sexta-feira, 22 de abril de 2016

Safatle: “Dilma está absolutamente certa em querer ir à ONU denunciar o golpe”


Freud costumava dizer que a razão fala baixo, mas nunca se cala. Queiram ou não a história será escrita lembrando que, em 2016, o Brasil sofreu um golpe de Estado que lhe deu, de vez, as feições de um Estado oligárquico; que parte de sua população foi às ruas contra a corrupção aceitando jogar o país nas mãos do PMDB, simplesmente o partido com maior número de casos de corrupção na história da Nova República. Pode-se enganar alguns com essa história, mas não se engana o mundo inteiro. 





Filósofo Vladimir Safatle, na Folha:

Dilma está absolutamente certa em querer ir à ONU denunciar o golpe de Estado brasileiro. Sensibilizar a opinião pública mundial para o que está ocorrendo em nosso país é obrigação de todos os que querem uma democracia real no Brasil. 

Afinal, é sintomático que a imprensa mundial não tenha engolido o enredo do impeachment como prova de força da democracia brasileira, nem o enredo das “pedaladas fiscais” como crime supremo e o carnaval macabro do Congresso de Cunha como festa cívica da moralidade nacional.
Tal cenário não é a expressão da consolidação democrática, mas a degradação final das ilusões políticas gestadas na Nova República.

(…)

Infelizmente, esse final farsesco já estava inscrito como uma possibilidade. Afinal, uma das maiores ilusões da Nova República foi acreditar que a redemocratização brasileira exigia de seus principais atores políticos a capacidade de tecer alianças com os setores mais arcaicos da sociedade.

Oligarcas locais que pareciam ter saído de novelas de Dias Gomes, pastores especialistas em lavagem de dinheiro, amantes de torturadores e do porrete do Exército, batedores de carteiras e medalhas, cruzados contra a “ideologia de gênero”, devotos da motosserra, exportadores de carne enlatada para a África, homens brancos acostumados aos escaninhos da burocracia partidária foram cortejados por todos os que pregavam a ética da responsabilidade diante das “exigências de governabilidade”.

Estes venderam a promessa de que a conciliação com tais setores era necessária para um processo lento, gradual e seguro de reformas que colocariam enfim o Brasil no compasso da modernidade. Eis a astúcia suprema dos que nos governaram nas últimas décadas: aliar-se ao atraso para garantir o progresso. O resultado está aí para o mundo inteiro admirar.

Os que defendem o impeachment discordam do cenário desenhado aqui. Eles afirmam que tudo foi feito respeitando a legalidade, que essa história de “golpe” é fruto de uma bem orquestrada ação de comunicação do governo, que há sim uma ressurreição cívica do povo brasileiro. 

Eles querem nos empurrar a ideia de que é justo porque está na lei, mesmo que a lei seja aplicada de maneira distorcida, por agentes animados por interesses escusos e pressionados por uma histeria midiática dada ao linchamento público de quem não comunga de sua cartilha.

No entanto, coloquem para si algumas questões. Não há tribunal algum no mundo cujo júri seja composto por cidadãos indiciados e por um juiz réu. O único lugar onde isso ocorre na galáxia é na Câmara brasileira dos Deputados com seu julgamento de impeachment. 

Por outro lado, se há um crime cuja gravidade é tamanha a ponto de levar ao afastamento de uma presidenta, então quem faz crimes semelhantes deve ser imediatamente afastado. 

Dilma será afastada pelas “pedaladas fiscais” que já foram utilizadas por 14 governadores, inclusive Alckmin e Richa. Diz a razão que eles também deveriam ser imediatamente afastados, pois cometeram crime agora compreendido como da mais alta gravidade. No entanto, isso não ocorreu nem ocorrerá porque o crime foi, na verdade, um pretexto, nada mais que isso, um simples pretexto.

Freud costumava dizer que a razão fala baixo, mas nunca se cala. Queiram ou não a história será escrita lembrando que, em 2016, o Brasil sofreu um golpe de Estado que lhe deu, de vez, as feições de um Estado oligárquico; que parte de sua população foi às ruas contra a corrupção aceitando jogar o país nas mãos do PMDB, simplesmente o partido com maior número de casos de corrupção na história da Nova República. Pode-se enganar alguns com essa história, mas não se engana o mundo inteiro.



CAMPANHA EM DEFESA DA DEMOCRACIA, CONTRA O GOLPE E A CORRUPÇÃO 




Saiba Mais



Ao expor o golpe na ONU, Dilma está protegendo a democracia.


 Dilma é recebida em Nova York


Diário do Centro do Mundo
 
Dilma está dando um golpe no golpe ao investir em denunciar a ilegalidade do impeachment no exterior.

A ONU será a primeira de outras praças. Em Nova York, ela foi recebida com rosas por 40 manifestantes na quinta, véspera do discurso.

Na sexta, na cerimônia de assinatura do Acordo de Paris, novo pacto global sobre o clima, aproveita para dar seu recado.

É difícil medir o efeito prático de uma atitude como essa. Ninguém, evidentemente, vai intervir no Brasil — uma bênção e um avanço, levando-se em conta que a última vez que isso ocorreu foi em 1964.

Serve plenamente para constranger e expor internacionalmente a farsa jurídica. Ao contrário do que pregam os suspeitos de sempre, a ação de Dilma que somos uma democracia. A república de bananas é a do show de horrores da votação do impedimento.

Além do mais, se você está sendo assaltado e na sua casa todos continuam assistindo televisão, grite para o vizinho.

Ela tinha avisado, na entrevista para blogueiros, que iria às últimas consequências e ocuparia cada trincheira. O desespero com que Temer, Cunha e sua turma estão encarando a viagem dá uma medida de como ela acertou.

Temer foi personagem central de um perfil no New York Times. Ele é definido como “impopular e sob investigação”.

“Eu estou muito preocupado com a intenção da presidente de dizer que o Brasil é um tipo de pequena república onde golpes são dados”, afirmou o homem que conspirou, vazou uma carta de rompimento ridícula e, meses depois, um pronunciamento de posse adiantada.

A Câmara — ou seja, você — pagou para dois deputados “resistirem” em Nova York. Luiz Lauro Filho e José Carlos Aleluia foram enviados por Eduardo Cunha para “rebater” Dilma. Note: nenhum deles tem direito a ocupar a tribuna na ONU.

Mais: apenas um deles, Lauro Filho, fala inglês — ou garante que fala. Vão circular pelo prédio distribuindo panfletos, como Plínio Marcos?

Segundo o Valor, os dois terão “entre US$ 300 e US$ 400” por dia para as despesas. Foram de executiva e só retornam no domingo, um dia depois de Dilma. Que mal há em mais uma tarde livre para compras, suckers?

E Dilma está sujando o Brasil? É isso?

Aleluia é uma figura carimbada. Está entre os parlamentares citados pelo economista José Carlos Alves como integrantes do esquema dos Anões do Orçamento nos anos 90, quando o DEM era o PFL.

Em 2006, seu nome foi associado à chamada Máfias das Ambulâncias. Ele teria autorizado um colega do PP (olha aí) a negociar propina. Documentos apreendidos pela PF atestam que Aleluia recebeu 400 mil reais.

Na imprensa brasileira, ninguém acha estranho um sujeito como Aleluia se fantasiar de Batman e sair no encalço da presidente. A mídia internacional, porém, não tem conseguido encarar com normalidade essas nossas jabuticabas.

Para quem tem um mínimo de noção de civilidade, não é difícil saber quem está queimando o filme do país.

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