O Brasil não pode ser deixado a mercê de um governo ruinoso. Está mais do que provado que a capacidade de degradar o país e seu povo não tem limites. O único projeto que as elites políticas e econômicas desse país têm é o projeto do seu próprio bolso, dos seus próprios interesses. Para essas elites não importam as dores, as tragédias, os massacres de todos os tipos de violência perpetrados contra os mais fracos. O mais trágico de tudo isso é que boa parte da sociedade valide essas perversidades contra seus próprios interesses.
por Aldo Fornazieri
Se durante o breve período do segundo mandato de Dilma não havia
governo, com a assunção de Temer ao governo através de um golpe, o
Brasil passou a ser governado por uma quadrilha. O golpe foi uma trama
inescrupulosa que envolveu muitos lírios perfumados, mas, como escreveu
Shakespeare, "os lírios que apodrecem fedem mais do que as ervas
daninhas". A remoção de Dilma não obedeceu nenhuma intenção de alta
moral, de salvação do destino do país, de construção da grandeza da
pátria, da conquista da glória pelos novos governantes através atos de
exemplar magnitude em prol do povo. Não. O que moveu o golpe foi a busca
da reiterada continuidade do crime, de assalto ao bem público e para
salvar pescoços da guilhotina da Lava Jato. Até a grama da Praça dos
Três poderes sabe que a parte principal da camarilha que tramou o golpe o
fez em nome da paralisação da Lava Jato.
As quadrilhas se orientam por dois princípios: a traição, sempre que
for do seu interesse, e a ousadia na persistência do crime. Consumada a
traição para alcançar o poder, a quadrilha não titubeia em mobilizar a
mais alta esfera do governo - o próprio gabinete presidencial - para
viabilizar negócios privados ao arrepio da lei e com ameaças explícitas a
órgãos governamentais de controle, o caso o Iphan. A sociedade
brasileira viu, perplexa, que diante de um crime de improbidade
administrativa, o presidente da República, ao invés de adotar o partido
do interesse público e da moralidade, demitindo o agente da
delinqüência, busca mediações de terceiros para acomodar a prática
criminosa com a desmoralização da probidade.
Temer, no mínimo, cometeu dois crimes: foi conivente com uma
investida delituosa e prevaricou ao não adotar nenhuma atitude em face
dela. Mas não seria de se esperar outra coisa de quem não tem
legitimidade, de quem subiu pela via da traição e de quem assumiu o
poder com o perverso objetivo de abrigar o interesse de um grupo
sedicioso. Se alguém estava procurando um exemplo veemente de
Capitalismo de Quadrilha pode parar de procurar, pois esse governo o
representa de forma inequívoca. E, pasmem, diante desses fatos da mais
alta gravidade, o inimputável Aécio Neves, propôs investigar o
denunciante.
A ousadia da quadrilha é de tamanha envergadura que no silêncio
sinuoso das noites brasilienses conspirava-se à larga para anistiar
centenas de corruptos, não só pelo caixa 2, mas por todos os crimes
conexos envolvendo as propinas relativas a desvios de empresas estatais.
A conspiração atravessava os corredores do Planalto, da Câmara dos
Deputados e do Senado e tinha em Temer um dos principais interessados
por ser beneficiário direto. Inviabilizado o indulto pela forte reação
da opinião pública, a quadrilha não teve pudor em anunciar, neste
domingo, um "pacto" para impedir a anistia natalina daqueles que
corromperam as eleições regando suas campanhas com dinheiro sujo.
Fraudaram a democracia e a república e enganaram o povo.
Este governo precisa acabar
O governo Temer é o mais degradado e degradante da história da
República. Fruto de uma conspiração e de manifestações manipuladas para
combater a corrupção, as suas principais figuras têm a face escrachada
da própria corrupção. Sim, porque se há um partido que é o campeão da
corrupção da Petrobrás, este é o PMDB. A imprensa e os analistas
estrangeiros, com espanto, não conseguem compreender como, em nome do
combate à corrupção, se entregou o poder a um condomínio de partidos
articulados em torno de interesses corrompidos. Dizer que não haviam
alternativas é falso, pois se existissem propósitos honestos em todos
aqueles que orquestraram o golpe, teriam proposto uma saída negociada ou
que implicasse eleições diretas, garantindo a soberania do povo na
escolha de um governo de transição.
Esse governo corrupto e ilegítimo se bate para sacrificar direitos e
degradar políticas sociais em nome de um falso ajuste fiscal. Sua
caminhada foi feita sobre um turbilhão de mentiras: prometeu a retomada
imediata do crescimento econômico, a criação de empregos e a volta dos
investimentos. A economia, o emprego e os investimentos se deprimem
todos os dias penalizando os mais pobres.
Ao assumir a presidência, Temer, cercado de corruptos, prometeu
combater a corrupção e de não interferir na Lava Jato. Como presidente,
abrigou os corruptos em seu ministério, deixou que a corrupção entrasse
em seu gabinete através de Geddel Vieira Lima e deu vazão às
conspirações para enfraquecer a Lava Jato e outros órgãos de controle. A
Lava Jato, que em boa medida coadunou o golpe, agora tem no condomínio
governamental, incluindo o PSDB, o seu maior inimigo.
Seguindo-se à posse, esse governo salvacionista, mostrou-se
interessado em salvar interesses de grupos, em vilipendiar as empresas e
as riquezas nacionais, em praticar a propina, o compadrio, o
clientelismo e os abusos através de seus braços legislativos. No Senado,
autorizou-se parentes de políticos a repatriarem dinheiro mal-cheiroso,
com uma vergonhosa omissão da oposição. O presidente da Câmara é um
serviçal do Planalto. Enfim, esse governo não serve ao Estado e ao
interesse público, mas se serve do Estado e do bem público.
Esse governo precisa acabar. Que moral tem ele para pedir sacrifícios
aos brasileiros? Como pode um governo ilegítimo conspirar contra o
sentido manifesto da Constituição de 1988 feita por uma Constituinte,
que é o de assegurar direitos? Como pode o Supremo Tribunal Federal ser,
vergonhosamente, cúmplice desses atos e conivente com o governo que
desmoraliza o Brasil? Como pode a lerdeza do STF deixar que criminosos
ocupem altos cargos da República, usando-os para agredir direitos
conquistados por décadas de luta? A mesma leniência do STF que foi vista
diante de toda sorte de abusos de Eduardo Cunha agora é observada em
relação a Temer, a ministros denunciados na Lava Jato, ao presidente do
Senado e a vários senadores e deputados. O STF, de tabernáculo da
Constituição que deveria ser, transformou-se no matadouro da decência e
da moralidade pública.
Já que os poderes da República não funcionam, acumpliciados que
estão, a opinião pública e as mobilizações de rua precisam estabelecer
um fim a este governo. Se os partidos, sem legitimidade, não são
capazes de garantir uma transição até 2018, que seja honesta e que não
agrida direitos e a Constituição, que esta transição seja construída
pela Sociedade Civil. O Brasil não pode ser deixado a mercê de um
governo ruinoso. Está mais do que provado que a capacidade de degradar o
país e seu povo não tem limites. O único projeto que as elites
políticas e econômicas desse país têm é o projeto do seu próprio bolso,
dos seus próprios interesses. Para essas elites não importam as dores,
as tragédias, os massacres de todos os tipos de violência perpetrados
contra os mais fracos. O mais trágico de tudo isso é que boa parte da
sociedade valide essas perversidades contra seus próprios interesses.
Aldo Fornazieri - Professor da Escola de Sociologia e Política.
Fonte GGN
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