quinta-feira, 21 de abril de 2016

UMA HISTORINHA DE BAIRRO



UMA HISTORINHA DE BAIRRO


Por João Nazareno*



Dois moradores de uma simpática e promissora rua em uma comunidade de trabalhadores conversam sobre seus problemas comuns e um deles explicava a razão de todo o caos que ali se instalou e eu pude acompanhar essa esclarecedora conversa. Foi assim.

Dizia um deles.

Na rua onde você mora há tempos coisas estranhas aconteceram. Lixos fora do saco nas ruas, roubos, assaltos, tráfico, milícias, pichações, toda sorte de violações. Você não consegue descobrir de onde vem todo esse horror. Seu vizinho da direita está zangado com tudo isso e culpa o vizinho da esquerda, onde mora a Presidenta de Bairro. Ele diz ter certeza, pois já falou com um delegado e este está muito desconfiado da vizinha da esquerda. A rádio comunitária do bairro não para de culpar essa tal vizinha da casa à esquerda. Deve ser ela, pois isso é a cara dela.

Dizem que isso começou há 13 anos quando ela mudou para a “nossa” rua e virou Presidenta de bairro.

A população revoltada sai às ruas para queimar a casa da esquerda. O cara da casa da direita dá a gasolina e o isqueiro e o povão ruma pra lá. A casa é arrombada e violam todos os direitos. Julgam a proprietária e o juiz não é ninguém a não ser o cara da casa da direita.

Chega o dia do julgamento e a expulsam da rua em nome de Deus e dos filhos e netos do juiz da casa da direita.

Um tempo se passa e tudo continua a acontecer de ruim de novo e aumenta a cada dia. O caos se instala. O povo vai questionar os motivos de tudo de ruim aumentar com o cara da casa da direita que diz assim: não tenho nada com isso e foram vocês que tiraram a família inocente daqui. A presidenta de bairro nunca fez nada errado, mas eu não gostava dela porque ela ficava vigiando para que ninguém fizesse coisa errada. Sou rico e não tenho que me preocupar com problemas da comunidade.

A população revoltada invade a casa da direita e lá dentro percebe que é justamente ali que se origina a podridão que infestou o bairro e queimam tudo com o dono dentro.

Chamam a mulher da casa da esquerda de volta para solucionar os problemas da rua e ela diz: agora é tarde, pois o cara da casa da direita infestou outras casas com a sua podre ideologia, portanto a partir de agora vocês não terão mais quem os proteja e agora vou repetir o que disse o cara da casa da direita no dia do meu julgamento: “Que Deus tenha piedade do povo desta rua”.

Qualquer semelhança com a política brasileira recente terá sido mera coincidência.

*João Nazareno é formado em economia e autor do livro IKUIAPÁ, Um mistério de tchapa e cruz

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