Freud costumava dizer que a razão fala baixo, mas nunca se cala. Queiram ou não a história será escrita lembrando que, em 2016, o Brasil sofreu um golpe de Estado que lhe deu, de vez, as feições de um Estado oligárquico; que parte de sua população foi às ruas contra a corrupção aceitando jogar o país nas mãos do PMDB, simplesmente o partido com maior número de casos de corrupção na história da Nova República. Pode-se enganar alguns com essa história, mas não se engana o mundo inteiro.
Filósofo Vladimir Safatle, na Folha:
Dilma está absolutamente certa em querer ir à ONU denunciar o golpe
de Estado brasileiro. Sensibilizar a opinião pública mundial para o que
está ocorrendo em nosso país é obrigação de todos os que querem uma
democracia real no Brasil.
Afinal, é sintomático que a imprensa mundial não tenha engolido o
enredo do impeachment como prova de força da democracia brasileira, nem o
enredo das “pedaladas fiscais” como crime supremo e o carnaval macabro
do Congresso de Cunha como festa cívica da moralidade nacional.
Tal cenário não é a expressão da consolidação democrática, mas a
degradação final das ilusões políticas gestadas na Nova República.
(…)
Infelizmente, esse final farsesco já estava inscrito como uma
possibilidade. Afinal, uma das maiores ilusões da Nova República foi
acreditar que a redemocratização brasileira exigia de seus principais
atores políticos a capacidade de tecer alianças com os setores mais
arcaicos da sociedade.
Oligarcas locais que pareciam ter saído de novelas de Dias Gomes,
pastores especialistas em lavagem de dinheiro, amantes de torturadores e
do porrete do Exército, batedores de carteiras e medalhas, cruzados
contra a “ideologia de gênero”, devotos da motosserra, exportadores de
carne enlatada para a África, homens brancos acostumados aos escaninhos
da burocracia partidária foram cortejados por todos os que pregavam a
ética da responsabilidade diante das “exigências de governabilidade”.
Estes venderam a promessa de que a conciliação com tais setores era
necessária para um processo lento, gradual e seguro de reformas que
colocariam enfim o Brasil no compasso da modernidade. Eis a astúcia
suprema dos que nos governaram nas últimas décadas: aliar-se ao atraso
para garantir o progresso. O resultado está aí para o mundo inteiro
admirar.
Os que defendem o impeachment discordam do cenário desenhado aqui.
Eles afirmam que tudo foi feito respeitando a legalidade, que essa
história de “golpe” é fruto de uma bem orquestrada ação de comunicação
do governo, que há sim uma ressurreição cívica do povo brasileiro.
Eles querem nos empurrar a ideia de que é justo porque está na lei,
mesmo que a lei seja aplicada de maneira distorcida, por agentes
animados por interesses escusos e pressionados por uma histeria
midiática dada ao linchamento público de quem não comunga de sua
cartilha.
No entanto, coloquem para si algumas questões. Não há tribunal algum
no mundo cujo júri seja composto por cidadãos indiciados e por um juiz
réu. O único lugar onde isso ocorre na galáxia é na Câmara brasileira
dos Deputados com seu julgamento de impeachment.
Por outro lado, se há um crime cuja gravidade é tamanha a ponto de
levar ao afastamento de uma presidenta, então quem faz crimes
semelhantes deve ser imediatamente afastado.
Dilma será afastada pelas “pedaladas fiscais” que já foram utilizadas
por 14 governadores, inclusive Alckmin e Richa. Diz a razão que eles
também deveriam ser imediatamente afastados, pois cometeram crime agora
compreendido como da mais alta gravidade. No entanto, isso não ocorreu
nem ocorrerá porque o crime foi, na verdade, um pretexto, nada mais que
isso, um simples pretexto.
Freud costumava dizer que a razão fala baixo, mas nunca se cala.
Queiram ou não a história será escrita lembrando que, em 2016, o Brasil
sofreu um golpe de Estado que lhe deu, de vez, as feições de um Estado
oligárquico; que parte de sua população foi às ruas contra a corrupção
aceitando jogar o país nas mãos do PMDB, simplesmente o partido com
maior número de casos de corrupção na história da Nova República.
Pode-se enganar alguns com essa história, mas não se engana o mundo
inteiro.
CAMPANHA EM DEFESA DA DEMOCRACIA, CONTRA O GOLPE E A CORRUPÇÃO
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Ao expor o golpe na ONU, Dilma está protegendo a democracia.
Dilma é recebida em Nova York
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