quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

DEMOCRACIA: Em São Paulo, ato de milhares contra golpe comemora pedido de afastamento de Cunha

Ato ocupou vários quarteirões da Paulista: trabalhadores, movimentos sociais e centrais sindicais unidos em defesa da democracia



São Paulo – Manifestações realizadas pelo movimento social, sindical e intelectual em defesa do mandato da presidenta Dilma Rousseff, da democracia e contra o ajuste fiscal reuniram hoje (16) milhares de pessoas em 24 estados e no Distrito Federal. Em São Paulo, o protesto durou mais de três horas e foi encerrado com a comemoração da decisão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de pedir nesta quarta-feira o afastamento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Os manifestantes dizem que foi a luta na rua que levou à decisão de Janot. 

As entidades leram um manifesto assinado por diversas entidades, contra o retrocesso e a política econômica. "Cunha tenta subordinar o destino do país à salvação do seu pescoço. Não há dúvida que eventual governo Temer representaria um ataque aos direitos dos trabalhadores. As ruas pedem 'Fora, Cunha', atolado em denúncias de corrupção...", diz parte do documento.

O ato começou pouco depois das 17h, ocupando pelo menos quatro quarteirões da Paulista, em clima festivo, teve participação de Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), as centrais CUT, Intersindical e CTB, Upes, Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, entre outras entidades. 

O presidente da CUT, Vagner Freitas, o primeiro a discursar, disse que o golpe em curso é contra os trabalhadores, "um gole de classe". "Os mesmos que defendem o impeachment defendem a terceirização, defendem acabar com a CLT. A valorização do salário mínimo prejudica as empresas e provoca a inflação", disse, acrescentando: "Os mesmos que apoiam o Cunha são os que defendem a redução da maioridade penal e são contra os direitos das mulheres e que por isso os trabalhadores não vão deixar o golpe passar". 

Freitas disse que o ato defende Dilma, que foi eleita pelo povo e que não existe crime provado contra ela. O dirigente acrescentou que, apesar do apoio, o ato é crítico ao ajuste fiscal que "penaliza os trabalhadores e provoca recessão da economia. Disse que esta política econômica também não será aceita pelos trabalhadores. 

Freitas disse que o ato, que reúne reuniu jovens, adultos, movimentos sociais, sindicatos, população LGBT, negros, mulheres e "acaba de enterrar o Cunha". "Está fazendo história e mostrando que vai se defender o mandato da presidenta Dilma, sim". Ele lembrou que quando passar essa fase é preciso "que a Dilma que foi eleita volte, que o programa que foi eleito seja retomado". "Para aproveitar o fora, Cunha e mandar um fora, Levy, que a agenda do Brasil é a agenda dos avanços sociais, do desenvolvimento e não a agenda do Paulo Skaf (presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que nem empresário é, não é a agenda da Lava Jato, que tem provocado desemprego". 

O coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, disse, sobre a maciça presença ao ato que esta manifestação "não precisa de patos para encher a Paulista", numa referência ao mascote utilizado pela Fiesp em ato realizado no último domingo (13).

Boulos lembrou que o golpe é um golpe da direita, que "quer fazer uma ponte com o passado e atacar os direitos conquistados". Ele também lembrou também que Michel Temer, se quer ser presidente, precisa ter pelo menos 55 milhões de votos e não ficar escrevendo cartinha. "Se ele quer escrever carta, vai ser presidente dos Correios." 

Ele ressaltou, no entanto, que ser contra o impeachment não é aceitar as políticas do governo Dilma, e que não se pode aceitar o ajuste. Para ele, a presidenta precisa entender que quem está na rua não é banqueiro nem empresário, são trabalhadores e que "ela deve conversar com ele, com o povo, e não com o Congresso e com o PSDB". Segundo o coordenador dos sem-teto, o o povo não vai aceitar o impeachment "que é ilegítimo e fruto de chantagem". "O Cunha não tem condição nem de ser deputado, imagina decidir os rumos do país. Ele já deveria estar preso faz tempo. E também, é fruto da hipocrisia do PSDB, pois quem é FHC para falar em pedaladas fiscais se ele as inventou?" 

Raimundo Bonfim, coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP), destacou que domingo foi a casa-grande que esteve na Paulista, e que hoje, "é a senzala". "A senzala está aqui para dizer que não vai deixar a casa grande passar por cima deles de novo". Segundo ele, amanhã (17) a Frente Brasil Popular vai se reunir com a presidenta para discutir a política econômica e os programas sociais. 

Gilmar Mauro, da direção nacional do MST, reforçou: "Estamos neste dia para colocar uma pá de cal nesse impeachment. Temos de colocar toda a força para que o Cunha, além de ser afastado do Congresso, vá para a cadeia". Ele lembrou que o principal objetivo de hoje é jogar uma pá de cal no impeachment e que os trabalhadores têm mais o que fazer. "O povo tem outras pautas, por isso queremos o Cunha fora do Congresso, queremos ele preso. A pauta dos trabalhadores é por reformas estruturais, mais avanços sociais", disse, destacando que é preciso politizar o povo brasileiro, para que entenda que são os trabalhadores que pagam "cada coisa neste país". "Os trabalhadores que pagam impostos. Foram 500 anos de latifúndios e 400 anos de escravidão. Estes que sempre dominaram o país devem pagar a conta e não o povo brasileiro."

"Apesar de fazermos oposição ao governo Dilma, entregar o governo para a direita por meio de um golpe vai acelerar a retirada de direitos e prejudicar a classe trabalhadora", disse o presidente nacional do Psol, Luiz Araújo. 

Sônia Coelho, da Marcha Mundial de Mulheres, ressaltou que o ódio contra a presidenta Dilma também é pelo fato de que ela é mulher. Que Eduardo Cunha e aqueles ao lado dele são machistas, misógenos, machistas e homofóbicos, além de serem criminosos. Ela cobrou que a Justiça coloque Cunha para fora da Câmara direto para a cadeia. 

A coordenadora da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), Thamires Silva, lembrou que são vários jovens negros, pobres, mulheres e população LGBT nas ruas de todo o país contra o golpe, porque a "direita fascista não se conforma com o fato de o filho de pedreiro estar na universidade nem com uma mulher na presidência". "É a mesma direita que corrobora com o extermínio da juventude negra e essa população não vai aceitar o golpe." 

Presidente da CTB, Adilson Araújo ressaltou que estamos no caminho certo, que a crise tem afetado os pobres de todo o mundo, seja nos Estados Unidos, na Europa e na América Latina, e é fruto das pressões dos grandes grupos comerciais, e que "essa corja corrupta do PSDB não tem direito de falar nada porque eles provocaram desemprego em massa e entregaram nosso patrimônio a preço de banana quando estavam no poder". "A direita não aceita os avanços sociais, o Minha Casa, Minha Vida e o Bolsa Família, principalmente não aceita destinação do dinheiro do pré-sal para a saúde e educação." "Banqueiros, rentistas, a turma do FHC e da grande mídia começaram a apostar no afundamento do país." 

O secretário-adjunto da Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial de São Paulo, Elizeu Soares Lopes, disse que estava no ato em defesa dos direitos sociais. "Ao contrário das manifestações golpistas de domingo, nossa manifestação é construída no chão de fábrica, nas escolas, nas associações de moradores. Eles querem tirar a Dilma não é por corrupção, mas é porque eles não querem ver os pobres e negros nos aeroportos e nos bancos das universidades, e com poder de consumo. Não existe nenhum crime praticado pela presidenta Dilma Rousseff. Não suportam ter trabalhador virando professor e ensinando os filhos das elites." 

Os manifestantes criticaram o tratamento diferente dado pela imprensa comercial para os atos em defesa do impeachment realizado no domingo e o ato de hoje, que não teve ampla cobertura, nem "mapinha" de onde haveria manifestação e sem cobertura direta. 

A presidenta da UNE, Carina Vitral, destacou que a entidade foi ao STF apoiar a ação do PCdoB contra o impeachment e que os estudantes não vão aceitar esse golpe, que os estudantes querem o Cunha fora da Câmara porque este corrupto chantagista não engana os estudantes brasileiros. Ela também ironizou os chamados movimentos sociais que fazem atos contra a Dilma e supostamente são contra a corrupção. Onde eles estavam quando 200 escolas foram ocupadas, quando os estudantes paulistas foram agredidos pela PM? Aonde estavam estes movimentos "fake"? Nós, estudantes, vamos seguir nas ruas para barrar o impeachment, barrar o ajuste e conseguir mais direitos. 

A deputada estadual Leci Brandão (PCdoB-SP) disse que o povo está "acordado e ligado". "Respeitem o resultado da eleição, respeitem a presidenta. Acabem com a discriminação e respeitem a diversidade. Chega de golpismo. Não viemos ofender ninguém e sim defender nossos direitos. E este é o problema, que todos têm direito, é isso que a direita não quer aceitar". Leci mandou seu recado de conforto à presidenta: "Dilma, acredite em nós, o povo está na rua". 

A presidenta da Ubes, Camila Lanes, lembrou que o Cunha é o "maior golpista do Brasil" e que se ele tivesse um pouco de dignidade renunciaria agora. Segundo ela, os estudantes vão para a rua defender a democracia. "E defender o país e a democracia é defender o país, as escolas, as universidades, a Petrobras e o mandato da presidenta." A vice-prefeita de São Paulo, Nádia Campeão, disse que esta quarta-feira (16) vai entrar para a história da cidade. "Nós, que ocupamos as ruas de São Paulo, estamos acostumador a ocupar as ruas desde muito tempo. Hoje, estamos todos unidos para defender o que é o nosso bem mais precioso, que é defender a democracia e o direito legítimo do voto do povo brasileiro. Este é um direito sagrado, que foi conquistado depois de muita luta. Nós não vamos abrir mão desse direito de escolher o nosso presidente da República de forma direta." 

O membro da executiva estadual do PDT Luiz Antônio de Medeiros saudou os sindicatos ligados à Força Sindical que romperam com a pressão para ir à rua contra o golpe. "Aqui está o povo trabalhador e o que nos une é a defesa da democracia." Ele pediu que a Força Sindical se afaste do golpismo e venha para a rua também. "Estamos unidos para que nunca mais haja ditadura, se quer vencer a Dilma, que vença no voto", afirmou. 

"Quem está aqui hoje é o povo que trabalha e constrói a riqueza do país. Estamos correndo um grande risco de as elites tomarem o poder", disse Gabrielle Paulanti de Melo Teixeira, secretária-geral da Associação Nacional de Pós-Graduandos. 

Ivanilton, Confederação Sindical Internacional, disse que esta é uma das maiores manifestações em defesa da democracia. "O que está em jogo é a possibilidade de o povo brasileiro continuar garantindo direitos e avanços sociais. Companheiros do campo e da cidade mostram que não assistirão a manipulação dos meios de comunicação. Lembramos que a democracia é o caminho para garantir as conquistas sociais do povo." 

População 




As bailarinas Livia Seixas e Nina Giovelli justificaram a participação no ato por conta das "manipulações" de Eduardo Cunha. "Estamos aqui pela forma como as coisas foram feitas, por tantas manipulações do Cunha, pela chantagem na aceitação do pedido do impeachment e em defesa da nossa democracia. Isso é um jogo político, o PMDB quer sair dos bastidores", disse Livia. 

Para Nina, está em questão um "golpe que trará um retrocesso nos direitos sociais, nos direitos das minorias e o avanço de uma onda conservadora. É muito problemático para pessoas que querem viver com liberdade". 

O sociólogo Roque Aparecido da Silva defendeu que o país inteiro esteja nas ruas. "O Brasil todo deveria estar na rua, pois hoje é um dia muito importante para a democracia. Lutamos duramente contra uma ditadura e não podemos permitir um novo golpe. Isso será terrível para o trabalhador porque vai incentivar uma onda neoliberal. Toda inclusão e todo avanço social dos últimos anos vão se perder." 

O vigilante noturno João Martins de Sousa, que acompanha o sobrinho Gabriel, disse: "Eu não vim porque concordo em tudo com este governo. Há coisas que são ruins, mas já vivi outros momentos de crise e sei que poderia ser muito pior. A presidenta foi democraticamente eleita, e nós vivemos em um estado democrático de direito. O impeachment não tem base legal. É uma ameaça para a nossa democracia". 

Já as irmãs Ana Maria Figueiredo, psicóloga, e Bernardette Figueiredo, ceramista, foram para a Paulista contra o golpe. "Estou aqui contra este golpe. A Dilma foi democraticamente eleita e se esse golpe acontecer é um perigo para a esquerda, pois toda vez que ela chegar ao poder, poderá sofrer uma nova tentativa de golpe." 

"Eu estou aqui pela defesa da nossa democracia e por justiça. Nós vemos pessoas ligadas ao PT sendo presas sem provas, mas com o Cunha nada acontece", reclamou Barnardette, que acompanhava a neta, Thaís, de 15 anos. 

No Rio 

Manifestantes que protestam contra a possibilidade de impeachment da presidenta Dilma Rousseff fizeram um ato em frente ao escritório do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no centro do Rio. Durante o ato, eles jogaram para o alto notas de dinheiro impressas com a imagem de Cunha. 

Aos gritos de “empurra o Cunha que ele cai” e “não vai ter golpe”, os manifestantes, a maioria formada por jovens ligados a partidos e organizações de esquerda, participam de um ato político unificado, no Rio marcado para a Cinelândia e que ocorre também em outras cidades do país. 

Os jovens estavam concentrados em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O policiamento foi reforçado, mas os policiais não intervêm em meio ao grupo, ficando apenas no entorno dos ativistas. 

Um grupo de PMs ficou em frente à portaria do edifício, na esquina das avenidas Rio Branco e Nilo Peçanha, para evitar uma possível invasão. 

Com reportagem de Rodrigo Gomes e Sarah Fernandes e informações da Agência Brasil



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