DIREITA COM ÓDIO
Roteiro para inviabilizar Dilma começou antes de apuração da eleição terminar.
Manifestação contra o governo no domingo (16) é o terceiro ato de um espetáculo golpista que deseja o retrocesso; linha do tempo mostra as idas e vindas do delírio conservador apoiado pela mídia
Manifestação na avenida Paulista em 15 de março: 210 mil pessoas, segundo o Datafolha, e 1 milhão, segundo a Polícia Militar
Rede Brasil Atual
São Paulo – A manifestação "contra a corrupção, o governo Dilma, Lula e o PT", que está programada para domingo (16), é a terceira deste ano. A tese do impeachment surgiu na boca de colunistas da imprensa corporativa quando as urnas do segundo turno da eleição de 2014 ainda estavam sendo apuradas. Sem aceitar o resultado e na perspectiva de forçar um "terceiro turno", o próprio Aécio Neves (PSDB-MG) abraçou a tese, embora de lá para cá tenha ficado cada vez mais isolado dentro de seu partido.
Com o governo ganhando força nos bastidores nos últimos dias, a
possibilidade de uma reprovação de suas contas pelo Tribunal de Contas
da União (TCU) tem se reduzido – assim como a chance de um julgamento
negativo das contas de campanha pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Resta ainda o grande esforço da imprensa, com a colaboração de
agentes públicos que atuam no interior da operação Lava Jato, de manter
os nomes de Lula e Dilma colados a irregularidades investigadas na
operação e vazadas seletiva e gradualmente.
A contar pelas manifestações anteriores, em 15 de março e 12 de
abril, quando a adesão ao movimento caiu substancialmente da primeira
para a segunda, o ato de domingo pode ser determinante para a
continuidade, ou não, da tentativa de se obter algum apoio "das ruas"
para o clima de golpe – iniciado no ano passado e intensificado nos
últimos meses.
Confira a seguir fatos destacados ao longo do período que
se interligam na busca incessante de esguichar gasolina na fogueira da
instabilidade política. Uma ação voltada a, se não derrubar, "sangrar" o
governo Dilma.
2014
17 de março – Deflagrada Operação Lava Jato para
investigar esquema de corrupção envolvendo diretores da Petrobras. Base
para investigações e indiciamentos são depoimentos por delação premiada.
Surgem nomes de diretores de grandes empreiteiras e políticos de todos
os partidos. Imprensa e parte dos envolvidos na condução da operação
dirigem o foco contra o PT, tentando associar nomes de Dilma Rousseff e
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Especialistas do meio jurídico e políticos afirmam que a Lava Jato
pode representar um divisor de águas no combate à corrupção no país. Mas
se preocupam com o uso político e com abusos que podem vir a abalar
tanto a credibilidade quanto a legalidade da operação.
17 e 18 de outubro – Delegados da Lava Jato usam perfis
no Facebook para manifestar apoio a Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo
turno da eleição presidencial.
24 de outubro – Semana do segundo turno de eleição
presidencial, com Dilma Rousseff (PT-RS) e Aécio Neves (PSDB-MG). Na
edição de véspera da eleição, revista Veja afirma que a
presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
teriam conhecimento do esquema de corrupção da Petrobras.
O ministro Admar Gonzaga, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), concede liminar que proibia a Editora Abril, responsável pela Veja, de veicular publicidade da última edição em rádio, televisão, outdoor e propaganda paga na internet.
26 de outubro – Segundo turno. Colunistas de jornais e TV
introduzem as possibilidades de golpe tão logo a derrota de Aécio Neves
se concretiza. A reeleição de Dilma, por 51,64% contra 48,36% de Aécio, foi a disputa mais acirrada desde 1989.
27 de outubro – Reeleição de Dilma causou
inundação de postagens de eleitores de Aécio na página oficial do
Exército Brasileiro, pedindo intervenção militar. Clube Militar divulga
nota oficial em que rechaça a contestação aos resultados do pleito.
28 de outubro – Depois de muitas horas de discussão e
obstrução do PT, PCdoB e do Psol, o plenário da Câmara rejeita decreto
presidencial que criou a Política Nacional de Participação Social.
Votação sinaliza que governo terá mais dificuldades no Congresso no
segundo mandato, que ainda estaria por começar. As bancadas progressistas encolheram.
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que lidera setores do PMDB, do chamado
baixo clero e de múltiplos interesses empresariais, desponta como
futuro presidente da Câmara.
1º de novembro – O cantor Lobão, que havia prometido ir embora
do Brasil caso Dilma fosse reeleita, e depois mudou de ideia, discursa
em manifestação em São Paulo pedindo o impeachment em ato do qual
participaram cerca de 2 mil pessoas.
10 de novembro – "É bom que a polarização que aconteceu no
segundo turno continue. Esse ódio que dizem que está circulando por aí
quem nos ensinou foi o PT", afirma o suposto filósofo Luiz Felipe Pondé,
em entrevista a Joice Hasselmann, apresentadora da ultrarreacionária Tveja.
30 de dezembro – Depois de incluir no novo ministério nomes
que deixam frustradas sua base social – como Joaquim Levy (Fazenda),
Kátia Abreu (Agricultura), Gilberto Kassab (Cidades) e George Hilton
(Esporte) – Dilma anuncia o pacote de ajuste fiscal. As MPs 664 e 665
criam regras que restringem o acesso a direitos como pensão por morte e
seguro-desemprego. Presidenta inicia mandato com distanciamento da base
social que a elegeu.
2015
1º de fevereiro – O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) vence a disputa pela presidência da Câmara. E indica que, com uma base aliada dessas, Dilma não precisará de oposição para ter "dias sem tédio", como ironizou o governador do Maranhão Flávio Dino (PCdoB).
2 de fevereiro – Jurista Ives Gandra Martins elabora, a
pedido de um advogado de FHC, parecer em que vê elementos para que seja
proposto processo de impeachment. Para ele, os crimes culposos de
imperícia, omissão e negligência estão caracterizados na conduta de
Dilma, tanto quando foi presidente do Conselho da Petrobras, quanto como
presidente da República. Jurista Dalmo Dallari desconstrói o parecer de
Gandra.
25 de fevereiro – São protocolados na Câmara dos Deputados
dois novos pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
Entre 2012 e 2015, 32 pedidos são protocolados na Câmara. A maioria
acaba arquivada.
13 de março – Diante de ofensivas golpistas, movimentos
sociais promovem manifestações em todo o país em defesa da democracia,
dos direitos sociais e contra o ajuste fiscal. Em São Paulo, 100 mil
pessoas – segundo organizadores – marcham da Avenida Paulista até a
Praça da República.
15 de março – É realizado no país o primeiro ato público que
tem como principais divulgadores nas redes sociais as organizações de
direita Movimento Brasil Livre, Vem pra Rua e Revoltados On-Line. Com
forte apoio da TV Globo, o protesto atinge as capitais do país e outras
cidades. Na avenida Paulista, comparecem 210 mil pessoas, segundo o
Datafolha, e 1 milhão, segundo a PM.
Diretório do PT de Jundiaí, a 50 quilômetros da capital paulista, é alvo de um atentado a bomba.
12 de abril – É realizado novo protesto pró-impeachment. A
adesão enfraquece. Apenas 13 estados registram manifestações. Segundo
estimativa da Polícia Militar, público da Avenida Paulista caiu 75%.
15 de abril – Movimentos sociais programam manifestações
contra o golpe. Na manhã do mesmo dia, Polícia Federal prende o
ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, em nova fase da Lava Jato.
Imprensa já sabia da prisão na véspera. Vaccari continua, segundo seus
advogados, preso sem nenhum amparo legal.
22 de abril – Aécio Neves tenta mobilizar a oposição em
favor do impeachment, mas cria um racha no PSDB. Desde que o
ex-governador de Minas Gerais e presidente do PSDB encampou a proposta,
líderes tucanos se manifestam contra a ideia.
1º maio – O projeto da terceirização e o presidente da Câmara,
deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), são os alvos preferenciais do 1º de
Maio organizado pela CUT, CTB, Intersindical e movimentos populares. A
agenda conservadora, identificada pelas centrais, é citada pelo
presidente da CUT, Vagner Freitas, que anunciou o lançamento de uma
frente nacional de esquerda unificada. "Aqui se organiza a resistência."
12 de maio – Um dia depois de ser citado pelo doleiro Alberto
Youssef na CPI da Petrobras, o ex-presidente Lula publica no Facebook
nota em que critica o fato de o país ter se tornado “refém” de um
criminoso “notório e reincidente”.
“É inaceitável que uma grande democracia como o Brasil, com 200
milhões de habitantes, uma das maiores economias do mundo, seja
transformada em refém de um criminoso notório e reincidente, de um réu
que negocia depoimentos – e garante para si um percentual na recuperação
do dinheiro que ajudou a roubar”, escreveu.
24 de maio – Dilma diz que impeachment não tem “base real”.
Afirma, ainda, considerar que o assunto tem caráter de luta política
contra seu governo. As declarações são feitas em entrevista ao jornal
mexicano La Jornada.
12 de junho – Em entrevista ao Programa do Jô, Dilma
afirma que a situação econômica do país é momentânea e será superada.
Dilma admitiu ficar "agoniada" com cenário de crise econômica, e
assegura que é "passageiro".
17 de junho – TCU adia julgamento de contas do governo.
Imprensa intensifica noticiário negativo para "pedaladas fiscais", que
são atrasos de repasses de dinheiro dos programas sociais aos bancos. A
questão que se coloca é que com as pedaladas o governo teria ferido a
Lei de Responsabilidade Fiscal, novo argumento para defensores do
impeachment.
28 de junho – Preso, presidente da construtora UTC, Ricardo Pessoa, aponta em delação premiada nomes de 17 políticos do PMDB, PSDB, PT, PTB, PSB e PP beneficiados
por doações para campanhas eleitorais originadas de esquema de
corrupção na Petrobras. E reacende tese de impeachment ao afirmar que
campanha de Dilma no ano passado, comandada pelo hoje ministro Edinho
Silva (Secom), teria recebido recursos.
Líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), afirma que depoimento
deve servir como prova de que as campanhas petistas foram abastecidas
com dinheiro desviado da Petrobras e que “a Câmara dos Deputados deve
abrir um processo de impeachment”.
16 de julho – O
empresário da Toyo Setal e delator da Lava Jato, Júlio Camargo, acusa o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de ter recebido US$ 10
milhões em propina. Segundo Camargo, o valor foi pago por meio do
empresário de Fernando Soares, conhecido por Fernando Baiano.
30 de julho – Dilma reúne-se com governadores em nome da
governabilidade. Enumera as causas que levaram à queda da arrecadação e à
redução das receitas nos estados e na União.
3 de agosto – Polícia Federal prende o ex-ministro José
Dirceu. A prisão preventiva é determinada pelo juiz Sérgio Moro, no
âmbito da operação Lava Jato, após constatação de que o
ex-ministro movimentou, dentro de sua empresa, a JD Consultoria, R$ 71,4
milhões desde 2007, inclusive depois de Dirceu ter sido condenado no
processo do mensalão. A justificativa das prisões é que teriam sido
usados laranjas para realizar operações ilegais, mesmo após a realização
das primeiras fases da Lava Jato. Seu irmão, e sócio na JD, Luis
Eduardo, também foi preso. Defesa de Dirceu já previa a prisão, e já
havia afirmado que todos os pagamentos recebidos pela JD são legais,
estão documentados, foram tributados e que a prisão não se justifica por
Dirceu já cumprir pena.
5 de agosto – Vice-presidente do país, Michel Temer, faz apelo em prol da governabilidade: “Não
vamos ignorar que a situação é razoavelmente grave, não tenho dúvida
que é grave. E é grave porque há uma crise política se ensaiando, há uma
crise econômica que está precisando ser ajustada, mas para tanto é
preciso contar com o Congresso Nacional, é preciso contar com os vários
setores da nacionalidade brasileira. Como articulador político do
governo, quero fazer esse apelo. Hoje se inaugura o segundo semestre,
agrava-se uma possível crise e precisamos evitar isso. Isso em nome do
Brasil, em nome do empresariado brasileiro, em nome dos trabalhadores. É
preciso que alguém possa, tenha a capacidade de reunificar a todos, de
reunir a todos e fazer esse apelo, eu estou tomando esta liberdade de
fazer esse pedido (...) Se o país for bem, o povo irá bem. É o apelo que
eu faço aos brasileiros, é o apelo que eu faço às nossas instituições,
ao Congresso Nacional e a todos aqueles que se interessam pelos destinos
do Brasil”, afirmou Temer.
6 de agosto – O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, arquiva
quatro pedidos de abertura de processo de impeachment da presidenta
Dilma, que não cumpriam requisitos formais.
Do deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ), na Carta Capital:
“A aliança entre Eduardo Cunha (e asseclas de todos os partidos do baixo
clero), PSDB e DEM já não é mais mal-disfarçada. O caminho para o
impeachment traçado por esta aliança envolve a reprovação das contas da Dilma pelo
Tribunal de Contas da União (TCU) devido às tais pedaladas fiscais
("pedaladas" semelhantes foram praticadas também por FHC quando
presidente da República sem que isto lhe causasse qualquer dano à
época).
9 de agosto – O procurador-chefe da operação
Lava Jato, Deltan Dallagnol, afirma que não há evidências de
envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidenta
Dilma Rousseff no esquema de corrupção na Petrobras. A declaração é dada
em entrevista à RedeTV!.
10 agosto – No Jornal Nacional, discurso de Dilma
Rousseff durante evento em Boa Vista ganha quase dois minutos – o JN
havia abandonado a cobertura de agenda da presidenta e dedica-se, desde o
ano passado, a privilegiar o noticiário negativo, acentuando efeitos da
crise econômica e as denúncias de corrupção. No estúdio, Renata
Vasconcellos fez uma introdução em sintonia com o discurso de Dilma: “A
presidente disse que o Brasil está fazendo uma travessia, que as
dificuldades são temporárias e que as pessoas não precisam ficar
inseguras. E fez um apelo para que as pessoas pensem, em primeiro lugar,
no país”.
Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ao participar de homenagem
ao ex-governador pernambucano Eduardo Campos, afirma que "a questão do
impeachment não está colocada".
Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) se aproxima da
articulação política do governo. Diz que temas como impedimento e
apreciação de contas dos governos anteriores e do atual não são
prioridades. "Na medida que o Congresso tornar isso prioritário,
estaremos pondo fogo no Brasil. E não é isso que a sociedade quer de
nós.”
11 de agosto – Derrotado na disputa presidencial de 2014, o
senador Aécio Neves (PSDB-MG) quer ser candidato ao Palácio do Planalto
em... 2015. O anúncio foi feito pelo deputado Marcus Pestana
(PSDB-MG), um de seus principais aliados, que defende eleições
antecipadas como remédio contra a crise política. “Essa alternativa casa com a motivação de Aécio e é inegável que o favorece”, disse Pestana, em entrevista ao jornal Valor Econômico. “Mas não é porque o favorece que nós construímos essa tese”.
Segundo Pestana, Dilma Rousseff e o vice Michel Temer
deveriam ser cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso
de poder econômico.
Em entrevista à revista Veja, Aécio sinaliza
que trabalha dia e noite para tirar a presidente Dilma Rousseff do
cargo, num modelo que prevê também a cassação de Temer.
13 de agosto – TSE deve julgar ação de
impugnação do mandato de Dilma Rousseff por suposto abuso de poder
político durante as eleições de 2014; ação é movida pelo adversário
tucano, que ainda não aceitou o resultado das urnas. Os ministros Gilmar Mendes e João Otávio de Noronha, do TSE, votam a favor de ação movida pelo PSDB, pedindo impugnação do mandato de Dilma Rousseff por suposto abuso de poder político durante as eleições de 2014. Julgamento é interrompido por pedido de vista do ministro Luiz Fux.
Um dia depois de participar da Marcha das
Margaridas, no Estádio Mané Garrincha, e de acolher parte das
reivindicações dos movimentos de trabalhadoras rurais, Dilma se reúne
com representantes da CUT, CTB, MST, UNE, MTST, Central de Movimentos
Populares e outras organizações sociais e sinaliza mais diálogo com a
base social que a elegeu.
Depois de passar o primeiro semestre sem dar
respostas à crise política, passa a adotar discursos mais contundentes e
seguros contra o golpismo. Manda recado a Aécio Neves – "Uma
coisa que devemos ter no Brasil e que é muito importante é o respeito
ao adversário. Brigo até a hora do voto, depois eu respeito o resultado
da eleição".
Outro indicador de mudança de postura foram as
críticas a "pautas conservadoras", o que atinge indiretamente o ainda
presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Sobre as manifestações de domingo, Dilma diz:
"Não vejo problema e nunca verei problema em manifestação. Não peçam
para eu manifestar qualquer atitude contra manifestação que eu não
farei. É uma forma de honrar os que não sobreviveram na ditadura no
Brasil".
Fonte Rede Brasil Atual
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