Presidente da CNTTL, ligada à CUT, diz que, apesar de tática de intimidação e violência, paralisação de estradas "é só um meio de criar tumulto e desestabilização", mas não terá êxito
Paulo João Estausia, o Paulinho, diz que grupos são contratados para parar caminhões e podem ser violentos
por Eduardo Maretti
São Paulo – O movimento que promoveu as paralisações em rodovias e algumas grandes vias urbanas, desencadeado hoje no país, "não tem um único representante dos caminhoneiros" e, por isso, não será bem-sucedido, segundo o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística da CUT, Paulo João Estausia, o Paulinho.
A paralisação, segundo os líderes do chamado Comando Nacional do Transporte (CNT), abrangeu os estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
Mas, para Paulinho, os caminhoneiros "sabem que
grupos orquestraram a paralisação de rodovias com pessoas estranhas e
alheias à categoria". O dirigente falou à RBA.
Como avalia o movimento de hoje?
Por constatação, verificamos o que já avaliamos antes: é um
movimento que não é representante de caminhoneiros e de trabalhadores,
tanto é que já houve quebra de caminhões. São grupos desconhecidos. Já
foi identificado grupo contratado, inclusive para parar caminhões. Os
caminhoneiros, vendo grupos queimando pneus no meio da rodovia ou
invadindo a faixa para parar os caminhões, evidentemente não querem ter o
caminhão destruído nem algum tipo de agressão e violência.
A tática é a da truculência...
Exatamente. Então, estamos orientando para que, se tiver resistência e
ameaça, pare o caminhão, obedeça ao que estão mandando e ligue para as
autoridades, a polícia rodoviária, seja federal ou estadual, e peça
apoio. Até porque, hoje, se o caminhoneiro parar um dia, ele não paga a
prestação no final do mês. Ele trabalha no limite. Os caminhoneiros
sabem que grupos orquestraram a paralisação de rodovias com pessoas estranhas e alheias à categoria.
Vários focos de paralisação foram desbloqueados pela polícia e os
caminhoneiros continuam normalmente. À tarde (em São Paulo), houve
tentativa de paralisação, inclusive na Marginal Tietê, mas em pouco
tempo esse pessoal já foi retirado, até porque não eram trabalhadores.
Tanto a CNTTL quanto o ministro Edinho Silva afirmam que a
intenção do movimento é desestabilizar o governo. Eles podem ser
bem-sucedidos nisso?
Não creio. Eles tentam criar o caos para ver se a ideia pega, se os
trabalhadores e outras pessoas da sociedade acabam aderindo. Não
acredito em êxito algum. É só um meio de criar um tumulto, um meio de
tentar criar desestabilização. Nós solicitamos das autoridades
competentes que identifiquem esses grupos, tirem da rodovia ou de onde
estiverem, para que não utilizem os trabalhadores para participar de
manifestação de cunho exclusivamente político.
As conquistas por meio de diálogo com o governo ajudam a frustrar essa paralisação?
Temos um diálogo permanente com o governo, tanto é que temos o Fórum
Permanente do Transporte de Carga, que foi criado e vem funcionando. A
Lei 13.103/2015 trouxe vários benefícios à categoria. Algumas coisas
estão enroscadas em burocracia, mas estão consolidadas. Já houve avanços. A
questão agora é só avançar. Não tem motivo para fazer a paralisação se
estamos debatendo a pauta com o governo, mediante o diálogo. Se a pauta
está sendo discutida e está avançando, onde está o motivo para
paralisação?
Só quero deixar claro que os trabalhadores têm reivindicações, estão
em debate, com avanço em algumas, outras em diálogo, outras que
eventualmente surjam vamos incluir no Fórum Permanente. Agora, qualquer
tentativa de forçar os trabalhadores a fazer paralisação forçada, os
verdadeiros representantes, além de orientá-los, vamos exigir que as
autoridades competentes tomem as providências necessárias.
Algumas interpretações veem semelhanças entre o movimento
grevista no Chile de 1972, antes do golpe militar contra Allende. Você
vê essa semelhança?
Não, não vejo. O que vejo é pretensão de grupos políticos tomarem
como parâmetro aquele fato do Chile para tentar construir um movimento
igual aqui. Mas os trabalhadores já estão com a pauta sendo atendida,
com diálogo com seus representantes, e não têm motivo para paralisação. Já temos uma tabela referencial de frete instalada, uma
reivindicação histórica. Tentar criar o caos com intuito de derrubar o
governo, como no Chile, não vai acontecer. É só uma pretensão deles.
Como verdadeiros representantes dos caminhoneiros, e junto com eles, temos essa disposição de contestar e, se for preciso, fazer movimento contrário.
Mas a maioria dos focos que ocorreram em alguns estados vem sendo
desmontada. Eles montam uma paralisação, e minutos depois a autoridade
vem e desbloqueia a rodovia. Se é uma paralisação de trabalhador mesmo,
ele para espontaneamente, é um direito constitucional.
Quem são os grupos que tentam essa greve?
No momento ainda não temos nomes. Existem alguns interesses
empresariais isolados, vale lembrar, até porque os empresários também
estão representados no Fórum e discutindo seus interesses. Mas alguns
grupos pequenos têm essa pretensão de fazer essa paralisação de cunho
exclusivamente político. Na verdade, a intenção é fazer um locaute, não é
nem paralisação. Esses grupos que estão tentando parar as rodovias hoje
não têm um único representante dos caminhoneiros. Todas são pessoas contratadas ou de outro setor da sociedade, menos caminhoneiro.
Fonte Rede Brasil Atual
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