Auge da crise pode ser início do fim
"A pergunta relevante é: qual a extensão dos danos que Eduardo Cunha poderá causar ao governo antes de ser ferido de morte? Talvez muitos, mas uma condição ele já perdeu, a de ser o condutor de um processo de impeachment contra Dilma", diz a jornalista Tereza Cruvinel, colunista do 247; ela avalia que Cunha errou feio ao provocar o procurador-geral Rodrigo Janot e o juiz Sergio Moro, depois de ser atingido pela Operação Lava Jato; "Por mais forte que seja, por mais apoio que tenha nos baixos cleros da Câmara, Eduardo Cunha em poucas horas deixou de ser o que era. Basta ver que sua decisão de romper com o governo não foi seguida por nenhum grupo do PMDB e por nenhum partido da base governista. Ficou só", diz ela; Tereza avalia que, com certa competência, o governo poderá "desarmar os canhões voltados contra Dilma"
Por Tereza Cruvinel
Toda crise, diz o senso comum na
política, precisa piorar antes de melhorar. O rompimento de Eduardo
Cunha com o governo, depois de atingido por uma denúncia explosiva,
está sendo apontado, com quase unanimidade, como a abertura das portas
do inferno para o Governo Dilma. No curto prazo, tudo tende mesmo a
piorar mas este pode ser o episódio delimitador do início do fim da
crise.
Não faz sentido? Na política, nem sempre prevalecem os caminhos óbvios e retos.
Por mais forte que seja, por mais
apoio que tenha nos baixos cleros da Câmara, Eduardo Cunha em poucas
horas deixou de ser o que era. Basta ver que sua decisão de romper com o
governo não foi seguida por nenhum grupo do PMDB e por nenhum partido
da base governista. Ficou só. Nem os partidos de oposição, com quem já
andou tratando do projeto do impeachment de Dilma, saíram em sua
defesa. O poder é doce mas é cruel. Os que gravitam em torno dele são
dotados de um fino sensor que mede seus movimentos de fuga e de
concentração. Neste momento, o poder de Cunha está em maré vazante, e
dificilmente haverá movimento inverso.
Logo que o recesso acabar ele dará
sequência aos movimentos vingativos que já deflagrou. Colocará em
votação todas as contas de governo pendentes para deixar a de Dilma em
ponto de votação, logo que o parecer do TCU for apresentado. Instalará
as duas CPIs que podem incomodar muito o governo. Deixará instruídos os
procedimentos para instalação do pedido de impeachment do Movimento
Brasil Livre e alguns de outros autores que guarda na gaveta – nem todos
aptos a serem apreciados. Mas todas estas iniciativas, para serem
frutíferas, precisarão do apoio de seus aliados no PMDB e de parte da
oposição. Tal apoio vai se escassear se o Ministério Público apertar o
cerco contra o presidente da Câmara.
E tudo indica que apertará. Cunha
cometeu o erro de desafiar o procurador-geral Rodrigo Janot logo que seu
nome foi incluído na lista dos políticos a serem investigados. Se não
bastasse o espírito de corpo da sagrada confraria do Ministério
Público, Janot está disputando sua recondução ao cargo. Se não levar em
frente a ação contra o presidente da Câmara, pode dar a alguns pares a
impressão de conciliar para obter a indicação de Dilma, que por sua vez
estará também entre a cruz e a caldeirinha: se propuser a recondução ao
Senado, afrontará os aliados. Se não o fizer, será acusada de
contribuir para o acobertamento das investigações da Lava Jato. Não é
improvável, portanto, que Janot peça ao STF o afastamento de Cunha do
cargo alegando, tal como faz Moro em relação a empreiteiros e outros
investigados da Lava Jato, seu poder de obstruir investigações.
Também logo que o recesso acabar,
Cunha precisará de votos para derrotar, na CPI, o pedido de acareação
entre ele e o delator Julio Camargo. É pouco provável que a Câmara
sujeite seu presidente a tal humilhação mas só o fato de ter que lutar
contra tal hipótese debilitará Cunha aindamais.
A pergunta relevante é: qual a
extensão dos danos que Cunha poderá causar ao governo antes de ser
ferido de morte? Talvez muitos, mas uma condição ele já perdeu, a de ser
o condutor de um processo de impeachment contra Dilma. Enquanto ele
estiver no centro do furacão, o Governo poderá, se tiver competência,
desarmar os canhões voltados contra Dilma.
Fonte Brasil 247
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