sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Manifestação em SP manda recados para governo federal e ultraconservadores





Convocada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, uma marcha pedindo reformas populares e criticando o discurso ultraconservador partiu do Masp, na avenida Paulista, atravessou o rico bairro dos Jardins e terminou na praça Roosevelt, em São Paulo, na noite desta quinta (13).

Contando com a participação de organizações sociais, sindicatos e partidos políticos de esquerda (do governo e da oposição), o ato mando um recado à Dilma: se diminuir os recursos voltados a programas sociais e priorizar as demandas do mercado financeiro em detrimento à promoção de programas que garantam a dignidade aos trabalhadores, os movimentos sociais vão parar o país. O ato também atacou os pedidos de impeachment de grupos descontentes com o resultado das eleições.

Guilherme Boulos, coordenador do MTST, encerrou a manifestação afirmando que este foi o maior ato em muitos meses em São Paulo, reunindo mais de 20 mil pessoas (policiais presentes falaram, antes do início da caminhada, em 12 mil). E que não haverá “intervenção militar'', apoiada por ultraconservadores, mas “intervenção popular'', para garantir que o governo seja pressionado a fazer as reformas que o país precisa, como as reformas urbana e política.

 Concentração no Museu de Arte de São Paulo (Masp) começou às 17h

Antes de chegar à manifestação, um colega jornalista me alertou que ela poderia estar esvaziada por conta da chuva que caiu, na tarde e noite de ontem, em São Paulo – para a alegria do reservatório da Cantareira. Se é verdade que a água e o frio diminuíram os presentes, então a manifestação, que já foi grande, seria ainda maior.

Erra quem lê a manifestação como um ato governista. A maioria dos discursos não defendia Dilma, pelo contrário, atacava o que chamavam de “golpismo'' institucional ou midiático mas, ao mesmo tempo, pressionavam fortemente o governo por mudanças. Ou seja, deixaram claro que a presidente terá o apoio popular se fizer um governo mais à esquerda do que seu primeiro mandato, compensando um Congresso Nacional que ficou mais conservador após as eleições. Caso contrário, não terá trégua.

Como já disse aqui, petistas ou pessoas que não são ligadas ao partido, mas defendem bandeiras de esquerda e enxergavam na continuidade do mandato uma possibilidade maior de diálogo para essas pautas, levaram, junto com organizações e movimentos sociais, a campanha eleitoral ao espaço público e às redes sociais. Conquistaram votos como o PT fazia antigamente antes do partido se apegar demais ao poder e se apaixonar pelo reflexo no espelho.

A caminhada passou pela avenida Paulista, ruas dos Jardins, desceu a Consolação e terminou na praça Roosevelt, no Centro

Mas essa militância histórica, que defende a efetivação dos direitos humanos e os próprios movimentos sociais foram, por vezes, ignorados ou nem mesmo atendidos nos últimos quatro anos. E, agora, voltam às ruas para deixar claro que o apoio não foi à Dilma para à possibilidade de um governo que atendesse às pautas populares e que melhorasse a qualidade de vida no campo e na cidade.

O duplo recado desta quinta pode ser simplificado na forma de duas cantorias dos manifestantes durante a marcha, que teve forró, samba e rap como trilha musical. “Ou fazem as reformas ou paramos o Brasil'' (voltado ao governo federal) e “Pisa ligeira, pisa ligeiro, quem não aguenta as formigas não atiça o formigueiro'' (voltado às movimentações ultraconservadoras, que partem principalmente de setores da elite).

Por fim, é raro uma marcha atravessar a alameda Jaú, uma das principais ruas do nobre bairro dos Jardins. O trajeto foi, claramente, uma cutucada.



 O hotel Renaissance ficou vermelho. De tantas viaturas


Fiquei surpreso com o tamanho da proteção policial ao hotel Renaissance, com viaturas, motocicletas e policiais. Não duvidaria se, para proteger o local, um bairro inteiro tenha ficado descoberto. Os manifestantes atacaram violentamente com Luiz Gonzaga e um forró a céu aberto e sob chuva. Foi duro, mas o hotel deve sobreviver.

Mas relevante mesmo foi o que ouvi, de soslaio, passando sem ser notado, de um policial para outro com um sorriso no canto da boca: “Eu vi minha tia. Ela tá aí junto com o pessoal''.



 Encerramento da manifestação, na praça Roosevelt

 Fonte  Blog do Sakamoto


Saiba mais

Forró na chuva e mais de 15 mil pessoas pela reforma política em SP 


Milhares de ativistas se reuniram hoje em uma marcha por mais direitos, contra a direita, em SP. O "forró vermelho", nos Jardins,  deixou seu recado: o povo está nas ruas, pronto para enfrentar qualquer tentativa de retrocesso, de onde quer que venha.

Forró vermelho: cultura nordestina e popular foi exaltada no ato que reuniu mais de 15 mil pessoas. Foto: Mídia NINJA

“Nós também queremos falar de uma intervenção, que irá mudar os rumos do país, mas não é a militar, é intervenção popular”, afirmou Guilherme Boulos do MTST, fazendo um contraponto com o que foi dito no Vão do Masp, na manifestação realizada há duas semanas por setores de extrema direita.


A participação popular foi a principal pauta do ato. As reformas  populares da política, através do Plebiscito Constituinte, da reforma urbana, reforma agrária, tributária e da democratização da mídia.  “Não vamos aceitar que a presidenta deixe de fazer essas mudanças. Ela foi eleita para fazê-las e nós vamos cobrar, nas ruas, do nosso jeito, com mobilização, com ocupação”, frisou Boulos.

 Mais de 15 mil pessoas marcham pela Av. Paulista na saída do ato. Foto: Mídia NINJA

A mobilização – que seguiu do Vão do Masp pela Av. Paulista até os Jardins – faz parte de um conjunto de mobilizações  organizados por movimentos como o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), CUT (Central Única dos Trabalhadores), Juntos, UJS (União da Juventude Socialista), MST, entre outros. 

Contou, ainda, com participação da ex-presidenciável Luciana Genro, do PSOL.

Ao som de Gonzaguinha, os trabalhadores dançaram forró - daqueles que se aprende com um bom nordestino - nas ruas dos Jardins, mostrando para a elite ‘abestada’ de ‘alma sebosa’ paulistana, que além de engajamento político os cabras nordestino são ‘arretados’.


 Ação direta: o forró vermelho ocupou a frente do hotel de luxo Renaissance. Foto: Mídia NINJA



De acordo com Ana Paula Ribeiro, do MTST, o ato de hoje inaugurou um movimento pelas reformas populares, sendo  o momento ideal para Presidenta Dilma dar sua guinada à esquerda, para garantir as transformações estruturais na base do país: “A história está dando mais uma chance para a esquerda se reunir e criar uma pauta generosa, que abarque todos os movimentos e saia para a luta direta para exigir do governo uma posição para os trabalhadores”.

 Morador observa a passagem da passeata em meio à chuva. Foto: Mídia NINJA

 Paisagem de guarda-chuvas na Av Consolação. Foto: Mídia NINJA

Para Cindy Ishida, do movimento Juntos, mais direitos foram também as pautas pedidas nas jornadas de junho e que retornam às ruas pós-eleição, fazendo um contraponto com a proposta de intervenção militar e impeachment colocadas pela direita mais conservadora.

 Democratização da mídia na pauta dos trabalhadores sem teto. Foto: Mídia NINJA


Guilherme Boulos, do MTST, discura ao fim do ato.