domingo, 17 de janeiro de 2016

CALOR, SUOR E INTERAÇÃO


UMA DAS MAIS PURAS E FINÍSSIMAS IRONIAS CONTRA O AUMENTO DA TARIFA DO TRANSPORTE PÚBLICO:
 




CALOR, SUOR E INTERAÇÃO 

 

Existem, pelo menos, seis razões para pagar R$ 3,80 na tarifa de ônibus em Cuiabá


Mídia News



Por Lucas Rodrigues

Vem ano e vai ano, mas os reajustes da tarifa de ônibus continuam no olho do furacão e das críticas.

No caso de Cuiabá, o alarde é injustificável: há motivos de sobra para aumentar o valor para R$ 3,80. Se você duvida, aqui vão seis motivos.

1 – Reforço na economia: como o calor é insuportável e nem sempre (quase nunca) os pontos de ônibus são próximos ao trabalho/residência, somos obrigados a nos refrescar durante a jornada.

Para tal, consumimos sucos de origens suspeitas, geladinhos e cremosinhos produzidos com a mais pura água da torneira - fornecida pela competente CAB Cuiabá -, movimentando a economia local, o que é importante neste ciclo de crise. Sem contar os salgados que compramos para enganar a fome após vários minutos de caminhada, totalmente higienizados e – garanto - livres de qualquer risco de intoxicação alimentar.


"A interação nos coletivos também nos dá várias lições de extrema importância para a vida, como a de ter coragem suficiente para tomar decisões em situações difíceis"


Além disso, os constantes assaltos aos celulares dos usuários dentro dos coletivos contam como ponto positivo. O roubo obriga o passageiro a comprar outro aparelho, contribuindo para o crescimento da economia e para a manutenção de empregos.

2 – Promoções imperdíveis: apesar de ser proibido qualquer comércio no interior do ônibus, sabemos que tal regra não é respeitada. Ainda bem. Regras existem para serem quebradas, não é mesmo? Então vamos aproveitar.

A melhor delas é a de uma instituição que recupera dependentes químicos, os quais vendem um conjunto de caneta e chaveiro por R$ 3. Além de ajudar na reabilitação, reflita: em que outro lugar, além do ônibus, você consegue comprar um conjunto com caneta e chaveiro por um preço tão justo?

3 – Música de qualidade: falando em quebrar regras, também não se respeita a lei municipal, sancionada há dois anos, que proíbe música alta no interior dos coletivos. Tanto que as próprias empresas ainda mantêm caixas de som nos veículos, que continuam a reproduzir a trilha sonora oriunda do refinado gosto musical dos condutores.

Desta forma, ao invés de gastar a bateria do celular para ouvir música – ou até mesmo gastar dinheiro com aplicativos pagos – podemos ouvir os últimos lançamentos de várias rádios gospel, sertanejas e de eletrobrega totalmente de graça. Sorte nossa que as “inspeções” feitas periodicamente pela Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana nunca veem isso.



4 – Aroma da cidade: engana-se quem pensa que as concessionárias do transporte público cuiabano não instalam ar-condicionado nos veículos para poupar dinheiro.

Na verdade, a falta do eletrodoméstico faz parte de um programa feito em parceria com a Prefeitura para resgatar os laços do cuiabano com a cidade, denominado Treinamento do Reforço Olfativo Único dos Xomanos Atentos (TROUXA).

Ou seja: ao invés de um ar geladinho e artificial, que não traz a cultura do município, o programa obriga os usuários a abrirem as janelas e respirarem aquele gostoso bafo de ar quente carregado com os diversos aromas da cidade. Tem pra todo gosto. “Crack rústico”, na região próxima ao Morro da Luz; “Esgoto no sol quente”, próximo da UFMT, e o “Chuva com lixo”, na Praça Alencastro.

5 – Interação social: é constante o debate sobre o isolamento das pessoas em seus celulares e computadores. Tão grave problema inexiste nos ônibus que transitam em Cuiabá. Como você vai usar o celular se mal consegue se mexer dentro do veículo? A disputa pelos milímetros cúbicos para se acomodar obriga os usuários a estabeleceram contato e diálogo entre si.

Não raras vezes há constantes batalhas travadas entre bundas e rostos, cotovelos e joelhos, mochilas e costas, bolsas e barrigas, que resultam em amor e ódio. Aquele empurra-empurra quando entra gente e sai gente, quando senta e quando levanta, é uma faculdade de jogo de cintura – literalmente – e de mediação de conflitos interpessoais.

A interação nos coletivos também nos dá várias lições de extrema importância para a vida, como a de ter coragem suficiente para tomar decisões em situações difíceis.

Exemplo: sentar na janela e ter só um lado do rosto torrado pelo sol, envelhecendo 10 anos em 1 hora, ou ficar em pé e ser encoxado, pisoteado, agredido por acidente e obrigado a cheirar axilas suadas?


6 – Saúde garantida: apesar de, aparentemente, os novos pontos de ônibus terem sido projetados para cidades frias da Europa, o projeto visa a garantia da melhoria da saúde dos usuários.

Como os pontos não protegem ninguém do sol, maior fonte de vitamina D, os cidadãos não terão problemas com a falta desta substância no organismo, cuja escassez pode favorecer a incidência de 17 tipos de câncer.  

Sem contar que os pontos igualmente não protegem da chuva, logo, os usuários levarão tantos banhos d’água que seus corpos criarão imunidade contra o vírus da gripe e – para os que sobreviverem - contra a bactéria que transmite a leptospirose.


LUCAS RODRIGUES é jornalista dos sites MidiaNews e Midiajur e pós-graduando em Ciências Políticas.



Fonte Mídia News


Leia mais:


Aumento de passagem para R$ 3,80 revolta usuário em Cuiabá 

Falta de veículos, frota em mau estado e superlotação em horários de pico fazem parte do cotidiano




Mídia News


VINÍCIUS LEMOS
DA REDAÇÃO
A possibilidade de reajuste da tarifa de ônibus em Cuiabá para R$ 3,80, conforme proposto por empresários do setor de transporte público, tem causado indignação nos usuários de um serviço, que há décadas deixa a desejar na cidade.


Falta de veículos, frota em mau estado de conservação, alto custo da passagem e superlotação em horários de pico fazem parte do cotidiano do cuiabano que depende do transporte público.


A situação do transporte público na Capital, relatada pelos usuários, contrasta com o reajuste, que deve ser definido em um prazo de 30 dias.


Com o aumento, a cidade terá a tarifa mais cara do Brasil, no mesmo patamar de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Na capital paulista, pelos mesmos R$ 3,80, é possível cruzar a cidade pelo metrô.


Caso o valor pretendido pelos empresários seja mesmo acatado, a tarifa terá subido 22%, o dobro da inflação no período de um ano.


Atualmente, a tarifa dos ônibus custa R$ 3,10, preço adotado desde 26 de janeiro do ano passado.
O novo custo da passagem será decidido pelo Conselho Municipal do Transporte, que é presidido pelo secretário Municipal de Mobilidade Urbana de Cuiabá, Thiago França.

Esse valor é um roubo, porque onde moro, sempre temos que deixar os primeiros ônibus passarem, porque normalmente eles estão lotados

 

 

A correção na  passagem é feita anualmente com base nos custos das empresas com veículos, salários dos funcionários, desgaste dos pneus, valores das peças de reposição e insumos básicos.


Surpreso com o valor que a passagem de ônibus pode atingir, o pedreiro Euclides Ferreira lamenta a situação. Ele mora no bairro Jardim Vitória, em Cuiabá, e conta que tem dificuldades com o transporte.


“Esse valor é um roubo, porque onde moro, sempre temos que deixar os primeiros ônibus passarem, porque normalmente eles estão lotados e não cabe mais ninguém”, diz.


Os problemas ocasionados pelo transporte público acabam afetando a vida do pedreiro, conforme relata.


“Atualmente, o transporte em Cuiabá é uma vergonha. Mesmo acordando no horário certo, você chega atrasado no serviço por causa dos ônibus”, conta.


Na Grande Cuiabá, conforme a Associação Mato-grossense dos Transportadores Urbanos (MTU), cerca de 280 mil pessoas utilizam o transporte público diariamente. Na região, circulam 450 veículos para atender toda a população.


A Capital possui três empresas de transporte público: Integração, Pantanal e Norte Sul.


A auxiliar de serviços gerais, Andréa Neves, utiliza ônibus todos os dias. Ela não concorda com o aumento, pois condena a qualidade do serviço.


“É um absurdo esse aumento no preço da passagem. Os ônibus não têm segurança, estão velhos e, mesmo com esse aumento, não devem ter melhorias. Esse preço não corresponde à qualidade apresentada”, diz.


No final do ano, o prefeito Mauro Mendes (PSB) já havia adiantado o reajuste.


“A tarifa segue modelo nacional e de uma planilha que já foi auditada pelo Ministério Público. O valor do combustível aumentou e muito, manutenção aumentou, tudo aumentou. Ninguém pode imaginar que a tarifa vá continuar a mesma em Cuiabá e nem em lugar nenhum do Brasil”, disse, à época.


Empresas alegam dificuldades


As empresas têm alegado que não conseguem quitar as despesas de pessoal, nem arcar com os gastos realizados com combustíveis e manutenção da frota, informou a MTU.


Os empresários também argumentam que o cancelamento, pelo Governo do Estado, da isenção da cobrança do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o valor do óleo diesel é mais um dos fatores que influenciam no aumento.


O Governo do Estado informou, na última terça-feira (12), por meio da Secretaria de Fazenda (Sefaz), que não vai abrir mão da cobrança do ICMS, uma vez que a lei que dava isenção era ilegal.


A Agência Municipal de Regulação de Serviços Delegados de Cuiabá (Arsec) publicou, na quinta-feira (14), uma planilha sobre o novo valor da tarifa.


Segundo o documento da Arsec, feito a partir de gastos apresentados por empresários do setor, caso fosse mantida a isenção do ICMS, a tarifa do ônibus seria reajustada para R$ 3,63.


O estudante Kauê Cruz é usuário frequente do transporte público da Capital e diz que costuma enfrentar problemas nos veículos da Capital.


“Eu acho esse valor bem caro, porque os ônibus estão em péssimas condições. Hoje mesmo, estava em um veículo que quebrou e fiquei quase meia-hora esperando outro”, argumenta.


O rapaz nasceu em São Paulo e conta que a região paulista possui transporte com mais qualidade e conforto que a capital mato-grossense.


“A situação em Cuiabá poderia melhorar, sim. Eu sou de São Paulo e o transporte público lá também é caro, mas os ônibus são muito melhores. Aqui tem pouca linha para muita gente”, pontua.


Segundo informações da MTU, os horários com mais fluxo nos ônibus são, no período da manhã, das 6h às 7h30. Durante a noite, o momento de pico é das 17h30 às 19h30.


O valor do combustível aumentou e muito, manutenção aumentou, tudo aumentou. Ninguém pode imaginar que a tarifa vá continuar a mesma em Cuiabá

 

 

Durante os períodos com maior fluxo, há mais veículos nas ruas. As frotas recebem, nesses horários, acréscimo de 60% em seu contingente.


Ar-condicionado


A estudante Ana Paula de Lara reclama do calor que enfrenta diariamente nos veículos. A superlotação dos ônibus também colabora para esquentar o clima dentro do transporte.


“Esse aumento é um absurdo. Os ônibus estão ruins, não têm nem ar-condicionado. Eles sempre quebram e muitas vezes acabo chegando atrasada no serviço”, diz.


Ela contou que uma das principais medidas deveria ser melhorar a climatização dentro dos carros.
“Em vez de colocarem ar-condicionado, que tem mais a ver com o clima de Cuiabá, colocaram umas televisões que nem sei pra que servem”, comenta.


A MTU informa que Somente 15% de toda a frota que circula na Grande Cuiabá possui ar-condicionado.


Os empresários do setor alegam que a falta de refrigeração nos veículos ocorre em razão do encarecimento dos custos, que seriam inflacionados com a implantação de aparelhos de ar condicionado.


Protesto


Um grupo de ativistas sociais está organizando um ato contra o aumento nas passagens de ônibus de Cuiabá. O evento está marcado para 26 de janeiro, na Praça Alencastro.


Em diversos pontos de Ônibus da Capital, há panfletos anunciando a ação. Nas redes sociais, também há pessoas se mobilizando para o evento.


Conforme representantes da manifestação, o principal objetivo do ato é conseguir impedir o reajuste.


Investigações


O Ministério Público Estadual (MPE) possui um inquérito em andamento apurando a qualidade do transporte coletivo em Cuiabá. O órgão, porém, não deu detalhes sobre a investigação.


Ainda conforme o MPE, em 2008 foi proposta uma Ação Civil Pública com o objetivo de impedir que houvesse alteração nos preços das passagens de ônibus em Cuiabá sem que fossem regularizados os cálculos tarifários.


O MP perdeu a ação na primeira instância e recorreu no Tribunal de Justiça. O caso ainda não foi julgado e aguarda decisão.


Fonte Mídia News