O PSDB de Aécio Neves desenvolve duas táticas atualmente: 1) estimula a violência política e se alia grupos belicosos como o Movimento Brasil Livre, Revoltados Online e SOS Forças Armadas, e; 2) quer forçar um golpe pela via dos tribunais, contando com o apoio faccioso e partidarizado do ministro do STF Gilmar Mendes. Movido pelo inconformismo em face da derrota eleitoral e pela ambição pelo poder, Aécio Neves não se limita sequer diante dos riscos da generalização da violência política e da desestabilização institucional do país.
por Aldo Fornazieri
A oposição, liderada pelo PSDB de Aécio Neves, está gerando no país
um clima de violência política, até mesmo de guerra civil. É preciso
distinguir claramente a crítica democrática aos erros políticos e
econômicos do PT e do governo e as exigências de que as investigações
sobre atos de corrupção sejam feitas e os responsáveis punidos, da
critica que incita a violência, o sectarismo, o ódio, a exclusão e a
perseguição política que alguns líderes da oposição pregam e que
ativistas a praticam nas ruas e em outros ambientes. Se a fanfarronice
irresponsável do presidente da CUT merece o repúdio, maiores repúdios
merecem declarações irresponsáveis de líderes políticos da oposição
quando usam uma linguagem de ódio e de exclusão política do PT e os atos
de crescente violência sofridos por petistas em diferentes ambientes
sociais. Tal como no passado o PT foi cobrado pela violência de setores
dos movimentos sociais, agora o PSDB e outros partidos de oposição
precisam ser cobrados pela violência política crescente de
oposicionistas.
O atentado a bomba contra o Instituto Lula, a invasão e incêndios de
sedes do PT, a interpelação violenta que o prefeito Haddad sofreu na
Avenida Paulista, a violência sofrida por militantes petistas durante a
campanha eleitoral e subseqüentemente e as hostilizações igualmente
violentas que ex-ministros e ministros vêm sofrendo em restaurantes e
nas ruas, são fatos que compõem um cenário de violência política em
processo de generalização e que não podem ser circunscritos à
normalidade democrática. O boneco inflável, com a caricatura do
ex-presidente Lula na condição de presidiário, também é um ato de
violência que suscita provocação é ódio. É estranho que a consecução
dessa provocação seja protegida pela Polícia Militar de São Paulo.
Há que se lembrar que os indicadores sociais e econômicos do segundo
mandato do governo FHC eram bem piores dos indicadores atuais. Nem por
isso, a PT e a oposição de então foram para um jogo do tudo ou nada, de
golpe a qualquer custo, como está promovendo a oposição de hoje. Nem se
disseminou o ódio contra FHC e os líderes do governo como vem se
disseminando agora. Pelo contrário. O PT barrou em seu congresso
nacional o “fora FHC”.
Registre-se ainda que a corrupção de agora não é nem menor e nem
diferente da corrupção dos tucanos. Ou não há uma farta documentação
levantada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público mostrando a
corrupção do Banestado, com as famosas contas CC5? Ou não há inúmeros
outros casos de corrupção envolvendo o PSDB e outros partidos de
oposição que nunca foram apurados? Nem por isso se pregou a extinção do
PSDB como está se pregando a extinção do PT agora. Fala-se que a
corrupção da Petrobrás envolve a soma de R$ 21 bilhões. No caso do
Banestado, comprovadamente, foram enviados R$ 19 bilhões para fora do
Brasil ilegalmente, na segunda metade dos anos de 1990.
Desde 2014, em várias ocasiões, Aécio Neves pregou a necessidade de
“tirar o PT do poder”, em linguagem suficientemente ambígua a ponto de
que essa afirmação possa ter várias interpretações. Após ser derrotado
nas eleições do ano passado, Aécio afirmou em entrevista que foi
“derrotado por uma organização criminosa”. Ora, uma coisa é dizer que o
PT se corrompeu enquanto instituição política. Outra coisa é dizer que o
partido é uma organização criminosa. Trata-se de uma afirmação grave,
pois generaliza a acusação para todos os membros do partido. Se é
verdade que dirigentes e políticos do PT se corromperam, o fato é que a
maioria esmagadora dos membros do partido são pessoas honestas. Se
qualquer partido corrupto é uma organização criminosa, o que não é
verdadeiro, o PSDB também o seria. Mas tal como os petistas, a maioria
esmagadora dos tucanos são pessoas honestas.
Responsáveis por esse clima de violência política são também Carlos
Sampaio, líder do PSDB na Câmara, e Ronaldo Caiado, deputado do DEM.
Sampaio sugeriu a extinção do PT, numa clara declaração de guerra
política ao partido e de incitamento à perseguição dos petistas. Ronaldo
Caiado afirmou que “Lula tem postura de bandido”, uma declaração de
evidente criminalização do ex-presidente. As conseqüências violentas da
irresponsabilidade das declarações desses líderes se fazem sentir no
dia-a-dia de relações políticas cada vez mais hostis que se disseminam
na sociedade e no crescimento de atitudes fascistas que se arvoram o
direito de decidir o jogo político pela violência. O fato é que as
vozes da sensatez e da razão escassearam na oposição e as que sobram
estão mudas. Mas diante dos riscos da generalização da violência
política, a omissão poderá se tornar cúmplice do advento de um cenário
de conflitos sectários na política brasileira.
A Retórica da Violência e a Busca do Poder
Na história política, em regra, a retórica da violência sempre
precedeu a violência efetiva. A retórica da violência é como a
preparação do terreno para que as sementes da violência propriamente
dita sejam semeadas. É isto que alguns líderes da oposição vêm fazendo.
No passado, diferentes grupos políticos buscaram instrumentalizar o uso
da violência política em ambientes democráticos em nome da legitimidade
de determinadas causas. Mas a consolidação da democracia como meio
pacífico de solução de conflitos bloqueou as demandas de legitimidade
desse tipo de retórica.
Aécio Neves sequer pode reivindicar uma causa legítima para si. Não
pode apresentar-se como líder de uma cruzada moral para limpar o Brasil
da corrupção. Ele mesmo consta como alguém que recebeu propina dos
esquemas de corrupção da Petrobrás, conforme relataram delatores da
operação Lava Jato. Tal como a campanha de Dilma Rousseff, a campanha do
tucano também recebeu milhões de reais das empreiteiras envolvidas no
escândalo.
As instituições da Polícia Federal, do Ministério Público e da
Justiça vêm investigando, prendendo e julgando sem que sofram qualquer
constrangimento do governo. Quem quer forçar a mão, pressionando a
Justiça, é o PSDB de Aécio Neves, que quer anular as eleições de 2014
para que o mesmo tenha uma nova chance imediata de ser presidente. Na
democracia, quem decide quem governa é o povo, não os tribunais. A
soberania das eleições não pode ser judicializada ao sabor de candidatos
derrotados.
O PSDB de Aécio Neves desenvolve duas táticas atualmente: 1) estimula
a violência política e se alia grupos belicosos como o Movimento Brasil
Livre, Revoltados Online e SOS Forças Armadas, e; 2) quer forçar um
golpe pela via dos tribunais, contando com o apoio faccioso e
partidarizado do ministro do STF Gilmar Mendes. Movido pelo
inconformismo em face da derrota eleitoral e pela ambição pelo poder,
Aécio Neves não se limita sequer diante dos riscos da generalização da
violência política e da desestabilização institucional do país.
Independentemente das críticas que se possa e se deva fazer ao PT e ao
governo, a crise política precisa parar. Precisa parar, pois ela está
provocando um alto custo na economia e no emprego dos trabalhadores
brasileiros. Aécio Neves e os setores da oposição que o acompanham
precisam ser responsabilizados pelo agravamento da crise e pela
incitação à violência política.
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