terça-feira, 27 de dezembro de 2016

DESVOTAR: EXPRESSÃO DE CIDADANIA


Já que não temos o instituto do “recall”, para desvotar é preciso que o cidadão fiscalize, cobre e denuncie. Portanto, desvotar é: indignar-se, chutar o pau da barraca e pôr a boca no trombone! Nesse sentido, há quase dois anos, todos os dias, de manhã à noite, nas redes sociais, nos bairros, nas ruas, no trabalho e nos botecos, por me sentir enganado pelo candidato que votei, sigo desvotando, principalmente quando me atento para o que fazem as autoridades estaduais de Mato Grosso, seja aquele que eu votei, sejam aqueles que eu não votaria de jeito nenhum. 
 



Por Antonio Cavalcante Filho 


Em nosso sistema eleitoral não existe nenhuma previsão para que o eleitor traído possa retificar o voto na pessoa que elegeu e não cumpriu com o seu programa de propostas. Por aqui não prevalece o instituto do “recall”, existente em alguns países, que é chamar de volta para "reavaliação" popular um mandatário improbo, incompetente, inoperante, ou que tenha se revelado um déspota no exercício do mandato, dando aos eleitores a possibilidade de destituir o mandato do agente que foi eleito enganando a plateia no circo da campanha eleitoral.

Ao contrário do ato de votar, que é simples e rápido (leva-se apenas alguns segundos clicando algumas teclas da urna eletrônica), por não termos o “recall”, o processo de “desvotar” que venho praticando há algum tempo, pode ser longo, lento e doloroso, podendo durar os quatro anos do mandato, ou até a queda do traíra.

Por isso que, há anos, venho falando: “voto não tem preço, tem consequência”, e que é preciso refletir muito antes de votar. Tenho defendido até mesmo, se necessário, o voto nulo ou em branco, ou melhor ainda, a abstenção, a ausência às urnas, um boicote ao processo das eleições, enquanto os partidos políticos, juízes e legisladores não aperfeiçoarem o sistema eleitoral.

Já que não temos o instituto do “recall” para desvotar é preciso que o cidadão fiscalize, cobre e denuncie. Portanto, desvotar é: indignar-se, chutar o pau da barraca e pôr a boca no trombone! Nesse sentido, há quase dois anos, todos os dias, de manhã à noite, nas redes sociais, nos bairros, nas ruas, no trabalho e nos botecos, por me sentir enganado pelo candidato que votei, sigo desvotando, principalmente quando me atento para o que fazem as autoridades estaduais de Mato Grosso, seja aquele que eu votei, sejam aqueles que eu não votaria de jeito nenhum.

Thomas Jefferson, advogado, filósofo e o principal autor da declaração de independência dos Estados Unidos da América, dizia que: "A política é uma praga tal que eu aconselho todos a não se meterem nela". Creio que não devemos rejeitar a política, mas é nossa obrigação anular alguns políticos, desvotando, principalmente aqueles que, com nosso voto, ajudamos eleger e descumpriram os seus compromissos assumidos.

Quando vejo que nossas ruas estão esburacadas, sem iluminação adequada, os pontos de ônibus não oferecem o menor conforto, eu desvoto. Percebo que pagamos IPVA sobre a propriedade de carros, mas nenhuma parte desse valor parece que retorna para investimentos na qualidade da malha viária. De forma criminosa, o governo cobra imposto sobre a energia elétrica e a água que consumimos, todavia não há a contraprestação devida, que seria o fornecimento de escola de qualidade e postos de saúde com os insumos necessários para atender à população.

Reconheço que os recursos financeiros são limitados e as necessidades públicas não. Mas, então, por que roubam tanto, se o dinheiro existente é tão pouco?

E aí o meu desejo diário de desvotar aflora, e eu grito! Agora me vem a notícia de que autoridades mato-grossenses estão enroladas na tal Operação Lava Jato, e teriam recebido recursos desviados de atuações ilegais para bancar a eleição de 2014. A informação está contida em alguns dos mais de 900 depoimentos dos executivos da Construtora Odebrecht, apenas uma das empreiteiras que estão envolvidas no esquema.

Consta que executivos da Odebrecht mantinham relação com o grupo empresarial Cervejaria Petrópolis, que produz a cerveja Itaipava, e esta efetuava o pagamento de propina a políticos, a pedido da empreiteira. Os detalhes foram fornecidos pelo diretor-presidente da construtora, Benedicto Barbosa Junior, vulgo BJ. Com ele, a Polícia Federal apreendeu diversas planilhas de pagamentos a políticos que apontaram a relação com a Cervejaria Petrópolis.

Consta ainda, que a Odebrecht foi contratada para construir três fábricas da Cervejaria Petrópolis, na Bahia, Pernambuco e aqui em Mato Grosso. Em depoimentos, os acusados na Lava Jato contaram que as obras seriam moeda de troca para o pagamento de propina a políticos. Em vez de cobrar o custo real da construção da fábrica de cerveja em Rondonópolis, a Odebrecht pediu que o grupo Petrópolis repassasse propinas e abateria os pagamentos do valor contratado da obra.

Engenharia semelhante ao esquema da Seduc em Mato Grosso.

A campanha de José Pedro Taques a governador de Mato Grosso em 2014 custou a bagatela de R$ 27.106.539,33, o que já é uma monstruosidade, porque ninguém gasta isso “de graça”, sem querer “almoço grátis”, como o próprio Taques, o campeão das frases de efeito, gosta de falar. Só para ter uma ideia, o gasto declarado (por dentro) de Taques é algumas centenas de vezes maior que as despesas do candidato do PSOL ao mesmo cargo, que declarou ter investido R$ 97.787,06 na eleição para o cargo de governador.

Pode ser que o tal Petrolão chegou aqui, e aí, paciência, eu tenho que desvotar!

Na prestação de contas da eleição 2014, o candidato Pedro Taques teria recebido da Cervejaria Petrópolis cerca de R$ 3 milhões, sendo R$ 1 milhão depositado no dia 25 de setembro de 2014 e outros R$ 2 milhões em 29 de outubro de 2014. Os demais adversários ao mesmo cargo não receberam dessa fonte envolvida na Lava Jato.

Deputados federais eleitos beberam da mesma fonte (e eu não falo da cerveja!). Nilson Leitão (PSDB), um crítico contumaz do Partido dos Trabalhadores, pelo envolvimento no escândalo recebeu a quantia de R$ 42.601,08 por meio de doação, em 4 de outubro daquele ano eleitoral. Está na prestação de contas. O mesmo fez seu colega Adilton Sacheti (PSB), que recebeu R$ 100 mil em 14 de outubro de 2010 diretamente da fábrica de cerveja. Até políticos de menor expressão receberam dessa fonte, segundo dados do TRE e dos autos da Lava Jato.

O suplente de deputado estadual Pery Taboreli (PV), em que pese criticar o modo de fazer política da família Campos, em Várzea Grande, também recebeu patrocínio da mesma fonte. Em 27 de outubro de 2014, por meio da campanha do governador, foi agraciado com R$ 20 mil. Sua colega Adriana Vandoni, recém-apeada do cargo de secretária de Combate à Corrupção, foi agraciada com R$ 19.033,52 em 1º de outubro de 2014. E, por fim, a Cervejaria Petrópolis, parceira da Odebrecht, patrocinou o pupilo da família Campos, candidato a deputado estadual Julio Campos Neto, declarou ter recebido R$ 19.431,04, em 4 de outubro de 2014.

Dá ou não vontade louca de desvotar?

Ah, declararam tudo isso à Justiça Eleitoral, que aprovou as contas de campanha. Mais um motivo pra desvotar!

E, quando vemos em Mato Grosso e pelo país afora aqueles que mais gritaram o “Fora Dilma” envolvidos na lista da Odebrecht, fica claro que suas intenções não eram o “combate à corrupção”, mas sim dá um golpe na democracia, retirar direitos dos trabalhadores, tirar dos pobres para entregar aos ricos, entregar nossas riquezas às multinacionais e, de sobra, se safarem dos processos. Com tudo isso, é ou não é para desvotar?

Enfim, em nosso tempo, desvotar pode vir a ser o mais relevante exercício de cidadania, muito mais do que simplesmente votar!

Antonio Cavalcante Filho, cidadão, escreve às sextas feiras neste Blog. E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD News

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