e do mundo, com diversas publicações nacionais e internacionais

Fonte: Psychiatry on line Brasil


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 OPINIÃO 


Corrupção é uma doença


JOSÉ CARLOS ALCÂNTARA


A corrupção pode ser diagnosticada a partir do consultório. É possível determinar a presença do distúrbio por meio do exame Pet Scan, ou tomografia por emissão de pósitrons


A psiquiatra forense Hilda Morana, coordenadora do departamento de Psiquiatria Forense da Associação Brasileira de Psiquiatria, define o termo no seu sentido social: corrupção é “ato de cometer atitudes ilícitas com o intuito de conseguir vantagem financeira ou mais poder”. O típico corrupto é “o indivíduo que busca driblar regras em benefício próprio, sem levar em consideração outras coisas que não o próprio benefício”. Ela afirma que esse tipo de comportamento é causado por um transtorno de personalidade, que pode ser definido de forma mais clara como sendo um defeito do caráter.

“É o chamado transtorno de personalidade antissocial. O indivíduo que possui o transtorno de personalidade antissocial não foi capaz, ao longo do tempo em que ocorreu o desenvolvimento de seu cérebro, de desenvolver adequadamente o ‘senso ético’. Ele não é capaz de respeitar o outro em sua plenitude, espontaneamente”. Esse distúrbio é causado por falhas cerebrais, mais especificamente, “por falhas do desenvolvimento cerebral em áreas frontais, chamadas suborbitárias, que muitas pesquisas apontam como sendo as regiões do cérebro responsáveis pela formação do ‘senso ético’ e da assimilação da moral estabelecida. Ou seja, é ‘um defeito de fabricação’. Se o indivíduo apresenta o problema em algum momento da vida, muito provavelmente vai morrer com ele e, até mesmo tratamentos modernos contra o transtorno de personalidade, não apresentam resultados 100% garantidos na recuperação”.

“Por sua vez, o transtorno de personalidade provoca uma deficiência no caráter, em decorrência de má-formação das áreas do cérebro responsáveis pela sensibilidade moral”, declara. A psiquiatra forense argumenta que há poucas dúvidas sobre o caráter herdado do distúrbio. Ela diz que sempre há pelo menos um parente que também está envolvido em alguma operação ilícita ou em alguma trapaça, embuste ou situação similar. “O caráter herdado da doença é inquestionável. Nem sempre o outro indivíduo afetado é um parente direto, como um pai ou uma mãe. Às vezes um tio, ou primo. Mas é certo que, se o indivíduo apresentou em algum momento esses sintomas, é possível encontrar outros afligidos pelo quadro na família”.

A corrupção pode ser diagnosticada a partir do consultório. É possível determinar a presença do distúrbio por meio do exame Pet Scan, ou tomografia por emissão de pósitrons: “o método revela com clareza a área suborbitária afetada pelo distúrbio do desenvolvimento. A gravidade do quadro pode variar muito. A gradação do distúrbio altera entre ‘leve’ até ‘muito grave’, e permite enquadrar a maioria dos criminosos e transgressores. Um quadro ‘leve’ pode se adequar a um oportunista que realiza pequenos delitos. Já um caso muito grave pode representar um político que realiza grandes perseguições ou até mesmo um genocídio, como um ditador”.

Esse personagem é constantemente atraído para situações em que se conhecem possibilidades de obtenção de vantagens diversas com facilidade e, por isso, há proliferação desses indivíduos no meio político”. Ela declara que “essa situação não é exclusiva do Brasil, percebe-se esse padrão no mundo. Estatísticas recentes apontam que cerca de 15% da população mundial é afetada pelo transtorno. Entre todos os casos, os mais graves, que podem responder por crimes mais sérios, orbitam entre 1% e 2% desses indivíduos.

Estes, quase que obrigatoriamente cometerão atos cruéis de algum tipo: grandes golpes, que podem afetar muitas pessoas, torturas e assassinatos bárbaros para obtenção de fortunas. “O grande problema é que isso não tem cura e o portador nunca busca tratamento. A única forma de combater o quadro são medidas de contenção externas, como a vigilância e a punição. Em situações onde os delitos praticados são punidos de fato, os portadores do transtorno tendem a se portar melhor”. Indivíduos ‘normais’ também podem ser corruptos. Tudo depende dos ambientes nos quais estão inseridos. Ambientes extremamente permissivos e com acesso a muito poder, marcados pela impunidade, que são típicos da paisagem política brasileira, normalmente favorecem o surgimento do personagem corrupto”.

A compra de votos não é vista como algo inaceitável por todos os segmentos da população. Segundo Rita Biason, em outro estudo realizado, ela identificou que a classe socioeconômica que recebe até três salários mínimos não vê problema em trocar o voto pelo saco de cimento, pela consulta médica e outros bens ou serviços. “Isso remete à necessidade, o sujeito precisa do saco de cimento embora haja aqueles indivíduos que tripudiam o coletivo, que exageram nas solicitações e muitas vezes sem necessidade”. Essa população tem vivido um ciclo de dependência dos programas do governo – como Bolsa Família. São ações que acabam não resolvendo a questão, mas sim criando uma dependência e, sob certo aspecto, reforçando a prática de corrupção.

O problema não são os programas governamentais propriamente ditos. Ocorre que perguntamos para as pessoas: você considera aceitável ou inaceitável receber uma Bolsa Família mesmo sem necessidade? A grande maioria aceita receber. Há, portanto, um dilema ético que só aparece a partir do momento em que o aguçamos”. O principal fato verificado na pesquisa é que todas as classes sociais praticam corrupção. “Temos dificuldade de dizer ‘não’ à corrupção no Brasil porque não conseguimos distinguir o público do privado. Os exemplos ao longo dos anos reforçam a ideia de que o público é algo que pertence ao indivíduo, e somente ele pode usufruir. A forma como a maioria dos agentes públicos – eleitos ou não – se comporta no Brasil, especificamente sobre a ‘coisa pública’, é lamentável e contribui para reforçar esta situação”.

Segundo a cientista política Rita Biason, a Carta de Pero Vaz de Caminha já continha indícios de corrupção, pois o autor pede emprego ao rei para um parente. Ela diz que no Brasil Colônia também há vários relatos do crime na obra Arte de Furtar. Entretanto, considera imprudente demonstrar que a corrupção no Brasil é um dado histórico. “Se for esta a lógica, não podemos fazer mais nada, teremos uma situação de imobilismo, passividade e aceitação. Dizem que há uma cultura da corrupção, mas não creio nisso. Para mim, há uma cultura de impunidade”, destaca. O ponto mais vulnerável hoje para a manutenção da corrupção é o Judiciário. “Há uma dificuldade muito grande para criminalizar a corrupção, ou seja, demonstrar por meio de provas o ato corrupto”, diz.

O Ministério Público de São Paulo consegue hoje condenar mais agentes públicos eleitos por meio da Lei de Improbidade Administrativa (LIA) do que pelo Código Penal. “Isso porque pela LIA, as provas costumam ser mais evidentes e juridicamente eficientes. No Código Penal, há algumas vulnerabilidades que dificultam a condenação”, afirma. Para ela, o ajuste nesse dispositivo iria agilizar a criminalização e diminuir a sensação de impunidade entre a população. Entretanto, a pesquisadora ressalta que a corrupção não é eliminada. “Este problema estará apenas sob controle, não há forma de suprimi-lo. Os países desenvolvidos não são menos ou mais corruptos do que o Brasil, apenas possuem mecanismos de controle eficazes e punição rápida”.

 

Brasil 247




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Notadamente, a corrupção é um mal sócio-cultural, o que não significa que estejamos fadados à sua permanência, tampouco, que não possamos extirpá-lo.

 

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