sábado, 25 de junho de 2016

VERDE, AMARELO OU VERMELHO?


Sinto muito pelos descrentes, mas o vermelho ainda é a cor mais original e a sua fonte de poder e influência na história das civilizações demonstra que temos muito o que aprender e melhorar. Inclusive nos quesitos "humildade",  “respeito ao próximo” e “tolerância com os diferentes”.




Por Antonio Cavalcante Filho 



 

Há coisa de uns dias li algo sobre o governador de Mato Grosso, que teria reclamado das pessoas “que usam vermelho”, e que estas não deveriam impor os seus pensamentos, falando desse assunto a uma seletiva plateia. Achei estranho, pelo contexto e pela qualificação do político: discursava para pessoas do agronegócio (em Campo Novo do Parecis, creio), logo não eram ouvintes com muita preocupação com as cores das roupas usadas pelas pessoas, e nem o governador seria “expert” em moda.


Até entendo que a cor preferencial do "nosso imperador" possa ser o azul, a cor do seu partido, o PSDB. Mas seria bom que ele entendesse e respeitasse o fato de que em nenhuma parte de Mato Grosso ou do Brasil as pessoas pensam igual. Aqui, ou em qualquer parte do mundo, os cidadãos jamais serão totalmente azul ou vermelho.


Mas por curiosidade fui pesquisar sobre a origem das cores das roupas, e o fiz com razoável rigor científico para não ser injusto com as cores, porque não tenho preferências e nem desamores por nenhuma.


O antropólogo Claude Lévi-Strauss é uma das maiores autoridades científicas sobre comportamento humano, viveu 100 anos, nasceu na Bélgica e morreu na França (2009).


Mas sobre o assunto aqui tratado menciono Michel Pastoreau, historiador e antropólogo francês, sobrinho e seguidor dos passos de Claude Lévi-Strauss. Se dedicou ao estudo das cores, é uma das maiores autoridades mundiais no assunto. Escreveu “Le petit livre descouleurs” (“Pequeno livro das cores”), e nele Pastoreau conta a história das cores mais conhecidas por nós, entre elas o azul, o amarelo, o verde, o preto, o branco e o vermelho.


Segundo o estudo, o sistema cromático girava em torno da tríade preto, branco e vermelho. Logo, o branco representava o que não tinha cor, o preto o que era sujo, e o vermelho era considerado a única cor.


Desde a Antiguidade o vermelho recebia atributos de poder, tanto na religião quanto na guerra, basta dizer que o deus Marte, os centuriões romanos e até mesmo certos sacerdotes se vestiam nesta cor. Desde então o vermelho se relaciona com o sangue e o fogo. Para o Cristianismo o fogo vermelho é o símbolo de Vida, e lembremos da simbologia das línguas de fogo descendo sobre as cabeças dos apóstolos no dia de Pentecostes.


Logo, creio ser injusta a crítica que o governador tucano faz ao vermelho.


Busquei saber a origem do verde e do amarelo como “cores” simbólicas do Brasil e me envergonhei com as informações que obtive. Nas aulas de Educação Moral e Cívica (EMC), disciplina defendida pelos tais “pensadores” da “Escola Sem Partido” (o “professor “ Alexandre Frota e outros), nos ensinaram o significado da bandeira do Brasil. O verde representaria as matas; o amarelo, o ouro; e o azul o céu.


Errado.


A fase do Império no Brasil durou entre 1822 e 1889, e as cores verde e amarelo foram inspiradas nas roupas do Imperador e inseridas no “Pavilhão imperial do Príncipe Real”. Isso dura até hoje, apenas o Brasão do Império saiu da bandeira, dando lugar ao círculo com a frase positivista “Ordem e Progresso”.


A bandeira imperial possuía formato retangular, fundo verde, no centro um losango amarelo-ouro, e nele o brasão nacional (imperial). Tratava-se de um escudo verde, ao centro a esfera de armas e a Cruz da Ordem de Cristo em vermelho. Havia um aro de fundo azul com 20 estrelas brancas representando as províncias. Sobre o escudo a coroa imperial ladeados por um ramo de café e um de tabaco.


Assim há razoável certeza de que as cores da bandeira brasileira são na verdade as cores das roupas do imperador e toda vez que a pessoa se enrola em uma bandeira nacional ou usa uma camisa da “honesta” CBF para participar de uma manifestação bradando “minhas cores são o verde e o amarelo”, estão se ornando com as roupas imperiais.


Sinto muito pelos descrentes, mas o vermelho ainda é a cor mais original e a sua fonte de poder e influência na história das civilizações demonstra que temos muito o que aprender e melhorar. Inclusive nos quesitos "humildade",  “respeito ao próximo” e “tolerância com os diferentes”. Além do mais, não pega bem para um governador, mesmo que seja ele a personificação do "Rei Sol", sair por aí plantando preconceitos. Quem planta a erva daninha do preconceito, ainda que seja contra uma cor, estará sujeito a colher os frutos amargos da intolerância e do ódio. E isso não seria bom para ninguém.


Antonio Cavalcante Filho, cidadão, escreve às sextas-feiras neste blog.

 Fonte RD News


Até entendo que a cor preferencial do "nosso imperador" possa ser o azul, a cor do seu partido, o PSDB. Mas seria bom que ele entendesse e respeitasse o fato de que em nenhuma parte de Mato Grosso ou do Brasil as pessoas pensam igual. Aqui, ou em qualquer parte do mundo, os cidadãos jamais serão totalmente azul ou vermelho. 
 






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