quarta-feira, 7 de outubro de 2015

HÁ QUE ENDURECER-SE, MAS SEM JAMAIS PERDER A TERNURA


Aqui não pretendo falar da vida revolucionária de Ernesto Rafael Guevara de La Serna, ou simplesmente “CHE”. Mas que através de uma carta enviada a uma de suas filhas, você possa conhecer um pouco do homem. 



HÁ QUE ENDURECER-SE, MAS SEM JAMAIS PERDER A TERNURA



Por Wagner Gomes*


O dia 8 de outubro de 1967, ficou marcado na minha memória, por dois fatos simples: era o segundo domingo de outubro, dia do Círio de Nazaré, e também o dia em que CHE GUEVARA, ferido, fora capturado nas proximidades da Aldeia de La Higuera, nas selvas bolivianas. Lembro, ainda hoje, que pela parte da manhã, acompanhei a Procissão do Círio. E à noite, como era de costume, através das “ondas curtas” de um potente rádio “MULLARD”, sintonizava a “VOZ DA AMÉRICA”, quando recebi a noticia da captura do CHE. Mudando o “dial” daquele aparelho, para a BBC de Londres, Rádio Central de Havana e Rádio Central de Moscou, a nota foi confirmada. No dia seguinte, como se soube depois, fora executado a sangue-frio.

Relendo o livro “Fidel e a Religião” do Frei Betto, compartilho estas palavras de Fidel, a uma pergunta se “Cuba exporta a revolução?”.

“…Creio que é simplista, superficial e idealista falar de exportação, de revolução. Pode-se gerar ideias, critérios e opiniões e divulgá-las pelo mundo. Quase toda as idéias que há no mundo foram geradas num lugar e difundidas em outro…

…Admito que as idéias se espalhem, e isto é histórico e ninguém pode negá-lo. Mas é infantil e ridículo falar de propagação e idéias exóticas…

…Pode-se divulgar idéias, mas não se pode exportar revoluções. As crises é que geram idéias e não as idéias que geram as crises. É uma prova de ignorância falar em exportar revolução…”

Então, não se preocupem aqueles que estão temerosos com a presença dos médicos cubanos no Brasil e no Amapá.

Aqui não pretendo falar da vida revolucionária de Ernesto Rafael Guevara de La Serna, ou simplesmente “CHE”. Mas que através de uma carta enviada a uma de suas filhas, você possa conhecer um pouco do homem.

A carta enviada a Hildita, de Brazzaville, datada de 15 de fevereiro de 1966, quando ela completava dez anos, é um hino de amor e ternura, de quem sabe o que faz e o que quer. Ei-la:
“Hildita querida:

Hoje te escrevo embora a carta demore muito em chegar às tuas mãos; mas quero que saibas que me lembro de ti e espero que estejas passando um aniversário muito feliz, Já és quase uma mulher e já não é possível escrever-te como às crianças, contando tolices e mentirinhas.

Deves saber que estou e estarei durante muito tempo longe de ti, fazendo o que posso para lutar contra nossos inimigos. Não que seja muita coisa, mas alguma coisa estou fazendo e creio que poderás sempre te orgulhar de teu pai, assim como eu me orgulho de ti.

Lembra-te de que ainda faltam muitos anos de luta, mesmo quando fores mulher, terás que fazer uma parte da luta. Enquanto isso, tens que preparar-te, ser muito revolucionária, o que, na tua idade, significa aprender muito, o mais que for possível, e estar sempre pronta para apoiar as causas justas. Além disso, obedecer à tua mãe e não te julgares capaz de tudo antes do tempo. O tempo chegará…

Deves lutar para ser das melhores alunas da escola. Melhor em todos os sentidos; já sabes o que quero dizer: estudo e atitude revolucionária, isto é, boa conduta, seriedade, amor à revolução, companheirismo, etc.

Eu não era assim quando tinha a tua idade, mas vivia numa sociedade diferente, onde o homem era inimigo do homem. Tens agora o privilégio de viver outra época e tens que ser digna dela.


Não te esqueças de olhar pela casa, de vigiar os outros garotos e aconselhá-los a que estudem e se comportem bem, principalmente Aleidita, que te respeita muito como irmã mais velha.

Bem, querida, mais uma vez, feliz aniversário. Dá um abraço em tua mãe e em Gita e recebe um abraço bem apertado, que valha por todo esse tempo em que não nos vemos, de teu papai!”.

Ricardo Rojo que escreveu “Meu amigo CHE”, editado pela Traço Editora, fecha o livro com estas palavras: “Quando tentaram retirá-lo do local do crime, os dois verdugos não conseguiram ocultar um estremecimento de terror: Che Guevara tinha os olhos muito abertos e serenos e um sorriso que para eles significava desdém e, para o resto do mundo, simplesmente, amor”.

P.S. Dedico o texto aos meus filhos, Marcos, Taíbe e Lélio e aos amigos Evaldy Motta, Ronaldo Serra, Luiz Melo, Emmanuel Dante, Rubem Bemerguy, Sérgio La Roque, Jucicleber Castro e Luciano Delcastillo.

*Wagner Gomes Advogado



 Discurso Che Guevara "La esperanza de un mundo mejor"