"A edição distorce os números. A manchete do jornal diz o seguinte: 'Brasileiro responsabiliza Dilma por caso Petrobras'. No entanto, a reportagem interna especifica que 48% concordam em que a presidente tem 'muita responsabilidade' e 25% acreditam que ela tem 'alguma responsabilidade' no escândalo. Paralelamente, 46% acham que o atual governo foi o que mais investigou casos de corrupção, no período da redemocratização, e 40% entendem que foi no governo de Dilma Rousseff que houve mais punição a corruptos", diz Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa
247 - Assim como
Eduardo Guimarães e Janio de Freitas, o jornalista Luciano Martins Costa
também condenou a manipulação de uma pesquisa Datafolha, publicada no
último domingo, que responsabiliza a presidente Dilma Rousseff pelos
escândalos na Petrobras. Leia abaixo:
Quem quer a ditadura?
Por Luciano Martins Costa
Coincidência ou não,
dois dos principais jornais de circulação nacional trataram, nos últimos
dias, de consultar os brasileiros sobre suas posições em relação ao
regime democrático. Aparentemente, a motivação da pauta é a sucessão de
manifestações que quase toda semana fecham a Avenida Paulista, pedindo o
impeachment da presidente reeleita em outubro ou um golpe militar.
No domingo (7/12), o Estado de S. Paulo publicou pesquisa do Ibope revelando que a satisfação com a democracia subiu 13 pontos em 2014. Nesta segunda-feira (8), a Folha de S. Paulo divulga pesquisa Datafolha segundo a qual o índice de aprovação da democracia é o mais alto desde 1989.
Segundo a
interpretação da pesquisa Ibope, apesar de um grande número de
brasileiros ter dúvidas sobre a vantagem de viver em uma democracia,
aumentou a porcentagem daqueles que defendem o regime de liberdade
política em qualquer circunstância. Analistas consultados pelo Estado de S. Paulo acreditam
que as dúvidas em relação ao regime democrático são alimentadas pela
avaliação negativa dos partidos políticos e do Congresso Nacional e pela
percepção de aumento da corrupção. Portanto, há uma relação direta
entre o modo como a imprensa noticia e comenta os escândalos envolvendo
políticos e partidos e o número de brasileiros que perdem a confiança na
democracia, como já se afirmou neste Observatório.
Curiosamente, a maior
concentração de cidadãos que prefere a ditadura ou acha que em algumas
circunstâncias uma ditadura é melhor que a democracia está no Sudeste,
onde a maioria dos eleitores optou pelo candidato derrotado na eleição
presidencial de 2014. O perfil típico do antidemocrata brasileiro é o
jovem com escolaridade e renda médias que vive em São Paulo ou no Rio de
Janeiro. Especialistas citados pelo jornal creditam esse fenômeno ao
fato de que os jovens tendem a emitir opiniões mais polarizadas, mas
isso não explica por que o recorte dos antidemocratas é principalmente
geográfico, uma vez que os jovens do Nordeste são mais favoráveis à
democracia.
Convém lembrar que os antidemocratas se concentram nas regiões onde é maior a influência da imprensa hegemônica.
Aprovação em alta
A pesquisa Datafolha,
interessante por relacionar a defesa da democracia diretamente à
disputa eleitoral acirrada, não mereceu da Folha de S. Paulo o
mesmo cuidado. O jornal paulista desprezou seu próprio instituto: embora
tenha destacado o tema na primeira página, dedica ao estudo apenas um
quarto de página, com um resumo dos dados gerais, sem especificar as
nuances regionais ou por faixa de renda.
Ainda assim, esse
quadro genérico permite observar que os brasileiros mais instruídos têm
uma convicção mais sólida sobre a importância da democracia, com 80%
afirmando que um regime de liberdade política é sempre a melhor forma de
governo. Entre os menos escolarizados, que fizeram apenas o ensino
fundamental, 57% têm a mesma opinião e 19% dizem que tanto faz uma
democracia ou uma ditadura.
Também é interessante observar que, no domingo (7), a Folha havia
publicado outra pesquisa na qual se perguntava aos consultados sobre o
que achavam das responsabilidades da presidente Dilma Rousseff no
escândalo da Petrobras. Segundo aFolha, nada menos do que 68%
responderam positivamente, ou seja, uma maioria significativa entende
que a presidente tem responsabilidade no caso.
Mas a edição distorce
os números. A manchete do jornal diz o seguinte: “Brasileiro
responsabiliza Dilma por caso Petrobras”. No entanto, a reportagem
interna especifica que 48% concordam em que a presidente tem “muita
responsabilidade” e 25% acreditam que ela tem “alguma responsabilidade”
no escândalo. Paralelamente, 46% acham que o atual governo foi o que
mais investigou casos de corrupção, no período da redemocratização, e
40% entendem que foi no governo de Dilma Rousseff que houve mais punição
a corruptos.
A mesma pesquisa
mostra que o noticiário sobre o pagamento de propinas na Petrobras não
afetou a credibilidade da presidente: ela continua com as altas taxas de
aprovação reveladas no dia 21 de outubro, antes da eleição em segundo
turno: sua gestão é considerada ótima ou boa por 42% dos entrevistados.
Além disso, ela conta com 50% de expectativas positivas quanto ao seu
segundo mandato, apesar do grande esforço da mídia tradicional em baixar
o nível de otimismo dos brasileiros.
Fonte Brasil 247
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