segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O que significa para o mundo a vitória do Syriza


Em todas as partes do mundo, a esquerda espera que o Syriza não sucumba à tentação de uma acomodação que, como ocorreu com o PT, o impeça de ser o Syriza. 
 
 Tsipras quer taxar os ricos e punir sonegação
A vitória da esquerda na Grécia pode ser uma das duas seguintes alternativas.
  • Apenas isso, uma vitória da esquerda na Grécia.
  • A primeira manifestação de exaustão, no mundo, do receituário conservador para combater a crise econômica.
Em breve se saberá qual das duas sentenças prevalecerá. Seja como for, todos os olhos convergem, a partir de agora, para a Grécia, em busca dos desdobramentos da vitória do Syriza e de seu jovem e carismático líder Alexis Tsipras.

No Brasil, particularmente, o triunfo da esquerda grega coincide com a adoção, por Dilma, de um programa econômico que coincide, em muitos pontos, com aquilo que está sendo repudiado pelos gregos.

Para simplificar, Joaquim Levy é o anti-Syriza por excelência.

Na esquerda brasileira, o PT incluído, provavelmente serão inflamados os debates nos próximos tempos.

Embora tenha um retrato de Che Guevara em seu gabinete e tenha dado o nome de Ernesto a um filho, Tsipras não é um incendiário.

Ele não prega a saída da Grécia da União Europeia, por exemplo. Mas não quer que a permanência nela do país tenha o brutal custo social que vem tendo.

Será complicada a vida da Grécia longe da zona do euro. O primeiro e imenso desafio seria a criação de uma nova moeda, e outros obstáculos complexos apareceriam rapidamente no caminho.

Mas também é difícil para a União Europeia a saída da Grécia, porque poderia ter um efeito dominó que colocaria em risco o euro.

Por isso, o realismo sugere que as partes encontrarão uma solução conciliadora.

As ideias defendidas por Tsipras não são incompatíveis com a presença da Grécia na União Europeia.

Ele tem falado em coisas que estão no discurso de muitos líderes de países desenvolvidos ocidentais: taxar mais fortemente os mais ricos e combater severamente a evasão fiscal.

Obama tem dito coisas parecidas.

Nestes dois campos – taxar os ricos e cercar a sonegação – é o Brasil, e não a Grécia, que parece perdido no tempo.

Em nenhum momento em sua campanha Dilma tocou em tais temas.

Dias depois de vir à luz uma manobra do Bradesco num paraíso fiscal para fugir de impostos, Dilma bateu no banco duas vezes em busca de um ministro da Economia.

Acabou acertando na segunda tentativa, com Levy. É aquele tipo de pragmatismo que resultou no abraço de Lula em Maluf, ou na longa aliança com Sarney.

E embora até os bilionários brasileiros admitam secretamente que pagam muito pouco em impostos, ninguém no governo fala em aumentar, ainda que modicamente, sua contribuição.

A chegada do Syriza ao poder na Grécia lembra a chegada do PT ao poder no Brasil, há doze anos.

Inclui-se nas semelhanças o terrorismo retórico das forças conservadoras.

Se olhar para o caso brasileiro, Tsipras vai entender com clareza que será um erro repetir qualquer coisa parecida com a “Carta aos Brasileiros” – com a qual Lula acalmou o “mercado” e abdicou de fazer um governo verdadeiramente renovador.

Em todas as partes do mundo, a esquerda espera que o Syriza não sucumba à tentação de uma acomodação que, como ocorreu com o PT, o impeça de ser o Syriza.

Fonte Diário do Centro do Mundo


Saiba mais


Quem é Alexis Tsipras, o novo primeiro-ministro da Grécia 


 Alexis Tsipras


 
Publicado no DN.
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O líder do partido da esquerda radical Syriza, Alexis Tsipras, conquistou ontem o direito de formar um novo Governo na Grécia e tornou-se, aos 40 anos, no rosto da contestação à política de austeridade na União Europeia.

Nascido em Atenas em 28 de julho de 1974, alguns dias após o fim da ditadura dos coronéis, Alexis Tsipras, de aspeto jovial, cultiva um estilo descontraído: raramente usa gravata e tinha por hábito deslocar-se para o parlamento de moto.

Casou-se com a namorada dos tempos do liceu, tem dois filhos, vive numa casa alugada num bairro de Atenas e é adepto do Panatinaikos, clube de futebol da capital grega.

Alexis Tsipras iniciou a atividade política nas mobilizações do ensino secundário em 1990-1991, quando militava na Juventude Comunista Grega, com ligações ao Partido Comunista Grego (KKE).

Na Universidade Técnica de Atenas, onde termina o curso de engenharia civil, torna-se dirigente associativo e membro eleito pelos estudantes para o senado da universidade.

Entre 1995 e 1997, integra o conselho central do Sindicato Nacional de Estudantes da Grécia.

Após romper com o KKE, junta-se à Synaspismos, uma organização da esquerda alternativa e o principal partido da coligação Syriza — fundada em 2004, englobando mais 11 organizações radicais e que em julho de 2013 formaram único partido.

Aos 25 anos, Tsipras torna-se no primeiro líder da juventude da Synaspismos, que liderou até 2003, participando na organização dos movimentos pela globalização alternativa e no Fórum Social Grego.

Após as legislativas de 2009, torna-se no líder da bancada parlamentar da ainda coligação Syriza, que em 2014, já como partido, obtém uma clara vitória nas europeias, rompendo o tradicional bipartidarismo de conservadores e socialistas.

Perfeccionista, Tsipras é definido como um orador respeitado e temido pelos adversários políticos.

No seu gabinete do partido tem uma foto de Che Guevara e dizem-no admirador do falecido presidente venezuelano Hugo Chávez, com quem partilhava a data de aniversário mas com 20 anos de diferença.

Defensor dos direitos dos imigrantes e dos refugiados, faz a ponte entre diversas gerações da esquerda militante grega e a confirmação do seu carisma surgiu em 2014, ao ser apresentado como candidato a presidente da Comissão Europeia pela Esquerda europeia.

Com a vitória nas eleições de ontem, Alexis Tsipras confirmou-se como alternativa política aos partidos tradicionais, na sequência do “tratamento de choque” imposto à Grécia desde 2010, como contrapartida a um avultado empréstimo internacional.

Fonte Diário do Centro do Mundo


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