SERÁ A DESMORALIZAÇÃO DO MP?
A ópera-bufa de um promotor
O circo estava armado, e Conserino não resistiu à tentação de apresentar um número sob os holofotes do picadeiro.
Por Lindbergh Farias
Um pedido de prisão anedótico e risível,
digno de figurar como exemplo nas faculdades de Direito do que um
promotor não pode fazer, sob hipótese alguma. Este me parece o melhor
resumo da peça literária de péssima qualidade apresentada hoje pelo
promotor Cássio Conserino, do Ministério Público Estadual de São Paulo.
O
circo estava armado, e Conserino não resistiu à tentação de apresentar
um número sob os holofotes do picadeiro. Protagonizando uma iniciativa
política capaz de desmoralizar a instituição que representa, Conserino
pediu a prisão preventiva de Lula, tentando roubar o papel de líder
político da mobilização golpista.
Desta
vez, o promotor se superou: o pedido de prisão preventiva de Lula é uma
coletânea de frases de péssimo gosto, incluindo uma piada
desqualificada envolvendo Marx e Hegel (supomos que Conserino queria
citar Marx e Engels, mas faltou consultar a capa do Manifesto
Comunista), para embasar uma narrativa onde Lula representa um perigo
para as instituições e o Estado Democrático de Direito porque, uma vez
solto, pode valer-se de "força político-partidária para mobilizar grupos
de pessoas que promovem tumultos". Num dos momentos de maior potência
cômica, Conserino utiliza como "prova" um vídeo onde Lula aparece
falando um palavrão ao telefone. Imaginamos o árduo trabalho de
investigação conduzido pelo promotor, que perdeu alguns minutos
vasculhando grupos de whatsapp e páginas de Facebook em busca de uma
"prova irrefutável do desprezo que Lula mantém pela república".
As
reações foram imediatas: em fato inédito na história política recente,
Conserino conseguiu reunir na mesma posição de rechaço ao pedido de
prisão o editor-chefe da revista Época, Diego Escoteguy; o senador
Cássio Cunha Lima, líder da bancada do PSDB; o deputado federal Carlos
Sampaio, coordenador jurídico nacional do PSDB; e a jornalista Monica
Waldvogel. Não nos ocorre que algum deles seja um prócer petista, ou
tampouco um apoiador de Lula.
É
preciso desnudar esta tentativa esdrúxula de criar convulsão social e
política, esta ilegalidade cometida por um promotor interessado em jogar
querosene na fogueira do golpismo. Sua busca por 15 minutos de fama
joga lama na imagem do Ministério Público, afronta a Constituição e
escancara os interesses políticos na seletividade com que os fatos são
tratados. O combate à corrupção é camuflagem tosca de uma ação
coordenada para criminalizar uma organização política, derrubar um
governo e impedir que a maior liderança popular da História dispute mais
uma eleição presidencial, custe o que custar.
Frente
aos abusos de Conserino, cerrar fileiras em defesa da democracia não é
apenas uma opção política; é uma obrigação de quem tem algum apreço pela
República. O Brasil não pode mergulhar numa era de ações arbitrárias
cometidas ao arrepio da lei por maiorias de ocasião. O futuro do país
agradece.
Fonte Carta Maior
Visite a pagina do MCCE-MT